Cultivo de soja no Brasil
avança em áreas de desmatamento.
O cultivo de soja em áreas de
desmatamento recente continua avançando em níveis alarmantes no Brasil,
afetando de forma crítica três biomas e o combate às mudanças climáticas no
país.
Em 2020, 562 mil hectares de
soja foram colhidos em áreas desmatadas ou convertidas nos cinco anos
anteriores, sendo o Cerrado a região mais impactada. Os dados fazem parte de um
estudo realizado pela Trase, plataforma que monitora a exposição de cadeias de
commodities agropecuárias ao desmatamento, em parceria com o Instituto de
Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Segundo o estudo, em 2020 os
campos de soja ocuparam, no Cerrado, mais de 264 mil hectares de terras
recentemente desmatadas e convertidas – uma área equivalente ao dobro da
extensão da cidade de São Paulo. Já nos Pampas, o cultivo do grão em áreas de
desmatamento foi de 196 mil hectares, no mesmo período.
Três dos cinco municípios com
maior conversão de vegetação nativa em cultura de soja se localizam na região
Sul. “Os Pampas vinham sendo uma área pouco estudada até agora. No entanto, os
dados mais recentes do Mapbiomas mostram que o bioma se tornou um dos mais
ameaçados no Brasil, com conversão ativa e acelerada de campos naturais, e é
preciso agir com rapidez para reverter esse quadro”, alerta Vivian Ribeiro,
coordenadora de inteligência espacial da Trase.
Os dados também apontam que a
Amazônia segue sob forte ameaça da expansão do cultivo da commodity, apesar da
proteção fornecida pela Moratória da Soja – acordo firmado entre empresas,
organizações da sociedade civil e do governo que prevê o compromisso de não
adquirir grãos ou financiar safras cultivadas em áreas desmatadas da Amazônia
após julho/2008. Em 2020, 133 mil hectares de soja foram colhidas de áreas
desmatadas após 2008 na Amazônia, em contradição com a Moratória da Soja.
Os dados levantados pela Trase com o Imaflora revelam que a expansão da commodity é concentrada: apenas 13% dos 2.388 municípios produtores de soja representavam, em 2020, 95% da produção do Brasil em terras recentemente desmatadas ou convertidas. “Nossas análises apontam com clareza quais regiões concentram a maior parte da soja com desmatamento e conversão. Essas informações são de grande importância para a implementação de medidas direcionadas para a produção de commodities livres de desmatamento. Produtores rurais, empresas, governos municipais, estaduais e federal precisam se unir para fornecer transparência ampla aos compradores e reguladores de mercados consumidores”, afirma Tiago Reis, coordenador da Trase na América do Sul.
Para Lisandro Inakake de Souza, coordenador de cadeias agropecuárias no Imaflora, a redução da conversão de terras para cultivo de soja é do interesse de toda a cadeia. “Temos a Moratória da Soja como um exemplo de compromisso que pode nortear políticas para todo o país e deveria ser ampliado além do bioma amazônico. Além disso, ainda é preciso avançar em tecnologias e processos, aumentar investimentos em monitoramento e fiscalização, em atuações conjuntas dos setores privado, público e organizações da sociedade civil”.
Como resposta a esse problema, o estudo defende que é preciso criar políticas públicas mais duras. Uma das recomendações é o desenvolvimento de um sistema de rastreabilidade público, universal e totalmente transparente, abrangendo todas as commodities agrícolas produzidas no país.
Ações como essa podem ser
fundamentais para que o Brasil continue ocupando uma posição de destaque no
mundo em exportações de grãos de forma sustentável. A União Europeia está
finalizando um regulamento que exige que as empresas fiscalizem suas cadeias de
suprimentos e comprovem que seus produtos não são provenientes de áreas
desmatadas, mas a regra, como vem sendo elaborada até agora, não prevê
cobertura de todos os biomas brasileiros. “Excluir o Cerrado e os Pampas dessa
regulamentação deixaria algumas das áreas naturais mais biodiversas do Brasil
vulneráveis. Pior ainda, pode aumentar a pressão sobre essas áreas, já que a
regulamentação as declararia ‘liberadas’ para derrubada de vegetação natural”,
alerta Helen Bellfield, diretora da Trase na Global Canopy.
Além da União Europeia, a
China tem papel importante: o país é o maior destino da soja brasileira e
importou em 2020 229 mil hectares de soja com desmatamento, seguido pelo
próprio consumo do Brasil (102 mil ha). A exposição ao desmatamento da soja na
União Europeia é menor, esteve em 29,8 mil ha, em 2020.
Sobre a Trase
A Trase é uma iniciativa de transparência, baseada em dados, que mapeia o comércio e financiamento internacional de commodities que promovem o desmatamento e a conversão nos trópicos.
Sobre o Imaflora
O Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola — Imaflora — é uma associação civil sem fins
lucrativos, criada em 1995, que nasceu sob a premissa de que a melhor forma de
conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica,
associada a boas práticas de manejo e a uma gestão responsável dos recursos
naturais. (ecodebate)
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