quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Enchentes no RS disparam sinistros de seguro solar

Enchentes no RS disparam sinistros de seguro solar; eventos climáticos do tipo serão mais comuns.

De acordo com a Elétron Seguro Solar foram registrados 92 casos de sinistros só pela empresa, totalizando mais de R$ 1 milhão em indenizações. Os inversores são o principal item danificado. Meteorologista da Tempo Ok ouvido pela pv magazine explica o que torna o Rio Grande do Sul tão suscetível a eventos climáticos severos e quais os riscos futuros.
O desastre climático no Rio Grande do Sul, causado por fortes chuvas em abril, resultou em graves inundações, afetando 95% das cidades do estado e deixando milhares de pessoas sem energia. As usinas fotovoltaicas submersas sofreram danos ainda incalculáveis e a tragédia sublinha a importância de seguros para sistemas solares e de maior preparação para eventos climáticos extremos.

De acordo com a edição de julho do Placar de Sinistros feito pela Elétron Seguro Solar, empresa de Curitiba (PR) especializada em seguro solar, nunca existiram tantos pedidos de acionamentos de seguro de uma só vez como nesse período. Mesmo três meses após o desastre, a Elétron continua atendendo clientes do Rio Grande do Sul.

Até o início de agosto, foram registrados 92 casos de sinistros, totalizando R$1.018.004,12 em indenizações para esses casos. O balanço de sinistros reforça que os dados equivalem a um único estado do Brasil, e os valores representam uma parte significativa dos acionamentos: 32% do total de sinistros indenizados em 2024 foram do RS. O valor das indenizações chega a aproximadamente 22% do total incluindo outros estados, que estava em R$4.619.388,58 até o início de agosto.

Consumidores têm poucas opções de seguradoras em caso de eventos climáticos

A Elétron Seguro Solar cobre desastres climáticos, graças à sua parceria com a Essor Seguros, desde que o tema ainda não era discutido no setor. Segundo Mauro Brustolin Iplinski, sócio proprietário da Elétron, cerca de 60% dos clientes já foram indenizados, mas como este é um processo feito em etapas, ainda há sinistros na fila. Entretanto, ele garante que não existiram recusas nesse evento.

“A grande maioria dos casos foram de sinistros não tão severos. Tivemos sim alguns casos de perda total, mas a maioria foram sinistros de perda parcial, apresentando dano ao inversor. A água em si não danifica o módulo, o que existe de mais sensível na estrutura diante desse tipo de evento é o inversor. Por isso, o ticket médio do sinistro não chegou a um valor tão alto, totalizando cerca de R$ 9.500”, explica Iplinski.

O executivo também destaca que o crédito pode ser usado como o cliente bem entender, logo, é possível que muitos tenham escolhido dedicar o valor para reestruturar outras perdas. Porém, em setembro de 2023, a Elétron atendeu clientes que foram afetados por um evento no Vale do Taquari, e estes, que foram indenizados na ocasião dentro da mesma apólice, foram novamente indenizados pelos sinistros de 2024. Isto indica que muitos de fato utilizaram a primeira indenização para recuperar suas usinas.

Rio Grande do Sul se destaca como vítima constante de eventos meteorológicos

O Rio Grande do Sul está em 3º lugar no ranking de estados mais segurados pela Elétron, atrás apenas do Paraná e de São Paulo. O estado de Santa Catarina está em 4º lugar, e Minas Gerais, em 5º.

Ainda de acordo com a corretora, o estado do Rio Grande do Sul, em 2023, foi responsável por 44% das indenizações na Elétron. O principal evento foi o de vendaval, mas o estado vem sendo severamente castigado por diversos eventos climáticos nos últimos anos.

Para entender a razão por trás do histórico, a pv magazine conversou com Paulo Lombardi, meteorologista da Tempo Ok explica que a localização geográfica do Rio Grande do Sul foge à regra de outras regiões do país, em que as chuvas apresentam um caráter sazonal.

“No Brasil, temos diversas regiões em que chove bastante durante determinados períodos do ano. O Rio Grande do Sul, em particular, não funciona dessa maneira. No estado, não temos um mês do ano em que a média apresenta valores altos de precipitação, as chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, apenas com singelos aumentos de frequência no mês de outubro. O sul do país está em uma área em que a circulação atmosférica pode favorecer eventos de chuva em qualquer época do ano, e essa sazonalidade mal definida dificulta a previsão de chuvas intensas”, afirma.

A Tempo Ok ainda explica que, diante do aumento da temperatura da Terra, os eventos que já ocorrem ganham intensidade. “Quando você pensa em mudança climática no Sul, diante da atmosfera mais quente, imagina que os volumes de chuva vão aumentar, mas o aumento não ocorre necessariamente na mesma frequência. Não vai chover o tempo inteiro, mas quando acontecer, ela pode acabar sendo cada vez mais intensa. Então, podemos ter mais eventos extremos no futuro”.

Micro explosões atmosféricas no Rio Grande do Sul geram indenizações

Usinas fotovoltaicas em São Luiz Gonzaga (RS)

Danos causados pelo micro explosão atmosférica

Em 15 de julho, a região de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, teve três usinas fotovoltaicas danificadas por um evento de micro explosão atmosférica. A Elétron atendeu os casos, que geraram três indenizações de R$ 90 mil cada.

O meteorologista explica que um micro explosão atmosférica ocorre quando uma nuvem está extremamente carregada, geralmente formada por uma corrente descendente de ar seco que adentra a nuvem. Com desenvolvimento vertical muito grande, a nuvem não suporta a própria densidade de água e acaba cedendo seu volume de uma só vez.

Quando esse volume muito intenso de água chega na superfície, o acúmulo faz a água divergir para todos os lados, e a rajada de vento pode ultrapassar 110 km/h.. Para as usinas solares, o vento intenso do micro explosão é o principal causador de danos severos.

Elétron relata que em 2023, vendaval era o principal causador de sinistros. Na sequência, havia o evento de roubo e furto. Com o alagamento no Rio Grande do Sul, este sinistro ultrapassou os casos de roubo e furto e se tornou o segundo evento que mais causa indenizações.

Aumento de sinistros acompanha o crescimento do setor solar no Brasil

O CEO da Elétron Seguro Solar relata que o número surpreendente de sinistros não está diretamente ligado a um aumento de eventos meteorológicos, mas sim ao crescimento do setor. “Eu trabalho com seguros desde 2008, e comecei a me aprofundar e desenvolver soluções de seguros para energia solar em 2019. No início de 2019, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), tínhamos no Brasil inteiro cerca de 50 mil sistemas fotovoltaicos. Era pouco, levando em consideração que hoje temos em torno de 2,7 milhões de sistemas instalados no país. Por isso, não é que em 2019 não aconteciam tantos vendavais, enchentes e chuvas de granizo. A questão é que existiam muito menos sistemas expostos aos riscos. Na época, o seguro ainda nem existia, estava apenas em fase de desenvolvimento”.

Isso vai de encontro com o mapeamento entidade, que destaca o Rio Grande do Sul como um dos três estados brasileiros com a maior potência instalada de energia solar na geração própria em telhados e pequenos terrenos. O território gaúcho responde sozinho por 9,6% da potência instalada no país, com mais de 302 mil conexões operacionais, espalhadas por 497 municípios.

De acordo com a Elétron, quando os primeiros seguros foram oferecidos, o custo era baseado no valor do sistema. Hoje, com o maior entendimento do risco de sinistros, diversas seguradoras estão aplicando reajustes no modelo de precificação, ou até mesmo deixando de oferecer o serviço para o setor de energia solar.

“Não é comum uma corretora de seguros se preocupar com isso, mas aqui na Elétron, contabilizamos todos os sinistros desde o início. Com esses dados, entendemos que um sistema instalado em solo é diferente de um sistema instalado no telhado, bem como existem riscos diferentes para a área rural e a área urbana. Logo, para não onerar os clientes, desde o início de 2024 a precificação aplicada na plataforma da Elétron leva em conta: o valor do sistema, o CEP em que ele está instalado, o tipo da estrutura (se é solo ou telhado), e o tipo de área da instalação (urbana ou zona rural) ”, explica Iplinski.

Tragédia do RS: Como as seguradoras estão lidando com o maior sinistro do setor

A tragédia no Rio Grande do Sul segue oferecendo lições valiosas para os players do setor fotovoltaico. Ela ressalta a urgência de adotar equipamentos mais seguros frente a eventos climáticos extremos, a relevância de contar com seguros solares para desastres naturais e a importância da colaboração do setor para reduzir os impactos nas usinas. (pv-magazine-brasil)

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