A culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente um olhar
mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde por trás
de uma tragédia.
O mundo inteiro sofre com tragédias causadas por eventos
climáticos como furacões, tempestades, terremotos e tantos outros, porém, na
grande maioria dos países, essas tragédias normalmente não causam nada além de
prejuízos materiais. Já no Brasil, tragédias como a que ocorreu em Petrópolis
causam centenas de mortos, em sua maioria de cidadãos pobres que habitam em
áreas de risco.
Logicamente, a culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente
um olhar mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde
por trás de uma tragédia aparentemente “natural” e, mais do que isso, para a
falta de políticas públicas e incompetência dos governos municipais, estaduais
e federal para impedir que isso ocorra.
Tudo começa por falta de políticas públicas que deveriam abranger a geração de emprego e renda, projetos habitacionais, educacionais, de saúde e de melhoria dos transportes, e por isso famílias pobres ocupam ilegalmente áreas de risco para construírem suas habitações.
Nova pesquisa sugere que o aquecimento global aumentou a desigualdade social ao reduzir o crescimento de países de clima quente, como Índia, Brasil e Nigéria, enquanto países desenvolvidos, como Noruega e Suécia, ficaram ainda mais ricos.
Isso mesmo, geralmente as favelas se formam para que o trabalhador
e suas famílias possam ficar mais próximos dos locais de trabalho e dos
serviços públicos essenciais que lhe são negados nas áreas mais distantes, deixando
exposto o primeiro erro da administração pública, que é a ausência total de
políticas públicas sérias que possam reverter este fenômeno.
Depois, o gestor público comete o crime de omissão, pois não
cumpre o seu papel de fiscalização impedindo tais ocupações de acontecerem,
permitindo a criação dessas comunidades em áreas de alto risco, sabendo que,
mais cedo ou mais tarde, uma tragédia acontecerá, porém “desde que a tragédia
ocorra no governo de seu sucessor” isso não é um problema para ser pensado agora.
E assim, entra mandato, sai mandato e as comunidades vão crescendo
em velocidades alucinantes, sem ordenação, sem saneamento básico, sem um plano
de prevenção e controle de catástrofes e sem medidas que poderiam minimizar os
efeitos dos eventos climáticos.
Infelizmente, até hoje no Brasil inexistem dispositivos legais
para que o judiciário possa penalizar a administração pública por tais
tragédias e pelos mortos, ressarcindo as suas famílias e obrigando os gestores
a promover a realocação dessas comunidades para locais seguros, e logicamente
tais dispositivos inexistem porque os políticos sequer apresentam ou aprovam
leis capazes de punir a si próprios pela omissão, descaso e morte de cidadãos.
Todos esses fatores fazem com que a verdadeira tragédia no Brasil seja ser pobre e privado dos serviços básicos, ser invisível aos olhos dos políticos, que somente visitam essas áreas em busca de votos a cada dois anos, sempre com falsas promessas e que se escondem em seus gabinetes quando a tragédia ocorre.
Vilarejo nas Filipinas atingido por tufão em novembro de 2020.
E de tragédia em tragédia vamos escrevendo essas cruéis páginas de
sangue, dor e sofrimento na história de nosso país. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário