É o que revelou um
estudo publicado em agosto deste ano no Journal of Community Epidemiology and
Health.
O impacto de longos
períodos sob altas temperaturas foi diretamente associado ao declínio cognitivo
dessa faixa da população. O achado é mais um fator de preocupação pelas mudanças
climáticas que atingem todo o planeta.
Sob a perspectiva
médica, o neurologista David Tanne, diretor do Instituto de AVC e Cognição e do
Centro de Ensino para AVC do Rambam Health Care Campus, em Haifa, Israel, e
presidente da Associação Neurológica de Israel, explica: “a literatura médica
descreve como o calor extremo aumenta o risco de comprometimento cognitivo e
até mesmo de acidente vascular cerebral. Esse declínio cognitivo, semelhante à
doença de Alzheimer, já foi observado em ratos de laboratório”.
“Quando as
temperaturas externas são altas, a qualidade do sono, crítica para as funções
saudáveis do sistema corporal e da estrutura cerebral, é afetada
negativamente. O declínio cognitivo, então, pode não se manifestar
imediatamente, mas exposições repetidas ou prolongadas ao calor extremo podem
ser prejudiciais, desencadeando uma série de eventos no cérebro, os quais podem
esgotar a reserva cognitiva”, destaca Tanne.
O especialista do Rambam, hospital referência em Israel, reforça que “ainda são necessárias mais pesquisas de modo que possamos compreender melhor os efeitos nocivos à saúde da exposição ao calor intenso em longo prazo, mas que os achados até aqui demonstram um sinal adicional de alerta à saúde, com mais essa consequência direta das mudanças climáticas que o mundo tem vivido”.
Calor extremo pode causar danos à saúde cognitiva, diz estudo.
Estudo recente
mostrou que a exposição prolongada ao calor intenso pode causar declínio
cognitivo em idosos semelhante à demência.
Calor intenso no
Brasil
Nesta semana,
meteorologistas avisam que o Brasil deve bater recordes históricos de
temperatura máxima, com termômetros em várias regiões do Brasil alcançando e
até passando dos 40°C. Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem
enfrentar um calor ainda mais intenso, com previsões de 43°C e 45°C nos
próximos dias. O calor intenso é uma das consequências do aquecimento das águas
do Oceano Pacífico, fenômeno chamado de El Niño, que tem ganhado cada vez mais
força, mostrando já no início da primavera como os brasileiros enfrentarão a
estação mais quente do ano, a partir de dezembro.
A ocorrência de
eventos extremos de temperatura no país, inclusive, está cada vez mais
recorrente. Um estudo recente conduzido por pesquisadores do Instituto do Mar,
da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), com o apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostrou que toda a costa
brasileira já está sofrendo algum impacto das mudanças climáticas em relação à
temperatura do ar, com os litorais das regiões Sudeste e Sul sendo mais
impactadas do que das regiões Norte e Nordeste.
A pesquisa identificou que, nos litorais de RS, SP e ES, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor, caracterizada por dias consecutivos de extremos máximos de temperatura, tem aumentado ao longo do tempo. Nos últimos 40 anos, a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase dobrou em SP (84%), dobrou no RS (100%) e quase triplicou no ES (188%). O número de eventos por ano é variável, dependendo de condições específicas como pelos fenômenos La Niña e o El Niño, responsável pela onda de calor que o país terá nesta semana.
Pesquisa mostra que calor extremo pode fazer a pessoa “perder a cabeça”.
Estudo comprova
efeitos negativos das altas temperaturas na saúde do cérebro.
Para Ronaldo
Christofoletti, professor do IMar/Unifesp e coordenador da pesquisa,”o aumento
de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade em todo o mundo,
que vão desde o desconforto térmico até o aumento de incêndios florestais,
problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos,
especialmente, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estudos
recentes demonstram um aumento de quase 70% na mortalidade de idosos devido ao
calor intenso, algo visto recentemente em países como Espanha, Canadá e
Portugal”, conclui o docente. (ecodebate)
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