O IBGE divulgou as
informações da população brasileira para todos os municípios do país,
detalhando os dados por sexo e idade, apurados pelo censo demográfico de 2022.
O censo demográfico é a única pesquisa planejada para visitar todos os
domicílios brasileiros, possibilitando traçar um panorama detalhado das
características sociodemográficas e espaciais de todo o território nacional.
Estes dados são fundamentais para a formulação das políticas públicas e para as
decisões de investimento da iniciativa privada.
Como já era sabido e
esperado, os dados do censo demográfico de 2022 mostraram que a estrutura
etária brasileira está em rápida transformação, com a diminuição do número de
crianças, adolescentes e jovens, uma desaceleração do crescimento da população
adulta em idade considerada ativa (15-59 anos) e uma aceleração do aumento da
população idosa de 60 anos e mais de idade.
A população brasileira total
era de 93,1 milhões de habitantes em 1970 e passou para 203,08 milhões em 2022,
aumentando 2,2 vezes no período. A população de crianças e adolescentes, de 0 a
14 anos, passou de 39,1 milhões em 1970 para 40,1 milhões em 2022, ficando
praticamente do mesmo tamanho. Mas a população idosa deu um salto.
O gráfico abaixo mostra que a população idosa (60 anos e +) no Brasil era de 4,8 milhões de pessoas em 1970, passou de 10 milhões em 1991, ultrapassou 20 milhões em 2010 e chegou a 32,1 milhões de pessoas em 2022. Houve um aumento de 6,6 vezes entre 1970 e 2022. Portanto, o Brasil está envelhecendo e envelhecendo de forma inexorável e em ritmo acelerado.
O gráfico abaixo mostra o número de idosos brasileiros de 80 anos e mais de idade, que era de 451 mil indivíduos, passou para 2,9 milhões em 2010 e chegou a 4,6 milhões de indivíduos em 2022, decuplicando entre 1970 e 2022. O crescimento mais rápido do topo da pirâmide etária mostra que o Brasil não só está envelhecendo, como está tendo um processo de envelhecimento do envelhecimento, como mostrei no artigo “O envelhecimento do envelhecimento no Brasil e no mundo” (Alves, 30/08/2022).
O gráfico abaixo mostra a percentagem da população brasileira a partir de 3 grupos: jovens (0-14 anos), adultos (15-59 anos) e idosos (60 anos e mais de idade), com base nos dados dos censos demográficos do IBGE. Nota-se que o percentual de jovens diminui aproximadamente pela metade, passando de 42% em 1970 para 19,8% em 2022. O grupo considerado em idade produtiva (15-59 anos) aumentou de 52,7% em 1970 para 65,1% em 2010 e diminuiu para 64,4% em 2022. Já o grupo de idosos (60 anos e +) passou de 5,1% em 1970 para 15,8% em 2022. Portanto, os idosos foram o único grupo que aumentou sua participação na população total no último período intercensitário.
A redução relativa do grupo etário 15 a 59 anos nos últimos 12 anos, indica que o 1º bônus demográfico já ultrapassou o auge do momento mais favorável da transição demográfica e que a janela de oportunidade já começou a se fechar e a proporção de “produtores efetivos” deve diminuir em relação aos “consumidores efetivos”. Mas o fim do 1º bônus demográfico não é o fim do mundo.
Evidentemente, é preciso
estar atento para a possibilidade de o Brasil envelhecer antes de enriquecer e
ficar eternamente preso na armadilha da renda média. Sem dúvida, o país precisa
dobrar a renda per capita e galgar melhores posições no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH).
De fato, o envelhecimento populacional traz desafios, mas também traz oportunidades. O Brasil ainda pode contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade), uma vez que a redução do volume de trabalhadores pode ser compensada por trabalhadores mais produtivos se houver investimentos adequados na saúde, educação, infraestrutura, comunicação, ciência e tecnologia, etc.
Brasil caminha para ser uma nação de idosos: envelhecimento acelerado é grande desafio para maioria dos gestores públicos.
O rápido envelhecimento da
população brasileira é um enorme desafio para os gestores públicos.
O
Brasil pode contar ainda com o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade). O
aumento do volume e da proporção de idosos pode ter efeitos benéficos para a
economia se o país contar com o envelhecimento saudável e ativo, uma vez que o
grande contingente de pessoas da terceira idade deve ser encarado como um ativo
e não com um passivo, como mostrei no artigo “O 3º bônus demográfico e o
direito ao trabalho da população idosa” (Alves, 25/07/2023).
Os países ricos e com elevado
IDH possuem uma estrutura etária envelhecida, como mostrei no artigo “Como os
países podem enriquecer e envelhecer ao mesmo tempo” (Alves, 18/10/2023).
Maturidade econômica e demográfica andam juntas. Os países que apresentaram
avanço do IDH fizeram isto juntamente ao avanço da transição demográfica e,
conjuntamente, ao processo de envelhecimento populacional.
Além de ficar mais idoso, o
Brasil está ficando mais feminino e isto pode ser um trunfo para alavancar o
desenvolvimento nacional. O Brasil teve maioria de homens na população durante
a maior parte de sua história. O gráfico abaixo mostra que havia 317,3 mil
homens a mais que mulheres no primeiro censo realizado em 1872. Este superávit
permaneceu nas décadas seguintes e era de 252 mil homens em 1920. Em 1930 não
houve censo. Em 1940 houve virtualmente um empate.
Mas partir de 1950 o superávit feminino aumentou e ultrapassou 6 milhões de pessoas em 2022. As mulheres possuem maiores níveis de escolaridade em relação aos homens e foram fundamentais para o bônus demográfico, que é fundamentalmente feminino no Brasil.
O Brasil está ficando mais idoso e mais feminino. Não cabe demonizar a dinâmica demográfica brasileira. O Brasil ficou cerca de 500 anos com uma estrutura etária jovem. Nos anos 2000, a história será diferente, pois serão “outros quinhentos”.
O Brasil vai continuar envelhecendo no século XXI e continuará envelhecido nos séculos seguintes. O que precisa mudar é a mentalidade daquelas pessoas que enxergam os idosos como um óbice ao invés de reconhecer as potencialidades da população da terceira idade. (ecodebate)
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