A taxa anual de desmatamento
do Cerrado estimada em 2022 foi de 10.689 km², segundo os dados oficiais
divulgados em 14/12/22 pelo PRODES Cerrado, programa de monitoramento do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O número se refere ao período
entre agosto/2021 e julho/2022.
Em 30/11/22 o PRODES já havia
divulgado a estimativa oficial para Amazônia Legal, que mostrou a perda de
11.568 km² em 2022, mantendo o alto patamar das taxas registradas nos anos
anteriores. Agora a conta chegou para o Cerrado.
Além da área desmatada passar
dos 10 mil km², os dados apresentados hoje mostram que em 2022 houve aumento de
25% na devastação do bioma em relação ao ano passado, quando a taxa anual foi
de 8.531,44 km². Esse é o terceiro ano consecutivo de aumento da destruição no
Cerrado, situação nunca vista na série histórica do monitoramento do INPE desde
2000. No governo Bolsonaro, o desmatamento do bioma acumulou uma área de 33.444
km2, mais de 6 vezes a área de Brasília.
“Precisamos mudar a
trajetória do desmatamento do Cerrado urgentemente, depois de 3 anos seguidos
de aumento da destruição. Preservar o bioma é fundamental para manter os regimes
hídricos que irrigam tanto a produção de commodities, como a agricultura
familiar, e enchem reservatórios de hidrelétricas pelo país. Desmatar o Cerrado
é agir contra o agro, contra o combate à fome e a inflação – menos Cerrado
significa alimentos e energia elétrica mais caros”, afirma Edegar de Oliveira
Rosa, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil.
Em 2022, os estados de maior destruição foram os do Matopiba, chegando a 71 % do total desmatado no bioma. O estado do Maranhão lidera o ranking da devastação com 2.833,9 km², 27% do total desmatado no bioma. Em seguida aparecem a Bahia, o Tocantins e o Piauí.
Cerrado pede socorro
O Cerrado tem quase 1 milhão
de km² de vegetação nativa remanescente, quase duas vezes a área da França, e
contempla as savanas tropicais mais biodiversas do mundo, representando mais de
5% da biodiversidade mundial. O bioma é a casa de 25 milhões de pessoas, cerca
de 100 povos indígenas e inúmeras comunidades tradicionais.
No entanto, o Cerrado já
perdeu metade da sua área, e nos últimos anos tem sofrido os efeitos do avanço
acelerado da fronteira agrícola, a maior do mundo, especialmente na região do
Matopiba, com a monocultura de soja e a pecuária. Só que a destruição do bioma
prejudica o próprio agronegócio, pois contribui para o alongamento da estiagem
e o aumento das temperaturas, reduzindo a produtividade e acelerando a crise
climática.
“O Cerrado é a savana mais biodiversa do planeta e abriga as nascentes de oito das doze bacias hidrográficas do Brasil. A expansão da agropecuária foi responsável pela destruição de mais da metade da cobertura original do Cerrado e as áreas remanescentes encontram-se fortemente degradadas e fragmentadas. O resultado disso já tem sido visto — o aumento das temperaturas e da seca nos últimos anos têm sido responsáveis pela redução da produtividade de mais de 20% de soja e de milho no Matopiba, por exemplo”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.
Cadeias livres de desmatamento
No último dia 5 de dezembro,
a União Europeia aprovou uma lei que visa barrar os produtos associados ao
desmatamento. Por enquanto, a lei aprovada trata somente de itens produzidos em
áreas de florestas desmatadas após 31/12/2020. Essas áreas cobrem apenas 26%
dos remanescentes do Cerrado, deixando 74% do bioma desprotegidos. Em um
cenário de destruição assustador, é crucial que a lei europeia inclua com
urgência as áreas de savanas arbóreas na sua próxima revisão. Também, o novo
governo precisa tomar medidas urgentes para conter o desmatamento no bioma,
para que o desmatamento volte a reduzir.
“A tendência é que leis
similares sejam aprovadas em outros países, com debates já avançados no Reino
Unido e EUA, por exemplo. As portas estão se fechando para o desmatamento, e
precisamos enxergar este movimento como uma oportunidade de colocar o Brasil
como referência em produtividade sustentável. O mercado já não aceita a
derrubada de nenhuma árvore sequer, e o Brasil é capaz de mais do que dobrar a
sua produção usando as áreas já desmatadas”, afirma o especialista Frederico
Machado, Líder da Estratégia de Conversão Zero do WWF-Brasil.
As áreas de savanas não
florestais que ainda não estão contempladas no escopo da lei europeia tiveram
uma pressão por desmatamento em 2021 quase duas vezes superior às áreas de
florestas do bioma em valor relativo, e perto de quatro vezes maior em área. No
último ano, quase 5.000 km² foram desmatados somente nesses ecossistemas.
Enquanto evidências de perda de biodiversidade global são publicadas na COP15, a rota de destruição das savanas mais biodiversas do mundo acelera. A maior parte das espécies terrestres do Cerrado ameaçadas de extinção é considerada exclusiva dessas formações nativas não florestais. Um aumento de pressão nas savanas do Cerrado poderia significar precipitar a extinção dessas espécies. É o caso da codorna-mineira (Nothura minor) e do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), que depende das áreas úmidas não florestais do Cerrado e que está entre as 10 aves aquáticas mais ameaçadas do mundo.
Outros biomas
Dados inéditos do Projeto
Biomas (Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros por Satélite – Mata
Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal no Portal Biomas também foram divulgados
pelo INPE. Esses dados referem-se às séries históricas do desmatamento e os
mapas de perda de vegetação nativa nos quatro biomas brasileiros que ainda não
eram objeto de monitoramento anual oficial.
Houve aumento no desmatamento
dos demais biomas entre 2020 e 2021, menos a Caatinga. No Pantanal a destruição
subiu de 678 para 825 km²; no Pampa foi pior: de 888 para 1.526 km². Já na Mata
Atlântica, o desmatamento saltou de 791 para 927 km² Na Caatinga, a área foi de
2.225 para 2.096 km².
Até 2021, 41% da vegetação
natural do Brasil foi perdida (3.052.247 km2). Em 2021, essa perda
aumentou 14,2% em relação à 2020, com 26.093 km2 desmatados, o que
equivale a mais de três vezes a área da região metropolitana de São Paulo.
Esses dados poderão apoiar o novo governo na condução e fortalecimento de políticas públicas voltadas à preservação da vegetação nativa, da biodiversidade e do equilíbrio climático.
Os mapeamentos basearam-se na metodologia do PRODES, cobriram mais de 2,2 milhões de km² e contemplaram o período de 2000 a 2021. É prevista a continuação do monitoramento anual do desmatamento em todos os biomas brasileiros. (ecodebate)
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