• Estudo é o primeiro a medir
os riscos de saúde globalmente aumentados devido ao aquecimento global
histórico
• Países tropicais estão
entre os mais vulneráveis
Uma equipe internacional de
pesquisadores quantificou como as mortes relacionadas ao calor são atribuíveis
ao aquecimento global, sendo a América Latina e o Sudeste Asiático os mais
atingidos.
Ana Maria Vicedo-Cabrera,
principal autora e chefe do Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Saúde do
Instituto de Medicina Social e Preventiva da Universidade de Berna, diz que em
43 países uma média de 37% das mortes relacionadas ao calor na estação quente
podem ser atribuído à mudança climática antropogênica.
O aumento da mortalidade foi
evidente em todos os continentes, sendo o mais alto na América Central e do Sul
(até 76% no Equador e na Colômbia) e no Sudeste Asiático (até 61%).
Usando dados empíricos
coletados em 732 locais, os pesquisadores estimaram as cargas de mortalidade
associadas à exposição adicional ao calor resultante do aquecimento induzido
pelo homem de 1991 a 2018.
O estudo de duas etapas, liderado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e pela Universidade de Berna, na Suíça, foi publicado na Nature Climate Change.
Aquecimento global já é responsável por uma em cada três mortes relacionadas ao calor.
Entre 1991 e 2018, mais de ⅓ de todas as mortes em que o calor desempenhou um papel foram atribuídos ao aquecimento global induzido pelo homem.
Na primeira etapa, técnicas
de regressão de séries temporais foram usadas para observar temperatura e
mortalidade, com dados coletados por meio da Rede de Pesquisa Colaborativa
Multi-Country Multi-City (MCC) – um grande consórcio de dados meteorológicos e
de saúde.
Na segunda etapa, os
pesquisadores usaram a resposta de exposição estimada (resposta a uma condição
ambiental em um determinado momento) para calcular a mortalidade relacionada ao
calor para cada local durante o período de 27 anos.
“Já realizamos pesquisas
sobre os impactos do calor, tanto no momento atual quanto nas projeções
futuras. No entanto, nesta análise, decidimos ir além e quantificar a
porcentagem da carga histórica que pode ser atribuída diretamente à mudança
climática induzida pelo homem”, diz Vicedo-Cabrera.
Ela acrescenta: “Encontramos
maiores porcentagens de contribuição das mudanças climáticas induzidas pelo
homem em países da América do Sul/Central e Oeste/Sudeste Asiático – esses
países sofreram um aumento maior na temperatura e também se mostraram mais
vulneráveis”.
“Encontramos maiores
porcentagens de contribuição da mudança climática induzida pelo homem em países
da América do Sul/Central e Oeste/Sudeste Asiático – esses países sofreram um
aumento maior na temperatura e também se mostraram mais vulneráveis.”
Ana Maria Vicedo-Cabrera,
Universidade de Berna
“Nossas descobertas apoiam a necessidade urgente de estratégias de mitigação e adaptação mais ambiciosas para minimizar os impactos da mudança climática na saúde pública”, enfatiza ela.
Até 74% da população estará exposta a ondas de calor fatais até 2100
Mesmo que haja redução
drástica na emissão de poluentes do ar até o final do século, 48% da população
ainda estará em risco, diz estudo.
Antonio Gasparrini, professor
da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e autor sênior da MCC
Network, diz ao SciDev.Net que os sinais ambientais e ecológicos negativos das
mudanças climáticas já estão bem evidenciados. “O aumento de eventos climáticos
extremos, o derretimento das calotas polares e o aumento do nível do mar ou o
branqueamento de corais têm sido frequentemente relatados e relacionados ao aquecimento
global”, diz ele.
Em contrapartida, acrescenta, “a maioria dos estudos científicos que avaliam os efeitos das alterações climáticas na saúde humana centram-se nos impactos futuros projetados no futuro. Este é um dos poucos estudos — o primeiro de abrangência global — que mede o aumento dos riscos à saúde decorrentes das mudanças climáticas no período histórico, e a mensagem é clara: as mudanças climáticas não terão apenas impactos devastadores no futuro, mas todos os continentes estão já experimentando as terríveis consequências das atividades humanas em nosso planeta”.
Aaron Bernstein, diretor interino do Centro de Clima, Saúde e Meio Ambiente Global da Harvard TH Chan School of Public Health , observa que os mais pobres, especialmente os das nações tropicais, são os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
“Sabíamos que o calor extremo
resulta em morte prematura. Isso nos mostrou – em escala global – o quanto a
mudança climática aumentou o risco de morte por calor”, diz ele. “Onde as
pessoas morrem de calor tem muito a ver com o quanto elas podem pagar para se
protegerem dele. Os resultados na Ásia, no sul da Europa e no Sul global deixam
claro que os riscos climáticos para a saúde estão ocorrendo em lugares que
historicamente tiveram pouco a ver com as mudanças climáticas”.
Bernstein diz que o estudo sugere que o risco de morte por calor devido às mudanças climáticas aumentou mais de ⅓ em quase 30 anos. “Para garantir que essa tendência não continue, devemos cumprir as metas científicas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e retirar os combustíveis fósseis de nossas economias. Também precisamos fazer muito mais para manter as pessoas protegidas do calor”, acrescenta.-Cabrera conclui: “Nossas descobertas sugerem que estratégias de mitigação mais ambiciosas e medidas de adaptação eficientes são urgentemente necessárias para atenuar os impactos futuros das mudanças climáticas”.
Os pesquisadores reconheceram limitações em seu trabalho, como a incapacidade de incluir grandes partes da África e do sul da Ásia, devido à falta de dados empíricos. (ecodebate)





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