Emergentes podem contribuir
com quase metade da meta de redução de CO2 no transporte global.
As conclusões são de um
relatório sobre o potencial dos biocombustíveis na redução de emissões de gases
de efeito estufa (GEE) produzido pela força-tarefa sobre bioenergia da IEA,
liderada por pesquisadores vinculados ao Programa FAPESP de Pesquisa em
Bioenergia (BIOEN).
Estudo lançado durante a
Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST)/2024, ocorrido
entre 22 e 24/10/24, em São Paulo.
“É possível que esses países emergentes reduzam a pegada de carbono de seus setores de transporte em até 84% ao substituir o uso de combustíveis fósseis por renováveis, como o etanol e o biodiesel, usando muito pouca terra”, disse Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN e autora-líder do estudo.
Os pesquisadores já tinham publicado em 2023 um relatório em que discutiram o potencial dos biocombustíveis em mercados emergentes da América Latina, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala. Os quatro países, sob a liderança do Brasil, têm participação de 30% na produção global de biocombustíveis e contribuem para a redução de 62 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.
Ao analisar a disponibilidade
de terra nesses quatro países latino-americanos para o plantio de cultivares
energéticas, os pesquisadores constataram que ainda há muito espaço para
expandir a produção de biocombustíveis na região, sem concorrer com o plantio
de alimentos ou avançar sobre áreas de floresta.
“Há muita terra disponível
nessa região, especialmente voltada para pastagem, que poderia ser usada para a
expansão da bioenergia nesses países”, afirmou Souza.
“Se quiserem duplicar a
produção de biocombustíveis e, dessa forma, contribuir para evitar a emissão de
120 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, esses países
teriam de converter apenas 5% de suas áreas de pastagens”, estimou.
Ao avaliar quais outros
países emergentes também têm disponibilidade de terra e poderiam replicar o
modelo de produção de bioenergia implantado na América Latina, os pesquisadores
identificaram e incluíram no novo estudo China, Etiópia, Índia, Indonésia,
Malásia, África do Sul e Tailândia.
Em comum, esses países emergentes vivenciam rápido desenvolvimento social e econômico e espera-se que sua contribuição para as emissões globais de GEE aumente rapidamente. Se esses países apresentarem as mesmas emissões per capita de CO2 no transporte que as nações-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as emissões globais do setor aumentariam em 102%. A produção de biocombustíveis poderia reduzir significativamente as emissões de CO2 desses países, usando pouca terra, estimaram os pesquisadores.
“A produção global de biocombustíveis hoje é de cerca de 160 bilhões de litros, o que equivale a cerca de 4% de toda a demanda do setor de transporte. E as projeções da Agência Internacional de Energia indicam que será preciso triplicar o volume nos próximos cinco a sete anos. Para isso, os países emergentes, especialmente no Sul Global, deverão exercer um papel crucial”, avaliou Bharadwaj Kummamuru, diretor-executivo da World Bioenergy Association (WBA), da Suécia.
Essas nações, entretanto,
também compartilham muitos desafios para aumentar a escala de produção de
biocombustíveis, relacionados ao financiamento, desenvolvimento de tecnologias
e políticas públicas, ponderou o especialista.
“A maioria desses países emergentes é importador de combustível fóssil e dependerá de petróleo importado. Além disso, apresenta crescimento populacional significativo, o que significa que demandará mais energia, ao mesmo tempo em que tem metas de descarbonização em direção a zerar suas emissões líquidas”, afirmou.
Potencial de redução
Uma das principais conclusões do relatório é a de que os biocombustíveis são economicamente viáveis nos países estudados, exceto na China e na Malásia. Na China, a competição com alimentos torna a matéria-prima muito cara. No entanto, nesse caso, os biocombustíveis poderiam ser importados.
No caso da Malásia, os combustíveis fósseis são subsidiados para controlar a inflação e essa política poderia ser estendida aos biocombustíveis também para torná-los economicamente competitivos.
“Sudeste Asiático e o Brasil
têm muitas semelhanças. Temos países em desenvolvimento, diversos recursos e o
mesmo entendimento de priorizar o desenvolvimento de uma indústria local de
biocombustíveis, em vez de comprar combustível importado. Estamos considerando
a mesma abordagem do Brasil”, disse Esther Swee Yoong Lew, representante do
ministério de transição energética da Malásia.
De acordo com os autores do estudo, a avaliação do ciclo de vida revelou reduções substanciais nas emissões de GEE para biocombustíveis produzidos na África e na Ásia – até 78% para biodiesel e 81% para etanol em comparação com combustíveis convencionais. Esses valores são semelhantes aos relatados anteriormente para biocombustíveis produzidos na América Latina (até 79% para etanol e até 84% para biodiesel).
A economia de GEE, segundo os pesquisadores, é muito significativa na Índia, Indonésia e África do Sul por diferentes razões. Na Índia, os biocombustíveis podem ser produzidos com uma intensidade de carbono muito baixa. Na Indonésia, além da baixa intensidade de carbono dos biocombustíveis, o diesel fóssil tem um alto teor de enxofre, o que causa chuva ácida. Na África do Sul, apesar das emissões maiores do que a média na produção de biocombustíveis, eles ainda representam uma redução muito grande em comparação aos combustíveis fósseis sintéticos. (biodieselbr)
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