“Estamos na autoestrada rumo
ao inferno climático e com o pé no acelerador” - António Guterres, 2022.
A concentração de CO2
na atmosfera atingiu 421 partes por milhão (ppm) em maio/2022 e deu um pulo um
ano depois, estabelecendo um novo recorde global no mês de maio/2023, com 424
ppm, de acordo com dados da National Oceanic & Atmospheric Administration
(NOAA). É importante destacar que existem variações sazonais, com um pico
geralmente em maio e um vale em setembro, sendo que durante alguns dias de
abril e maio de 2023, a concentração chegou a se aproximar de 425 ppm.
Gráfico abaixo ilustra aumento ocorrido no último ano, revelando um ritmo impressionante de escalada. Essa tendência é preocupante, uma vez que o mundo precisa reduzir a concentração de CO2, e não vê-la aumentar em 3 ppm ao longo de apenas 12 meses.
Durante o ano, a concentração de CO2 segue um padrão sazonal, com pico (valor máximo) nos meses de maio e vale (valor mínimo) no mês de setembro. O limiar de 400 ppm foi atingido em maio de 2013. Em 2015, a marca das 400 ppm foi ultrapassada em 8 dos 12 meses. Na média anual, 2015 atingiu a cifra de 400 ppm e o de 2016 foi o primeiro a ultrapassar a marca de 400 ppm em todos os meses. Portanto, a concentração continuou subindo mesmo após a assinatura do Acordo de Paris.
Na última era glacial a concentração de CO2 na atmosfera estava abaixo de 200 partes por milhão. Nos últimos 800 mil anos, a concentração de CO2 ficou sistematicamente abaixo de 280 ppm, conforme mostra o gráfico abaixo da NOAA. Em 1950 chegou a 300 ppm e, na época da primeira grande conferência sobre o meio ambiente, a Conferência de Estocolmo, em 1972, a concentração de CO2 na atmosfera já havia passado para 327 ppm. Em 1987 a concentração chegou a 350 ppm. Este é o nível máximo recomendado pela ciência para evitar um possível aquecimento global catastrófico. Porém, a máquina econômica de emissão não sofreu interrupção. Em 2015, quando houve o Acordo de Paris, a concentração de CO2 já havia ultrapassado 400 ppm e, a despeito de todas as metas de redução, a concentração de CO2 chegou a 424 ppm em maio/2023.
O dramático é que o efeito estufa está se agravando. Artigo de Gavin L. Foster e colegas, publicado na Nature Communications (04/04/2016) mostra que o mundo caminha para um aquecimento potencial sem precedentes em milhões de anos. Os atuais níveis de dióxido de carbono são inéditos na história humana e estão no caminho inexorável para subir às alturas. Se as emissões de carbono continuarem em sua trajetória atual, a atmosfera poderia atingir um estado não visto em 50 milhões de anos. Naquela época, as temperaturas globais eram até 10°C mais quentes e os oceanos eram dramaticamente mais altos do que hoje. A pesquisa que originou o artigo compilou 1.500 estimativas de dióxido de carbono para criar uma visão que se estende por 420 milhões de anos, conforme mostra o gráfico abaixo.
O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato de os últimos 9 anos (2014 a 2022) terem sido os mais quentes já registrados no Holoceno. O Instituto Berkeley Earth, da Universidade de Berkeley, da Califórnia, diz que cresce a chance de 2023 ser o ano mais quente do planeta na era observacional, já que o maior aquecimento nos próximos meses será influenciado pelo aparecimento do evento El Niño. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório, em maio/2023, confirmando que há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar o limite de 1,5°C entre 2023 e 2027. Como disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres: “Estamos na autoestrada rumo ao inferno climático e com o pé no acelerador”.
O estudo “Satellites reveal
widespread decline in global lake water storage”, publicado na revista Science
(Fangfang Yao et al, 18/05/2023), afirma que mais da metade dos maiores lagos e
reservatórios do mundo estão secando devido ao aquecimento global e à maior
demanda populacional, pondo em risco a segurança hídrica da humanidade.
O trabalho “Safe and just
Earth system boundaries”, publicado por Johan Rockström e colegas (Nature,
31/05/2023) mostra que o mundo já ultrapassou 7 das 8 fronteiras planetárias, o
que deve resultar em danos significativos para dezenas de milhões de pessoas
devido às mudanças climáticas. Além disso, o texto ressalta a necessidade
urgente de estabelecer metas globais que abranjam não apenas as mudanças
climáticas, mas também outros sistemas e processos biofísicos que determinam a
habitabilidade do planeta.
Artigo de Piers Forster e
colegas, publicado na revista Earth System Science Data (08/06/2023), mostra
que as emissões de gases de efeito estufa atingiram um recorde histórico,
ameaçando levar o mundo a níveis “sem precedentes” de aquecimento global. O
mundo está rapidamente ficando sem “orçamento de carbono”, a quantidade de
dióxido de carbono que pode ser despejada na atmosfera se quisermos ficar
dentro do limite vital de 1,5°C acima das temperaturas pré-industriais.
Segundo os autores, apenas cerca de 250 bilhões de toneladas de dióxido de carbono podem agora ser emitidas, para evitar o acúmulo de CO2 na atmosfera que elevaria as temperaturas em 1,5°C. Isso está abaixo dos 500 bilhões de toneladas de apenas alguns anos atrás, e nas atuais taxas anuais de emissões de gases de efeito estufa, de cerca de 54 bilhões de toneladas por ano na última década, acabaria bem antes do final da atual década.
O CO2 atmosférico já é 50% superior ao nível pré-industrial.
Artigo de Yeon-Hee Kim e colegas, publicado na revista Nature Communications (06/06/2023), mostra que, mesmo com mudanças dramáticas nas emissões de gases de efeito estufa, o gelo marinho no Ártico está condenado a desaparecer no verão. Os pesquisadores preveem que o primeiro verão sem gelo marinho do Ártico acontecerá na década de 2030, cerca de uma década antes do estimado anteriormente. (ecodebate)





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