quinta-feira, 27 de abril de 2023

A população do Iraque e do Irã de 1950 a 2100

Com o novo cenário econômico e político do Oriente Médio e com o avanço da transição demográfica o Iraque e o Irã podem retomar o caminho do desenvolvimento humano e garantir maior estabilidade na região

O Iraque e o Irã são dois países vizinhos e já foram berços de grandes civilizações. A Mesopotâmia e a Persa deram grandes contribuições para a humanidade. Mas a relação entre os dois países oscilou entre aliança e cooperação e também de divergências e conflitos. Em 2023 se completa 43 anos do início da guerra Irã x Iraque e 20 anos desde a invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, eventos que desencadearam uma violenta instabilidade no país e em todo o Oriente Médio. O Iraque vive duas décadas de crises e retrocessos e atrasou a transição demográfica em relação ao Irã.

Em 1950, a população do Iraque era de 5,7 milhões de habitantes e a população do Irã, três vezes maior, era de 16,8 milhões. No ano 2000, a população do Iraque passou para 24,6 milhões e do Irã passou para 65,5 milhões de habitantes (2,7 vezes maior). Em 2022, os números foram 44,5 milhões e 88,6 milhões (2 vezes maior). Nota-se que a população iraniana começará a decrescer a partir de 2053. Para o ano de 2071 está previsto que o Iraque com 94,3 milhões de habitantes ultrapasse o Irã com 93,8 milhões de habitantes. Em 2100, a Divisão de População da ONU projeta (na hipótese média) uma população de 111,5 milhões de pessoas no Iraque e 79,9 milhões de pessoas no Irã, conforme o gráfico abaixo.

O Iraque tem uma área de 438,3 mil km2 e tinha uma densidade demográfica de 13 habitantes por km2 em 1950. O Irã tem uma área de 1,6 milhão de km2 e tinha uma densidade demográfica de 10 habitantes por km2 em 1950. Em 2022, os números passaram para 102,5 hab/km2 no Iraque e de 54,4 hab/km2 no Irã. Em 2100, as projeções indicam uma densidade de 256,8 hab/km2 no Iraque e de 49,1 hab/km2 no Irã, conforme o gráfico abaixo. Os dois países tinham aproximadamente a mesma densidade demográfica em meados do século passado, mas o Iraque terá uma densidade 5 vezes maior em 2100. A alta densidade do Iraque é agravada por amplas áreas desérticas e pela escassez de água.

O Iraque e o Irã possuíam Taxas de Fecundidade Total (TFT) acima de 6 filhos por mulher entre 1950 e 1985 e começaram uma transição tardia na década de 1980. A queda da TFT iraquiana tem sido lenta e atualmente ainda está acima de 3 filhos por mulher. Por isto, a população iraquiana continua crescendo em ritmo acelerado e deve ultrapassar o montante de pessoas do Irã. O nível de reposição será alcançado somente no final do atual século, conforme mostra o gráfico abaixo.

Já o Irã – depois da revolução islâmica no final da década de 1970 e da guerra com o Iraque no início da década de 1980 – promoveu uma das transições mais rápidas da fecundidade, passando de 6,53 filhos no quinquênio 1980-85 para 1,97 filhos no quinquênio 2000-05. Ou seja, a TFT que estava acima de 6 filhos caiu para menos de 2 filhos em menos de 20 anos (uma diminuição de 4,56 filhos na TFT em 4 quinquênios). Ainda na época do aiatolá Khomeini se adotou medidas de universalização da saúde reprodutiva, o que possibilitou a grande queda no número médio de filhos. No quinquênio 2010-15 houve uma tentativa de implementar políticas pronatalistas, mas que tiveram fôlego curto e a TFT continua abaixo do nível de reposição. Por conta da baixa fecundidade, a população iraniana vai diminuir na segunda metade do atual século.

A expectativa de vida ao nascer era de 40 anos no Irã e no Iraque em 1950. Nas 3 décadas seguintes a expectativa de vida cresceu mais rapidamente no Iraque. Mas depois da guerra entre os dois países, o ritmo da expectativa de vida foi mais acelerado no Irã. Para 2100, estima-se uma expectativa de vida de 90 anos no Irã e de pouco mais de 80 anos no Iraque, conforme mostra o gráfico abaixo.

A transição demográfica (queda nas taxas de natalidade e mortalidade) provoca, no longo prazo, uma mudança da estrutura etária e o envelhecimento da população. O gráfico abaixo mostra que o Iraque e o Irã tinham uma idade mediana abaixo de 20 anos na segunda metade do século passado. Isto quer dizer que mais da metade da população tinha menos de 20 anos. Mas esta situação está mudando no século XXI. A Idade mediana no Iraque vai passar de menos de 20 anos para quase 40 anos em 2100. Já no Irã a idade mediana vai ultrapassar 50 anos em 2100.

As mudanças nas estruturas etárias podem ser vistas nas pirâmides populacionais abaixo. Nota-se que os 2 países tinham uma estrutura etária jovem em 1950. Mas, em 2023, o Irã já apresenta uma pirâmide que reflete a queda da fecundidade entre 1985 e 2010 e uma subida da fecundidade na década passada e uma nova queda nos últimos anos, especialmente no período da pandemia da covid-19. O Iraque tem uma pirâmide que envelhece de maneira lenta.

A rápida redução da fecundidade no Irã tem contribuído para o aproveitamento do bônus demográfico e para o avanço do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O gráfico abaixo mostra que o Brasil tinha um maior IDH em 1990, se manteve na frente do Iraque, mas foi ultrapassado pelo Irã. Em termos ambientais o Brasil tem superávit ecológico enquanto o Iraque e o Irã possuem déficits ecológicos, com baixa Biocapacidade e alta Pegada Ecológica.

O Iraque não se recuperou depois da invasão do país por meio de uma operação militar liderada pelos Estados Unidos, em 2003, que derrubou o governo do então ditador Saddam Hussein. O Irã, por outro lado tem enfrentado sanções comerciais que foram impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pelos governos dos Estados Unidos, União Europeia e outros países. Elas têm afetado a economia iraniana, resultando em uma queda na produção de petróleo e uma depreciação significativa da moeda iraniana. O Brasil, mesmo não estando envolvido em guerras, tem apresentado um IDH menor do que o do Irã.

O Oriente Médio fica localizado na Eurásia em meio dos interesses e objetivos do Ocidente e do Leste Asiático e é um território estratégico na perspectiva geopolítica global. Como mostrei no artigo “O ‘quadrante mágico’ (RICI) que desafia os EUA e o Ocidente” (Alves, Ecodebate, 20/03/2017), a China, com a iniciativa “Um cinturão uma Rota”, busca unir Índia, Rússia e Irã e a Eurásia na tentativa de criar a maior faixa continental de uma economia multimilionária, para se contrapor à hegemonia americana.

Março/2023, em um ato diplomático espetacular, a China mediou uma reaproximação entre a Arábia Saudita e o Irã, diminuindo a influência e o domínio dos Estados Unidos no Golfo e no Oriente Médio. A retomada dos laços diplomáticos entre Riad e Teerã representa um esforço da China para moldar o mundo em sua órbita. No mesmo sentido, a visita do presidente chinês Xi Jinping ao seu colega russo, Vladimir Putin, buscou reforçar os laços diplomáticos para tratar das relações comerciais entre os dois vizinhos e também abordar uma saída diplomática para a guerra na Ucrânia. A China declarou nos últimos anos que pretende participar da criação de uma nova ordem mundial. Agora deu alguns passos significativos nessa direção, especialmente na Eurásia.

Neste cenário, a situação do Iraque pode ser afetada pelo novo arco de alianças e de relações diplomáticas. Em termos populacionais, o Irã está mais avançado do que o Iraque na transição demográfica. A redução das taxas de mortalidade e natalidade é essencial para o desenvolvimento humano. O Irã elevou o seu IDH exatamente quando avançou na transição da fecundidade e o Iraque ficou para trás, entre outros fatores, porque não avançou na transição demográfica.

Revisão população Iraque 2100

A relação entre economia e demografia, muitas vezes é negligenciada nas ciências sociais. Porém, dois livros recentes mostram que a transição demográfica foi e é fundamental para a elevação da renda per capita e o bem-estar humano. Os autores Galor (2017) e De Long (2022) mostram que não existia aumento permanente e significativo da renda per capita antes da Revolução Industrial e Energética do final do século XVIII. Eles argumentam que durante a maior parte da existência do Homo sapiens as sociedades viveram no que se define como estagnação malthusiana. Em mais de 200 mil anos, os avanços na produtividade econômica eram convertidos em mais pessoas em vez de promover melhores padrões de vida.

Mas a modernidade urbano-industrial mudou isto, pois os avanços na produtividade e da renda foram reforçados pela transição demográfica, quando o número de nascimentos caiu e a expectativa de vida aumentou. Isto possibilitou avanços na educação e no “capital humano”, possibilitando ganhos continuados de produtividade e ocupação no mercado de trabalho, com avanços macroeconômicos sendo acompanhados de avanços microeconômicos e melhoria no bem-estar dos indivíduos e das famílias. Há uma sinergia entre o desenvolvimento e a dinâmica populacional, pois o aproveitamento do 1º bônus demográfico cria um círculo virtuoso, já que o aumento da produtividade econômica reduz o tamanho da prole e o menor tamanho das famílias facilita o maior investimento na qualidade de vida das crianças.

Previsão população Irã 2100

Em síntese, com o novo cenário econômico e político do Oriente Médio e com o avanço da transição demográfica o Iraque e o Irã podem retomar o caminho do desenvolvimento humano e garantir maior estabilidade na região e, consequentemente, maior estabilidade e progresso para o mundo. Mas além das questões econômicas, demográficas e políticas, o Iraque e o Irã terão que enfrentar também a crise climática e ambiental. Portanto, são múltiplos os desafios e a primeira tarefa é garantir paz na região e no mundo. (ecodebate)

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