A reciclagem de eletrônicos é
fundamental para diminuir ou amenizar os danos causados pela indústria. Mas
você sabe o que é lixo eletrônico?
Lixo eletrônico, Resíduos de
Equipamentos Elétricos e eletrônicos (REEE) ou e-lixo são termos utilizados
para se referir a equipamentos elétricos e eletrônicos. Apenas quando suas
partes e acessórios foram descartados por seus proprietários, sem a intenção de
utilizá-los.
As tecnologias do mundo moderno possibilitam que novos aparelhos sejam lançados e novas tendências surgem rapidamente no mercado. Em um processo planejado que leva o consumidor a substituir seus produtos eletrônicos sem necessidade. Assim, gerando um volume cada vez maior de lixo eletrônico.
O papel da obsolescência programada
Esse fenômeno, chamado de
obsolescência programada, contribui significativamente para o aumento do lixo
eletrônico. Assim, pode causar diversos impactos ambientais e para a saúde
humana se descartado de maneira incorreta.
De acordo com o relatório The
Global E-Waste Monitor, produzido pela ONU em 2017, o Brasil produz em média
1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico por ano. No mundo, foram gerados o
equivalente a 4,5 mil Torres Eiffel de lixo eletrônico (44,7 milhões de
toneladas) nesse mesmo ano. Até 2021, a previsão é que esse número suba para
52,2 milhões de toneladas por ano.
Os equipamentos elétricos e
eletrônicos possuem diversos componentes tóxicos em suas estruturas. Se
descartados de maneira incorreta, esses resíduos tóxicos podem contaminar o
solo e os lençóis freáticos, colocando em risco a saúde pública. Segundo o
Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), cerca de 70% dos metais pesados
encontrados em lixões e aterros sanitários controlados são provenientes de
equipamentos eletrônicos descartados incorretamente.
Um estudo do Centro de Ecologia Ann Arbor, pesquisou 36 celulares de diferentes marcas e modelos. Os pesquisadores estavam analisando a quantidade de componentes tóxicos presente nos aparelhos, como chumbo, bromo e cádmio. São elementos que desde sua extração até o fim da vida útil causam potenciais danos ao meio ambiente e à saúde humana.
Política Nacional de Resíduos Sólidos
Desde 2010, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) procura organizar a forma como o setor
público e privado devem tratar os resíduos. A lei trata de todos os materiais
que podem ser reciclados ou reaproveitados, sejam eles domésticos ou
industriais. A PNRS indica que a responsabilidade pela logística reversa de
alguns produtos deve ser dos fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores.
Porém, só é possível começar
esse processo com a participação efetiva dos consumidores. Eles precisam se
comprometer a descartar seus produtos fora de uso em locais adequados que
permitam sua entrega em pontos de coleta e reciclagem. Para isso, antes é
preciso realizar um trabalho de pré-coleta seletiva. Nesse processo é preciso
separar os resíduos sólidos orgânicos, os rejeitos, os eletroeletrônicos e os
demais recicláveis.
O lixo eletrônico tem
potencial de transformação e pode até ser lucrativo para as empresas
fabricantes. Quando manejados corretamente, esses resíduos podem ganhar vida
nova, gerando faturamento para as geradoras. Além disso, a relação entre lixo
eletrônico e logística reversa é fundamental para poupar o meio ambiente. Logo,
evitando a contaminação de solos, mananciais e o surgimento de doenças.
Ainda segundo a lei brasileira, a responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos é compartilhada. Logo, todos somos parte do ciclo produtivo dos eletrônicos que consumimos.
Como funciona a reciclagem de produtos eletrônicos?
No Brasil, existem locais corretos para se realizar o descarte de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Os comerciantes e distribuidores são responsáveis por receber estes equipamentos e entregar aos fabricantes e importadores. Por fim, eles são responsáveis por assegurar a destinação final ambientalmente adequada a estes equipamentos, como a reciclagem.
Triagem e separação dos componentes
Após a coleta, o processo de reciclagem de equipamentos eletrônicos se inicia por meio de uma triagem, que pode ser feita manualmente ou por um computador. Há a separação dos equipamentos em condições de uso (que podem ser doados) dos que não podem ser reutilizados. Logo, os aparelhos são desmontados, e a carcaça, a bateria, o vidro e as placas de circuito são separados, sendo dado um destino diferente para cada componente.
Processamento e venda
A carcaça é triturada e
separada por cada material de acordo com a sua densidade. Depois disso, os
resíduos podem ser vendidos para outras empresas que utilizam os polímeros
presentes nesses objetos, bem como incinerados para gerar energia. Esse método,
no entanto, ainda suscita discussões devido às substâncias que podem ser
liberadas a partir dessa queima, como a dioxina.
Eles ainda podem ser
derretidos e transformados em outro plástico. Este material reciclado
apresenta, segundo algumas pesquisas, desempenho satisfatório em testes de
resistência mecânica.
Os materiais tóxicos são
colocados em tanques preparados para armazenar esse resíduo eletrônico e são
destinados a empresas especializadas.
Os vidros dos equipamentos
possuem diferentes componentes. Eles podem ser separados por tipo ou misturados
e passam por um processo de moagem e tratamento, sendo vendidos para empresas
que os utilizam como matéria-prima. Já as baterias são separadas e destinadas a
empresas específicas, que farão o descarte correto ou a reciclagem.
No Brasil ainda não existe
processo de reciclagem para a placa de circuito impresso (PCI). Ela é
encaminhada para países que possuem tecnologia suficiente para realizar esse
tipo de reciclagem, como os Estados Unidos e a Suíça.
Mesmo sem uma tecnologia adequada para a reciclagem do e-lixo, a China e a Índia são quem mais recebe o material. Seus trabalhadores não utilizam proteção e descartam os rejeitos no solo ou nos corpos d’água.
Tipos de reciclagem de eletrônicos
Existem três tipos de
reciclagem para as placas de circuito: mecânico, químico ou térmico. Na reciclagem
mecânica, ocorre a fragmentação do equipamento, que passa pela fase de britagem
e moagem. Em seguida, os resíduos do processo anterior são divididos por
granulometria com a ajuda de peneiras especializadas.
Depois, eles passam por uma
separação magnética, que separa resíduos magnéticos dos não magnéticos. Por
fim, os não magnéticos são divididos em condutores e não condutores de corrente
elétrica por meio do mecanismo de separação eletrostática.
A reciclagem química ocorre pelo processo de hidrometalurgia. Ele é descrito como uma extração de metais feita por meio da lixiviação com água-régia (75% de ácido clorídrico e 25% de ácido nítrico) ou ácido-sulfúrico. Nele, obtêm-se frações pesadas (metais) e frações leves (plásticos e cerâmicos).
Térmica
Por fim, a reciclagem térmica
se dá pelo processo de pirometalurgia, que consiste em converter os metais em
diferentes estados de pureza ao passarem por altas temperaturas. O processo
exige grande energia para incinerar as placas e obter um metal concentrado, que
segue para a separação eletrostática.
No Japão, por exemplo, as lojas costumam receber vários celulares antigos por dia. Lá, esses telefones são colocados em uma espécie de panela de pressão de grande porte a 500°C. Após 12 horas, é obtido um material escuro, que é levado para separação. Lá é onde se obtém os metais preciosos como prata, ouro e cobre.
Celulares reciclados
Uma mineradora japonesa
conseguiu produzir uma barra de dez quilos de ouro a partir dos metais encontrados
nos celulares. Tudo é reutilizado. Os outros metais voltam para o mercado na
forma de equipamentos novos e o plástico se transforma em óleo combustível das
máquinas.
Acessórios para celular são
recicláveis?
Segundo o relatório From
Waste to Resources da UNEP, uma tonelada de celulares renderia:
• 3,5 kg de prata;
• 130 kg de cobre;
• 340 g de ouro;
• 140 g de paládio.
Portanto, é necessário que o
lixo eletrônico seja descartado em locais corretos para que possa ser
reciclado. Você pode procurar postos de descarte no mecanismo de busca gratuito
do Portal eCycle.
A presença de tantos componentes tóxicos nos equipamentos eletrônicos é o que faz com que a disposição correta do lixo seja tão importante. Se você tem resíduos eletrônicos em casa, é preciso entrar em contato com os postos de descarte. Faça sua parte para que o seu lixo eletrônico não se transforme em lixo tóxico.
Problemas da reciclagem de baterias
Um estudo da Yale School of
the Environment mostrou que a reciclagem insegura de baterias de chumbo é uma
crescente cicatriz do planeta. Mas, de alguma forma, a epidemia de
envenenamento por esse negócio altamente lucrativo raramente é vista como um
escândalo global. A maioria das pessoas nunca ouviu falar disso.
A indústria automobilística parecia ter retirado o chumbo de seu currículo ambiental com a eliminação quase total, nas últimas décadas, dos aditivos desse metal na gasolina. Como consequência, os níveis de chumbo no sangue caíram em centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Mas agora, esses níveis estão subindo novamente, diz Richard Fuller, CEO da Pure Earth, uma organização sem fins lucrativos. Em grande parte, porque ninguém pensou em chumbo em pilhas e baterias de automóveis. Embora eles liguem quase todos os 1,4 bilhão de veículos na estrada hoje.
Reciclagem de chumbo não é tão boa assim…
Temos a tendência de pensar
na reciclagem como uma coisa boa e pura. Mas não da maneira como se faz com
chumbo nas baterias. O chumbo, um dos metais mais ubíquos e venenosos, também
está entre os mais reciclados. Sendo mais de 6 milhões de toneladas coletadas
para reaproveitamento a cada ano.
As baterias de chumbo são “o
produto de consumo mais reciclado do mundo”, de acordo com a International Lead
Association. Graças à reciclagem, quase não conseguimos mais chumbo.
Cerca de 85% do chumbo em uso
hoje vai para baterias, principalmente para automóveis. E quando as baterias
acabam, 99% desse chumbo é reciclado para fazer novas baterias. O negócio é tão
universal porque, ao contrário do lixo eletrônico, por exemplo, é muito
lucrativo.
Mas aí está um problema.
Muitas pessoas querem uma fatia da ação. Dezenas de milhares de destruidores de
baterias e empresas de fundição em todo o mundo estão buscando lucrar.
Eles estão coletando um
estoque abundante de baterias usadas para se transformar em um novo produto.
Com pouca regulamentação, o resultado costuma ser letal.
Em muitos países, as pequenas operadoras superam a concorrência da indústria legítima. Isso porque seus baixos custos significam que podem pagar mais para comprar baterias usadas.
Impactos ao ambiente e à saúde humana
Plumas de poluição no ar, no
solo e na água há muito tempo são documentadas em grandes e pequenas obras de
reciclagem e fundição de chumbo. Os médicos sabem que o chumbo é facilmente
inalado ou ingerido. Ele entra na corrente sanguínea, que o entrega de forma
eficiente aos órgãos, desde o sistema gastrointestinal até o cérebro.
Algumas
grandes empresas dizem que querem ajudar. A superpotência da indústria Clarios
começou recentemente a financiar esforços da UNICEF e da Pure Earth. Ela é
responsável por fabricar um terço das baterias automotivas do mundo. O objetivo
é fazer lobby por uma limpeza global.
Mas, mesmo com um
endurecimento dos padrões operacionais, permanecerá um enorme legado de locais
contaminados. Em todo o mundo, Fuller acredita que pode haver até 90.000
fábricas de reciclagem informal operando atualmente. Sendo que a maioria está
envenenando o meio ambiente e as pessoas.
Ainda assim, há esperança. Em julho de 2020, ativistas quenianos obtiveram vitória nos tribunais contra o governo e duas empresas de refino que operam em Mombaça.
Os juízes concederam US $12 milhões em indenização por mortes e impactos na saúde da planta de reciclagem de baterias de Mombaça. Porém, também ordenaram uma limpeza. Já é um começo. (ecycle)
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