quinta-feira, 17 de julho de 2025

Decrescimento populacional com prosperidade social e ambiental na Grécia

A Grécia enfrenta um decrescimento populacional que, no entanto, não se traduz numa crise socioeconómica e ambiental generalizada. A combinação de políticas públicas, envelhecimento populacional e outros fatores contribui para uma mudança gradual e para a possibilidade de se alcançar um equilíbrio entre crescimento demográfico e qualidade de vida.
A população da Grécia de 1950 a 2100

Análise detalhada:

Declínio populacional:

A Grécia tem uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa, e a população está a envelhecer, o que leva a um declínio populacional.

Prosperidade social e ambiental:

Apesar do declínio populacional, a Grécia tem políticas públicas que visam apoiar a população idosa, garantir a qualidade de vida e promover a sustentabilidade ambiental.

Envelhecimento populacional:

A idade média na Grécia tem vindo a aumentar, o que pode gerar desafios, mas também oportunidades para o desenvolvimento de serviços e produtos específicos para este grupo etário.

Sustentabilidade ambiental:

A Grécia tem uma natureza rica e diversificada, com muitas áreas protegidas. O governo tem vindo a investir em políticas de sustentabilidade ambiental, como a promoção de energias renováveis e a gestão de resíduos.

Desafios e oportunidades:

O declínio populacional pode gerar desafios, como a escassez de mão de obra e a diminuição da taxa de crescimento económico. No entanto, também pode trazer oportunidades para o desenvolvimento de uma economia mais sustentável e para a melhoria da qualidade de vida da população.

Políticas públicas:

A Grécia tem políticas públicas que visam apoiar a população idosa, promover a educação e a saúde, e garantir o acesso a serviços de qualidade.

Exemplo:

A Grécia pode ser um exemplo para outros países que enfrentam desafios demográficos. A combinação de políticas públicas, envelhecimento populacional e outros fatores pode levar a um equilíbrio entre crescimento demográfico e qualidade de vida.

Conclusão:

O decrescimento populacional na Grécia não é sinónimo de crise social ou ambiental. A combinação de políticas públicas, envelhecimento populacional e outros fatores pode levar a um equilíbrio entre crescimento demográfico e qualidade de vida, demonstrando que é possível alcançar a prosperidade social e ambiental mesmo com um declínio populacional.

O exemplo da Grécia, que tem uma idade mediana de 46 anos em 2024, mostra que pode haver decrescimento da população com prosperidade social e ecológica

A Grécia já deu grandes contribuições para a humanidade no passado, mas foi considerada uma “Nação falida” após a crise financeira de 2008. A renda per capita caiu e parecia que a Grécia iria entrar em uma fase de retrocesso do bem-estar, junto ao envelhecimento populacional. Mas, apesar das dificuldades, a Grécia reagiu e tem apresentado certa recuperação do progresso social e ambiental nos últimos 10 anos.

A Grécia tinha uma renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp), de US$ 26,8 mil em 1980 e uma população de 9,6 milhões de habitantes, aumentando para US$ 31,5 mil no ano 2000, com uma população de 10,8 milhões de habitantes. O pico da renda ocorreu em 2007 com US$ 41,9 mil e o pico da população ocorreu em 2011 com 11,1 milhões de habitantes. Na década passada houve decrescimento da economia e da população. A renda per capita atingiu o nível mais baixo do século em 2020, durante a pandemia da covid-19.

Mas na atual década a renda voltou a crescer, mesmo em um quadro de decrescimento populacional. Em 2025, a renda per capita recuperou para US$ 38,6 mil, enquanto a população caiu para 10,4 milhões de habitantes. As estimativas do FMI mostram que a renda per capita grega deve atingir US$ 41,9 mil em 2030, enquanto a população deve diminuir para 10,3 milhões na mesma data, conforme mostra o gráfico abaixo. Ou seja, a redução do volume de habitantes não tem impedido a recuperação do crescimento do poder de compra médio da população grega.

No pensamento convencional, o envelhecimento populacional conjugado com o decrescimento demográfico é interpretado como “armadilha fiscal gerontológica” ou “inverno demográfico” e seria o fim da linha para o desenvolvimento humano de qualquer nação. Contudo, o exemplo da Grécia, que tem uma idade mediana de 46 anos em 2024, mostra que pode haver decrescimento da população com prosperidade social e ecológica.

O gráfico abaixo, do Instituto Global Footprint Network, apresenta os valores da pegada ecológica e da biocapacidade da Grécia de 1961 a 2019, com uma estimativa até 2022. A pegada ecológica serve para avaliar o impacto do ser humano sobre a biosfera. A biocapacidade, avalia o montante de terra, água e demais recursos biologicamente produtivos para prover bens e serviços do ecossistema, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. Ambas as medidas são representadas em hectares globais (gha).

Em 1961, a Grécia tinha uma biocapacidade de 10,9 milhões de gha e uma pegada ecológica de 14,9 milhões de gha. Portanto, havia um pequeno déficit ambiental. Até o final do século XX este déficit aumentou. No ano 2000, a biocapacidade estava em 19,5 milhões de gha e a pegada ecológica em 73,2 milhões de gha (foi o ano do maior déficit ambiental). Mas desde então, o déficit ambiental diminuiu. Em 2022, a pegada ecológica passou para 39,3 milhões de gha e a biocapacidade ficou em 26,7 milhões de gha. Isto significa que ainda existe um déficit ambiental, mas ele diminui em 50% dede o ano 2000.

De fato, a diminuição da população em idade ativa significou o fim do 1º bônus demográfico. Mas a Grécia contou com o 2º bônus demográfico – bônus da produtividade – e o 3º bônus demográfico – bônus da longevidade e da geração prateada. O padrão da produção se alterou e contribuiu para a melhoria das condições ambientais.

Esta visão sobre o decrescimento populacional como oportunidade de progresso social e ambiental é apontada pelo renomado demógrafo Wolfgang Lutz, que traça um quadro bastante otimista do futuro da civilização humana se for dada prioridade à educação universal e, em particular, à educação feminina:

“Mais investimento em educação compensa em termos de maior bem-estar, e ainda mais quando combinado com níveis de fecundidade que levam ao declínio populacional a longo prazo em países individuais e, em última análise, em todo o mundo. Portanto, esta conclusão apoia o título do artigo, que afirma que o declínio da população global não é apenas provável, mas também irá beneficiar o bem-estar humano a longo prazo” (Lutz, 2023, p. 13).

Desta forma, o envelhecimento populacional é inexorável, mas isto não implica necessariamente em retrocesso nos indicadores sociais. O mundo será um lugar melhor para se habitar se o decrescimento populacional dos países for acompanhado do aumento da renda per capita e da redução da pegada ecológica e do déficit ambiental. Um mundo com menor quantidade de pessoas, pode ser um mundo com maior qualidade de vida humana e ecológica.

Pirâmide populacional do Grécia em 2025

O avanço tecnológico pode compensar a diminuição do número de trabalhadores. Por exemplo, a Inteligência Artificial (IA) – a despeito de seus efeitos potencialmente perigosos – pode contribuir para mitigar as tendências de declínio da população em idade produtiva, mesmo não substituindo completamente o trabalho humano. A IA pode ajudar a aumentar a produtividade, transformar setores e criar novas oportunidades, compensando, em parte, a escassez de mão de obra, podendo contribuir da seguinte forma:

1. Aumento da produtividade

A IA pode automatizar tarefas repetitivas e rotineiras, liberando os trabalhadores humanos para focarem em tarefas mais complexas e de maior valor agregado. Isso é especialmente importante em setores como a manufatura, serviços financeiros, saúde e logística, onde a automação já está permitindo operações mais eficientes.

2. Compensação em setores críticos

Nos cuidados de saúde e na assistência aos idosos, onde a demanda aumentará devido ao envelhecimento populacional, a IA pode desempenhar um papel crucial. Sistemas baseados em IA podem ajudar no diagnóstico precoce de doenças, monitoramento de pacientes e administração de medicamentos, reduzindo a carga sobre médicos, enfermeiros e cuidadores.

3. Economia baseada em habilidades tecnológicas

Com a adoção de IA, muitos setores estão se transformando, exigindo novas habilidades. Isso pode compensar o decrescimento da força de trabalho em setores mais tradicionais, desde que as economias estejam preparadas para transições tecnológicas. A educação e a requalificação serão cruciais para permitir que as pessoas se adaptem a essas mudanças.

4. Autonomia em infraestrutura e transportes

Sistemas autônomos, como veículos sem motorista e drones, podem reduzir a necessidade de trabalhadores em setores como transporte e logística. Essas inovações também podem ser aplicadas em infraestruturas inteligentes para melhorar a eficiência de cidades e indústrias, com menos necessidade de mão de obra direta.

5. Melhoria da eficiência econômica

A IA pode ajudar a otimizar processos econômicos em várias escalas. Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados e prever padrões, a IA pode identificar áreas de melhoria nas cadeias de suprimento, na alocação de recursos e no consumo de energia, aumentando a produtividade geral da economia.

6. Automação de trabalhos intelectuais

Além dos trabalhos manuais, a IA também pode assumir tarefas que tradicionalmente requerem habilidades cognitivas, como análises financeiras, geração de conteúdo e tomada de decisões estratégicas, o que pode compensar a falta de profissionais em certos campos especializados.

Como disse Larry Fink, Chairman and CEO at BlackRock (2025): “Há uma preocupação de que a IA possa eliminar empregos. É uma preocupação válida. Mas em sociedades ricas e envelhecidas que enfrentam escassez inevitável de mão de obra, a IA pode ser menos uma ameaça do que uma tábua de salvação”.

Evidentemente, o progresso tecnológico não é inevitavelmente positivo, uma vez que ele precisa ser orientado por escolhas conscientes que busquem beneficiar o coletivo e não apenas o poder econômico. Para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem a maioria da população e não apenas uma elite é importante garantir o funcionamento de instituições fortes e inclusivas, possibilitando um futuro mais próspero e equitativo para todas as pessoas.

As transições demográfica, energética e tecnológica podem reconfigurar a dinâmica social e econômica no século XXI.

O caso da Grécia deve servir de inspiração para os demais países do mundo, especialmente para aqueles países que apresentam grande crescimento populacional e baixo crescimento econômico, visando a redução da pobreza e o aumento da qualidade de vida humana e ambiental. (ecodebate)

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