sábado, 21 de dezembro de 2024

Emergentes contribuem com metade da redução de CO2 no transporte global

Emergentes podem contribuir com quase metade da meta de redução de CO2 no transporte global.

“É possível que esses países emergentes reduzam a pegada de carbono de seus setores de transporte em até 84% ao substituir o uso de combustíveis fósseis por renováveis, como o etanol e o biodiesel, usando muito pouca terra”, disse Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN e autora-líder do estudo.
O uso de biocombustíveis no transporte no Brasil e em mais outros dez países emergentes – incluindo China, Índia e África do Sul – pode evitar a emissão de 300 a 400 milhões de toneladas de CO2 até 2030. Dessa forma, esse bloco de países conseguiria contribuir com quase a metade da meta estipulada pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) de diminuir as emissões de 800 milhões de toneladas desse gás de efeito estufa pelo setor de transporte globalmente nos próximos seis anos.

As conclusões são de um relatório sobre o potencial dos biocombustíveis na redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) produzido pela força-tarefa sobre bioenergia da IEA, liderada por pesquisadores vinculados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

Estudo lançado durante a Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST)/2024, ocorrido entre 22 e 24/10/24, em São Paulo.

“É possível que esses países emergentes reduzam a pegada de carbono de seus setores de transporte em até 84% ao substituir o uso de combustíveis fósseis por renováveis, como o etanol e o biodiesel, usando muito pouca terra”, disse Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN e autora-líder do estudo.

Os pesquisadores já tinham publicado em 2023 um relatório em que discutiram o potencial dos biocombustíveis em mercados emergentes da América Latina, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala. Os quatro países, sob a liderança do Brasil, têm participação de 30% na produção global de biocombustíveis e contribuem para a redução de 62 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.

Ao analisar a disponibilidade de terra nesses quatro países latino-americanos para o plantio de cultivares energéticas, os pesquisadores constataram que ainda há muito espaço para expandir a produção de biocombustíveis na região, sem concorrer com o plantio de alimentos ou avançar sobre áreas de floresta.

“Há muita terra disponível nessa região, especialmente voltada para pastagem, que poderia ser usada para a expansão da bioenergia nesses países”, afirmou Souza.

“Se quiserem duplicar a produção de biocombustíveis e, dessa forma, contribuir para evitar a emissão de 120 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, esses países teriam de converter apenas 5% de suas áreas de pastagens”, estimou.

Ao avaliar quais outros países emergentes também têm disponibilidade de terra e poderiam replicar o modelo de produção de bioenergia implantado na América Latina, os pesquisadores identificaram e incluíram no novo estudo China, Etiópia, Índia, Indonésia, Malásia, África do Sul e Tailândia.

Em comum, esses países emergentes vivenciam rápido desenvolvimento social e econômico e espera-se que sua contribuição para as emissões globais de GEE aumente rapidamente. Se esses países apresentarem as mesmas emissões per capita de CO2 no transporte que as nações-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as emissões globais do setor aumentariam em 102%. A produção de biocombustíveis poderia reduzir significativamente as emissões de CO2 desses países, usando pouca terra, estimaram os pesquisadores.

“A produção global de biocombustíveis hoje é de cerca de 160 bilhões de litros, o que equivale a cerca de 4% de toda a demanda do setor de transporte. E as projeções da Agência Internacional de Energia indicam que será preciso triplicar o volume nos próximos cinco a sete anos. Para isso, os países emergentes, especialmente no Sul Global, deverão exercer um papel crucial”, avaliou Bharadwaj Kummamuru, diretor-executivo da World Bioenergy Association (WBA), da Suécia.

Essas nações, entretanto, também compartilham muitos desafios para aumentar a escala de produção de biocombustíveis, relacionados ao financiamento, desenvolvimento de tecnologias e políticas públicas, ponderou o especialista.

“A maioria desses países emergentes é importador de combustível fóssil e dependerá de petróleo importado. Além disso, apresenta crescimento populacional significativo, o que significa que demandará mais energia, ao mesmo tempo em que tem metas de descarbonização em direção a zerar suas emissões líquidas”, afirmou.

Potencial de redução

Uma das principais conclusões do relatório é a de que os biocombustíveis são economicamente viáveis nos países estudados, exceto na China e na Malásia. Na China, a competição com alimentos torna a matéria-prima muito cara. No entanto, nesse caso, os biocombustíveis poderiam ser importados.

No caso da Malásia, os combustíveis fósseis são subsidiados para controlar a inflação e essa política poderia ser estendida aos biocombustíveis também para torná-los economicamente competitivos.

“Sudeste Asiático e o Brasil têm muitas semelhanças. Temos países em desenvolvimento, diversos recursos e o mesmo entendimento de priorizar o desenvolvimento de uma indústria local de biocombustíveis, em vez de comprar combustível importado. Estamos considerando a mesma abordagem do Brasil”, disse Esther Swee Yoong Lew, representante do ministério de transição energética da Malásia.

De acordo com os autores do estudo, a avaliação do ciclo de vida revelou reduções substanciais nas emissões de GEE para biocombustíveis produzidos na África e na Ásia – até 78% para biodiesel e 81% para etanol em comparação com combustíveis convencionais. Esses valores são semelhantes aos relatados anteriormente para biocombustíveis produzidos na América Latina (até 79% para etanol e até 84% para biodiesel).

A economia de GEE, segundo os pesquisadores, é muito significativa na Índia, Indonésia e África do Sul por diferentes razões. Na Índia, os biocombustíveis podem ser produzidos com uma intensidade de carbono muito baixa. Na Indonésia, além da baixa intensidade de carbono dos biocombustíveis, o diesel fóssil tem um alto teor de enxofre, o que causa chuva ácida. Na África do Sul, apesar das emissões maiores do que a média na produção de biocombustíveis, eles ainda representam uma redução muito grande em comparação aos combustíveis fósseis sintéticos. (biodieselbr)

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