A China começou a colonização
de Taiwan no século XIV. Por volta de 1600, os portugueses criaram um
entreposto comercial que foi chamado de Formosa. Mas os chineses reconquistaram
a ilha em 1661. Em 1895, após a derrota na guerra Sino-Japonesa, a China cedeu
Taiwan ao Japão. Depois das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e da
derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, a ilha voltou à soberania chinesa.
Naquela época, o país era governado pelo partido Nacionalista (Kuomintang) de
Chiang Kai-shek. Em 1949, após a vitória da Revolução Comunista, liderada por
Mao Tsé-tung, cerca de 2 milhões de pessoas das forças nacionalistas e
capitalistas de Chiang Kai-shek se refugiaram em Taiwan.
Após os acordos Nixon-Mao, em
1971, os Estados Unidos da América alteraram a sua posição de apoio diplomático
à Taiwan e passaram a reconhecer a República Popular da China como o único
governo legítimo. A China tem defendido o conceito “Um país, dois sistemas”,
mas a maioria da população de Taiwan reivindica a autonomia e a não integração
à China continental. A venda de armas pelos EUA e a ida da presidente da Câmara
dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan no início de agosto de
2022, são motivos de crise no leste asiático, refletindo a disputa pela
hegemonia internacional entre as duas potências econômicas do mundo atual.
Nas últimas décadas, a
despeito de todas as dificuldades e das ameaças de uma guerra, Taiwan conseguiu
vencer a pobreza e se tornou um país rico, com alto padrão de vida da
população. Taiwan tinha 7,6 milhões de habitantes em 1950, chegou a 23,9
milhões em 2022, deve chegar a 24,1 milhões em 2030, devendo começar a
apresentar decrescimento populacional a partir de 2031 e deve alcançar 15,2
milhões de habitantes em 2100, segundo as projeções médias divulgadas pela
Divisão de População da ONU (revisão 2022). Taiwan fez uma rápida transição
demográfica e conseguiu colher os frutos de seus bônus demográficos.
Taiwan era um país pobre e
sem muitos recursos naturais na primeira metade do século XX. Mas apoiou a
educação e saúde de qualidade, elevou as taxas de poupança e investimento e
garantiu a renovação tecnológica da sua estrutura produtiva. Desta forma
aproveitou muito bem o 1º bônus demográfico (bônus da estrutura etária) pela
via do pleno emprego e do trabalho decente.
Taiwan, com uma população
cerca de 10 vezes menor do que o Brasil, conseguiu exportar US$ 430 bilhões em
2023, enquanto o Brasil, mesmo batendo recordes, exportou US$ 340 bilhões. Embora
o Brasil tenha apresentado superávits crescentes na balança comercial continua
apresentando déficit em transações correntes. Em 2022, o Brasil teve déficit em
transações correntes de US$ 56 bilhões, enquanto Taiwan teve superávit de cerca
de US$ 100 bilhões.
Quando um país aproveita
plenamente os três bônus demográficos ele sai de uma situação de pobreza, para
a renda média e, sendo bem-sucedido, dá o salto para a renda alta e para um
elevado padrão de vida da população. Por conseguinte, Taiwan que era um país
pobre, passou a ter renda média nas últimas décadas do século XX e deu um salto
para país de renda alta e com alto padrão de vida no século XXI.
O gráfico abaixo, com dados
do Maddison Project Database 2020, mostra a renda per capita, em preços constantes
em poder de paridade de compra (ppp), para o mundo, o Brasil e Taiwan entre
1918 e 2018. Nota-se que o Brasil e Taiwan tinham renda per capita abaixo da
renda per capita mundial. Entre 1918 (fim da 1ª Guerra Mundial) e 1942 a renda
per capita mundial estava em torno de US$ 2,6 mil, enquanto a renda per capita
do Brasil e da Coreia estava aproximadamente a metade, em torno de US$ 1,3 mil.
Entre 1940 e 1980, a renda per capita brasileira superou a renda per capita de Taiwan e alcançou a renda per capita mundial. Em 1982 a renda per capita estava empatada no mundo, no Brasil e em Taiwan, em torno de US$ 7,3 mil. A partir dos anos de 1980 a renda per capita brasileira ficou acima da renda per capita mundial e a renda per capita de Taiwan disparou. Depois da crise de 2015 e 2016, a renda per capita brasileira voltou a ficar abaixo da renda per capita mundial. Em 2018 (último dado disponível do projeto Maddison), a renda per capita brasileira estava em torno de US$ 14 mil, a renda per capita mundial em US$ 14,5 mil e a renda per capita taiwanesa em US$ 45 mil (Segundo o FMI, em 2024, a renda per capita do Brasil continua em torno de US$ 15 mil e a renda de Taiwan em US$ 60 mil).
Nos últimos 100 anos, o poder de compra do Brasil e do mundo avançou de um nível de renda baixo para a renda média, mas a renda per capita do Brasil estagnou nos últimos 40 anos e não conseguiu dar o passo seguinte para a renda alta, como aconteceu em Taiwan. O Brasil está longe de ter a qualidade de vida taiwanesa, pois não aproveitou de forma plena os dois primeiros bônus (aproveitou apenas parcialmente) e não está se preparando adequadamente para aproveitar o 3º bônus.
Em 2023, o Brasil tinha uma
estrutura etária com idade mediana de 34 anos, uma taxa de fecundidade total de
1,6 filhos por mulher e uma expectativa de vida ao nascer de 76 anos. Enquanto
Taiwan tinha uma idade mediana de 42 anos, uma taxa de fecundidade total de 1,2
filhos por mulher e uma expectativa de vida ao nascer de 81,5 anos.
O desenvolvimento brasileiro ficou no meio do caminho, conseguiu vencer a pobreza (deixou para trás a baixa renda), mas tem permanecido estagnado na armadilha da renda média. Evidentemente, ainda dá tempo para promover o salto para o clube dos países ricos, mas o Brasil terá que fazer um esforço redobrado para entrar no clube dos países de alta renda.
Quanto tempo o Brasil tem até que o envelhecimento da população dificulte o crescimento econômico.
No outro lado do mundo,
Taiwan, que é um país rico e avançado tecnologicamente, já enfrenta a redução
da população em idade ativa, passa por um acelerado envelhecimento populacional
e tem o desafio de se equilibrar entre as duas grandes potências econômicas e
militares do mundo. (ecodebate)
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