Em Berlim, há um total de
1,24 milhão de carros registrados – e o número vem aumentando continuamente nos
últimos anos. Mesmo com cada vez mais carros elétricos em circulação – há mais
de 24 mil na capital alemã –, o problema do desgaste dos pneus não deve
diminuir tão cedo. Como geralmente são mais pesados, os carros elétricos acabam
gerando ainda mais abrasão.
Centenas de milhares de
toneladas de microplásticos
Foi com o intuito de medir
poluentes como esse que surgiu a empresa Emission Analytics. “A cada ano,
diminui a quantidade [de poluentes] que sai do escapamento [dos carros], e
aumenta a quantidade que sai dos pneus, pois os veículos estão ficando mais
pesados”, disse Nick Molden, fundador da Emission Analytics, em entrevista à
DW.
Cerca de 500 mil toneladas de microplásticos são liberadas no meio ambiente todos os anos devido à abrasão de pneus. Cada vez que freamos, aceleramos e seguimos adiante, um pneu perde matéria, liberando em sua vida útil cerca de quatro quilos de microplásticos.
Mas e então, o que nos resta a fazer?
Assista ao vídeo relacionado:
Não compre pneu produzido em 2020! https://www.youtube.com/watch?v=eLCttxIukw0
“Não se trata de tentar
minimizar [o problema] ou de mantê-lo sob controle. O problema está aí e também
está claro que a abrasão é inevitável. Hoje em dia, existe um consenso de que
não se pode resolver isso sozinho”, afirma Daniel Venghaus, cientista da
Universidade Técnica (TU) de Berlim que pesquisa formas de reduzir a abrasão
com o projeto Urbanfilter. O problema, aponta, só pode ser resolvido através de
uma cooperação estreita entre a ciência, a pesquisa e a indústria – que, para
Venghaus, teria o dever de reduzir a abrasão.
Os serviços de saneamento
básico, bem como de planejamento de tráfego urbano, também desempenham um papel
importante. Em última análise, até mesmo indivíduos podem contribuir ao dirigir
de forma mais defensiva ou até mesmo ao optar pelo ônibus ou trem em vez do
carro.
Pneu sem abrasão – uma
realidade distante
A fabricante de pneus
Michelin tem buscado soluções para o problema na medida em que desenvolve pneus
mais duráveis. Segundo Cyrille Roget, diretor científico e de comunicação da
empresa, isso reduziria em média 5% do desgaste. “Mas ainda não descobrimos
como fabricar um pneu que seja seguro e durável e ao mesmo tempo não cause
emissões de partículas”, disse em entrevista à DW. O objetivo atual,
acrescentou Roget, é encontrar materiais renováveis ou mesmo reciclados para
substituir os aditivos químicos nos pneus.
Um pneu de carro é feito de
borracha sintética, preenchimento e aditivos químicos. O aditivo 6PPD, por
exemplo, busca garantir mais segurança. Mas quando vão parar nos rios, tais
partículas oxidam e são altamente tóxica para o salmão prateado, por exemplo.
Esse mesmo 6PPD também se acumula nas folhas de alface, conforme comprovado por
pesquisadores da Universidade de Viena num estudo publicado em 2023 na revista
Environmental Science & Technology. Uma análise da revista suíça K-Tipp,
voltada ao consumidor geral, chegou a conclusões semelhantes: por meio de
amostras, a publicação concluiu que a alface absorve substâncias tóxicas ao ar
livre. A alface e o salmão são apenas dois exemplos de como as partículas dos
pneus podem ingressar diretamente na cadeia alimentar.
No entanto, Cyrielle Roget não enxerga uma alternativa ao 6PPD muito em breve. “As pesquisas necessitam de muito tempo, pois antes de um material ser substituído, é preciso garantir que o novo não seja altamente tóxico para outras espécies ou reduza a segurança do pneu”, diz.
Soluções que buscam minimizar o impacto
Até que surja um pneu livre
de abrasão, portanto, são necessárias outras soluções que amenizem o problema
ao máximo. Na ciência e na pesquisa, isso vai desde ideias rápidas e práticas
até aquelas menos funcionais. Um exemplo é o protótipo “Zero Emission Drive
Unit – Generation 1” (ZEDU-1) com aro de roda fechado do Centro Aeroespacial
Alemão (DLR). Ainda que prometa uma mobilidade quase completamente livre de
poluição, ele ainda deve levar alguns anos para ser construído. Não por falta
de interesse, garante o diretor do projeto, Franz Philipps, mas sim devido à
falta de um consenso na União Europeia (UE) sobre valores-limite para o
desgaste dos pneus.
Através de um dispositivo
fixado diretamente na borda do pneu, a start-up londrina Tire Collectives busca
capturar essas partículas diretamente na fonte. Em seu site, a empresa afirma
que um modelo piloto foi testado em 2021, mas ainda resta saber se ele também
pode ser implantado em larga escala.
A fim de contornar o
problema, Daniel Venghaus participa de um projeto em parceria com a Fundação
Ambiental Audi na área de saneamento – ou, mais especificamente, de escoamento
de esgotos. Para isso, foram testados e desenvolvidos diversos tipos de
filtros, que são então instalados em bueiros em pontos críticos de abrasão –
cruzamentos e curvas no centro da cidade.
Testes em ambientes
controlados foram capazes de filtrar até 66% das partículas particularmente
finas e 97% de toda a poluição. Já os testes em campo indicaram uma retenção
três vezes maior nos bueiros com filtros. O projeto deve terminar em julho de
2024, mas, até lá, o plano é criar uma empresa sem fins lucrativos para
sistemas de filtragem. Segundo Venghaus, alguns municípios já manifestaram
interesse na ideia.
A soluções mais radical – e
eficiente
“Os sistemas de filtros são a
solução mais simples para a indústria. No final, são os municípios e os
contribuintes que pagam”, diz Thilo Hofmann, pesquisador da Universidade de
Viena que liderou o estudo sobre os efeitos do desgaste dos pneus na alface. “O
que nós realmente precisamos com urgência é de alternativas verdes aos aditivos
plásticos que não sejam tóxicas”.
Os efeitos tóxicos do desgaste dos pneus, aliás, rendem cada vez mais discussões em Bruxelas. Com a norma Euro 7, por exemplo, a União Europeia quer estabelecer valores limites para a abrasão pela primeira vez, embora o texto final ainda esteja em debate. A proposta também requer a definição de um procedimento padronizado para medir a abrasão. Hoje, as medições são feitas através de um método desenvolvido pelas próprias fabricantes de pneus.
Por fim, ainda resta a forma politicamente mais desconfortável de reduzir o desgaste dos pneus, aponta Thilo Hofmann. Tal solução começaria com o transporte individual que, a seu ver, precisa ser drasticamente reduzido. A lógica, diz Hofmann, é simples: um pneu que não rola não produz abrasão. (msn.com)
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