Uma relação universal mostra
que quando os países começam a enriquecer e avançar no ranking do IDH há,
concomitantemente, uma redução das taxas de mortalidade e de fecundidade.
Reduzir a mortalidade precoce e viver mais tempo e de maneira mais saudável é uma das bases fundamentais do desenvolvimento humano. Quando as taxas de mortalidade caem, as taxas de fecundidade também caem, pois, as famílias trocam o investimento na grande quantidade de filhos para o investimento em famílias menores, com prioridade na qualidade de vida das crianças e adolescentes.
O processo de envelhecimento populacional (transformação da pirâmide etária) acontece ao longo de 50 ou 60 anos, período em que ocorre o 1º bônus demográfico, fenômeno que é essencial para o desenvolvimento socioeconômico. O aumento do percentual da população ocupada é um fator que favorece o aumento da renda per capita e a conquista de bons indicadores sociais. O 1º bônus é temporário e termina com o aumento da proporção da população idosa e a redução das taxas de ocupação da força de trabalho. Por isto se diz que há um grande desafio para uma nação enriquecer após envelhecer.
O gráfico abaixo mostra que,
de fato, há uma alta correlação (mais de 80%) entre o IDH e a idade mediana da
população de 190 países, com dados para o ano de 2021. Nota-se que os países
com maior IDH também possuem maior idade mediana, que é um indicador do
envelhecimento populacional. Observa-se que todos os países com IDH acima de
0,900, possuem idade mediana acima de 35 anos (com duas exceções que são Israel
e Emirados Árabes Unidos, com idade mediana entre 30 e 34 anos).
O Japão é o país mais envelhecido do mundo, tendo a maior idade mediana (48,7 anos) e um elevado IDH (0,925). Logo após a Segunda Guerra Mundial, o Japão era um país pobre, que sofreu o ataque de duas bombas atômicas e tinha poucos recursos naturais. Mas nas décadas seguintes avançou na transição demográfica e aproveitou o 1º bônus demográfico para dar um salto na renda per capita e entrar no clube dos países ricos. O Japão enriqueceu entre 1945 e 1995, antes de ser uma sociedade plenamente envelhecida. Nos últimos 30 anos, a economia japonesa reduziu bastante o ritmo de crescimento, mas se mantém como uma nação de alto padrão de vida. Algo parecido ocorreu com a Itália e outros países de elevado IDH.
Já Israel e os Emirados Árabes Unidos são países que mantiveram taxas de fecundidade mais elevadas e conseguiram enriquecer com uma estrutura etária um tanto quanto menos envelhecida. Ou seja, estes dois países podem ser classificados parcialmente como exceções, na medida que avançaram no nível de renda, mesmo possuindo um menor percentual de idosos em relação aos demais países de alto IDH. Embora com uma idade mediana bem superior à dos países de renda baixa.
O Brasil está no meio do
caminho, pois ainda é um país de renda média, com IDH de 0,754 e uma idade
mediana de 33 anos, tendo pouco tempo para elevar o seu IDH antes de ser um
país plenamente envelhecido. A China já apresenta um IDH de 0,768, pouco acima
da posição do Brasil no ranking, porém, a China também tem uma idade mediana
mais elevada de 38 anos. A vantagem chinesa é que o país tem altas taxas de
poupança e investimento e tem apresentado avanços mais rápidos na superação da
pobreza e no avanço no ranking do IDH.
A China está mais bem
posicionada para enriquecer antes de envelhecer, mas com uma janela de
oportunidade mais estreita. O Brasil tem uma janela de oportunidade mais larga,
porém tem apresentado resultados mais modestos na última década. A China e o
Brasil precisam contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o
3º bônus demográfico (bônus da longevidade) para garantir maior nível de
bem-estar. O tempo é curto, mas ainda dá tempo para avançar no ranking do IDH e
evitar a “armadilha da renda média”.
Na outra extremidade, está o Sudão do Sul com o menor IDH (somente 0,385) e uma idade mediana baixíssima (16 anos). Ou seja, o Sudão do Sul tem uma estrutura etária muito jovem e uma percentagem muito baixa de idosos. Teoricamente, haveria muito espaço para avançar, porém o Sudão do Sul vive uma situação de conflitos armados, baixos investimentos em educação e saúde e uma renda per capita estagnada. O Sudão do Sul, assim como outros países de baixa renda – tais como Afeganistão, Iêmen, Serra Leoa, Moçambique, Mali, Burundi, Chade, Níger, etc. – estão presos na “armadilha da pobreza”.
Segundo Costa Azariadis, no artigo, “The theory of poverty traps: What have we learned?” (2004), um país encontra-se em círculo vicioso quando a situação de pobreza convive com baixos níveis de investimento em educação e saúde pública, quando existem altas taxas de mortalidade infantil, grande insegurança pública, baixa esperança de vida, reduzido tempo de vida dedicado ao trabalho produtivo, baixo investimento em infraestrutura e baixos investimentos em setores produtivos e em ciência e tecnologia, etc. A armadilha da pobreza seria uma situação em que o alto crescimento do número de pessoas pobres dificultaria a redução da percentagem da pobreza extrema.
Azariadis considera que para
sair da armadilha da pobreza é preciso garantir uma boa governança, manter a
estabilidade institucional, combater os governos cleptomaníacos, aumentar os
investimentos em políticas públicas de educação, saúde e habitação, reduzir as
taxas de mortalidade infantil e de fecundidade, aumentar o percentual da
população em idade ativa, aumentar a esperança de vida, aumentar as taxas de
poupança e investimentos, aprofundar a base técnica para a produção de bens e
serviços e para a maior geração de empregos e proteção social, etc.
Assim, existe uma alta
correlação entre o processo de envelhecimento e o enriquecimento das nações.
Enriquecer e envelhecer são fenômenos gêmeos. Praticamente, todo país rico tem
uma estrutura etária envelhecida, mas, em geral, enriqueceram antes de
envelhecer plenamente.
Alguns países estão presos na
armadilha da renda média, pois conseguiram avançar parcialmente no ranking do
IDH, mas não atingiram o topo do bem-estar social. A pior situação é a dos
países que são jovens, mas estão presos na “armadilha da pobreza”, possuindo
poucas chances de apresentar uma mobilidade social ascendente.
Para complicar a situação, o mundo vive uma crise climática e ambiental que já está provocando desastres catastróficos, como as atuais chuvas excessivas no sul do Brasil e a seca inédita na Amazônia. O mundo já ultrapassou 6 das 9 fronteiras planetárias e os eventos meteorológicos extremos estão provocando prejuízos econômicos, aumento do desemprego, refugiados climáticos e milhões de vidas perdidas.
Ásia em 2030: mais velha e mais rica?
Como mostrei no artigo “Os idosos serão as principais vítimas das ondas letais de calor” (Alves, 10/08/2023), o bem-estar de todas as gerações, mas, especialmente dos idosos, dependerá, não só dos avanços econômicos e sociais, mas especialmente da estabilidade climática e da sustentabilidade ambiental. (ecodebate)
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