Estudo da Faculdade de Saúde
Pública da USP mostra que quanto maior a aderência da população a dietas com
menor impacto ambiental, menores são as taxas de sobrepeso e obesidade
Após desenvolverem o Índice
da Dieta da Saúde Planetária, que mede a aderência da população à alimentação
com menor impacto ambiental, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP)
da USP avaliaram o efeito dessas dietas sustentáveis na saúde da população,
mais especificamente na gordura corporal. Os participantes que tiveram maior
pontuação no índice, e, portanto, maior adesão às dietas saudáveis ao planeta,
possuíam risco 24% menor de apresentar sobrepeso e obesidade.
A pesquisa também mostrou que
os ‘campeões’ no índice também possuem 14% menos risco de terem obesidade
abdominal e 27% menos risco de apresentarem o quadro agravado dessa condição, a
obesidade abdominal aumentada. O estudo mostra que uma alimentação mais baseada
em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas – e menos em
carnes vermelhas, laticínios, tubérculos, açúcares de adição e gorduras animais
– pode ser tão saudável ao planeta quanto ao nosso corpo.
O estudo faz parte do
doutorado sanduíche do pesquisador Leandro Cacau, da FSP, sob orientação da
professora Dirce Maria Lobo Marchioni, junto à Universidade de Zaragoza, na
Espanha, com supervisão de Luis Moreno. O artigo foi publicado na revista
científica Nutrients. O projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).
O índice desenvolvido pelos pesquisadores é baseado na Dieta da Saúde Planetária, um modelo de alimentação proposto no relatório Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, publicado no jornal científico The Lancet. A ideia dessa dieta é promover um uso sustentável e consciente dos recursos do planeta para garantir nutrição e saúde às 10 bilhões de pessoas estimadas em 2050 – o que não acontecerá sem mudanças radicais no nosso padrão de consumo atual.
Ao dividir os alimentos em 16 grupos e relacioná-los à emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção de cada um deles, o índice é capaz de avaliar as dietas através de uma pontuação de 0 a 150. Em geral, quanto mais vegetais se consome, chega-se mais próximo de 150 pontos; enquanto que quanto mais se opta por alimentos de origem animal e ultraprocessados, a dieta fica mais perto de zerar – e, então, maior é o custo ambiental das refeições.
A recomendação da EAT-
Lancet, assim como a primeira aplicação do índice, sugeriam que, quanto menos
nocivas ao planeta, maior seria a qualidade nutritiva da dieta, mas esse é o
primeiro estudo a avaliar o que de fato acontece com a saúde humana se optarmos
por dietas saudáveis também ao planeta. “Os resultados vão ao encontro do
relatório: seguir uma dieta saudável e sustentável traz benefícios para a saúde
da população, já que o sobrepeso e obesidade são importantes fatores de risco
para outras doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares”, afirma
Leandro Cacau em entrevista ao Jornal da USP.
Foram avaliados 14,515 brasileiros, participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha os voluntários de vários estados do Brasil desde 2008 e 2010. De acordo com o pesquisador, os resultados mostram que os que melhor pontuaram no índice apresentaram melhor saúde quanto à gordura corporal, quando comparados aos que não seguem a Dieta de Saúde Planetária. “Eles possuíam 24% menor probabilidade de terem sobrepeso e obesidade. Isso independente de características sociodemográficas, de estilo de vida e estado de saúde, como sexo, idade, escolaridade, hábito de fumar, prática de atividade física, presença de diabetes e hipertensão, entre outros”, completa.
Os pesquisadores também identificaram que aqueles que pior pontuaram no índice tinham os maiores valores de Índice de Massa Corporal (IMC) e de circunferência da cintura. O próximo passo da pesquisa é avaliar a relação dessa ferramenta com marcadores de doenças cardiovasculares. (ecodebate)
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