A diversidade etária é um dos
pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico, a inovação e a
sustentabilidade
Os 30 anos dourados –
transcorridos entre 1950 e 1980 – registraram as maiores taxas de crescimento
da população, da economia e da renda per capita da história, tanto no mundo
quanto no Brasil. A partir de 1980, porém, esse ritmo de expansão demoeconômica
começou a desacelerar globalmente, com um impacto ainda mais significativo no cenário
nacional.
Após quase cinco séculos de
contínuo crescimento populacional e alta predominância de jovens, a principal
transformação demográfica do século XXI será a alteração na estrutura etária.
Pela primeira vez na história, a maioria dos países e regiões já possuem mais
idosos (60 anos ou mais) do que crianças de 0 a 4 anos e, em breve, o número de
idosos superará o de crianças e jovens de 0 a 14 anos. Até 2100, estima-se que
30% da população mundial terá 60 anos ou mais, podendo essa proporção alcançar
40% no Brasil.
Sob uma perspectiva
pessimista, o envelhecimento populacional pode representar desafios
significativos, levando a um fenômeno conhecido como “inverno demográfico” ou
“armadilha fiscal geriátrica”. Nesse cenário, o crescimento econômico torna-se
inviável, resultando em estagnação ou até retrocesso do progresso social.
Por outro lado, em uma perspectiva mais otimista, o envelhecimento populacional pode ser encarado como uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social, impulsionado por transformações intergeracionais e pela valorização das faixas etárias localizadas na parte superior da pirâmide populacional.
O crescimento da população de 50 anos e mais de idade e a economia prateada.
A população brasileira de
0-59 anos era de 51,3 milhões de pessoas em 1950 e chegou ao pico de 179
milhões em 2020, um crescimento de 3,5 vezes em 70 anos. Mas já está
diminuindo. A Divisão de População da ONU estima que o grupo 0-59 anos ficará
em 98 milhões de pessoas em 2100, ou seja, reduzindo quase pela metade nos 80
anos entre 2020 e 2100.
Em contraste, a população de
60 anos e mais era de 29,7 milhões de idosos em 2020 e deve passar para 65
milhões em 2100, um crescimento de 2,2 vezes entre 2020 e 2100. Portanto, já
está havendo redução da parte da pirâmide abaixo de 60 anos e aumento da parte
superior. Sem dúvida, as gerações prateadas terão um peso cada vez maior no
Brasil nas décadas vindouras.
O processo de mudança da
estrutura etária da população brasileira pode ser visto na figura abaixo, com
quatro gráficos com dados da Divisão de População da ONU. O gráfico de 1985
mostra que a população brasileira de 1985 era de 135 milhões de habitantes, com
uma idade mediana de 20 anos (metade da população tinha menos de 20 anos e a
outra metade tinha mais de 20 anos).
Nota-se que o número de
pessoas em cada idade era sempre maior quanto mais próximo da base. Em 1985, o
número de crianças de 0 a 1 ano de idade era de quase 4 milhões de pessoas, o
número de pessoas com 50 anos era de 975 mil pessoas e o número de pessoas
centenárias (100 anos ou mais) era de somente 1 mil pessoas.
Em 2025, a população brasileira está estimada em 213 milhões de habitantes, com uma idade mediana de 35 anos. O número de crianças de 0 a 1 ano de idade caiu para 2,5 milhões de pessoas, o número de pessoas com 50 anos passou para 2,8 milhões de pessoas e o número de centenários está estimado em 9 mil pessoas.
Para 2050, a população brasileira deve ser de 217 milhões de habitantes, com uma idade mediana de 44 anos. O número de crianças de 0 a 1 ano de idade deve cair para 2 milhões de pessoas, o número de pessoas com 50 anos deve subir para 3,1 milhões de pessoas e o número de centenários pode alcançar 73 mil pessoas.
No final do século, a
população brasileira deve ser de 163 milhões de habitantes, com uma idade
mediana de 51 anos. O número de crianças de 0 a 1 ano de idade deve cair para
somente 1,3 milhão de pessoas, o número de pessoas com 50 anos deve ficar em
1,9 milhão de pessoas e o número de centenários pode alcançar 619 mil pessoas.
Por conseguinte, o Brasil
vive uma nova dinâmica demográfica: a população brasileira abaixo de 60 anos já
está encolhendo, a população total vai começar a decrescer a partir da década
de 2040, enquanto a proporção de idosos é a faixa que mais cresce e continuará
crescendo ao longo do atual século. Neste quadro, as gerações prateadas vão ter
uma importância cada vez maior para a economia brasileira.
Neste cenário, os idosos não
devem ser vistos como um problema que obstaculiza o futuro, mas sim como parte
da solução para uma nova realidade econômica inserida em uma diferente
configuração da estrutura etária. Ao integrar essa população ao mercado de
trabalho, ao 3º setor e ao consumo sênior, é possível transformar o envelhecimento
populacional em uma oportunidade, gerando benefícios para a sociedade, as
empresas e os próprios idosos.
No entanto, isso requer
políticas públicas eficazes, mudanças de mentalidade, investimento em
capacitação e a superação das barreiras culturais do etarismo. A maior
longevidade viabiliza o convívio de diferentes gerações.
A diversidade etária é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico, a inovação e a sustentabilidade, especialmente em um contexto de envelhecimento populacional.
Economia prateada: o mercado que cresce com a idade
A economia da longevidade com
maior convivência intergeracional fortalece a economia por meio da
complementariedade de habilidades e experiências, inovação e criatividade e
resiliência e adaptação a mudanças demográficas nas famílias e na sociedade, da
seguinte forma:
Jovens, adultos e idosos trabalhando juntos
potencializam os benefícios individuais e coletivos. A colaboração da juventude
(com habilidades tecnológicas e criatividade) e dos idosos (com experiência e
conhecimento acumulado) cria um ambiente de trabalho mais dinâmico e produtivo.
• A mentoria e o aprendizado
intergeracional trazem ganhos inegáveis, pois os profissionais mais velhos
podem atuar como mentores, transmitindo conhecimentos tácitos e práticos para
os mais jovens, enquanto estes podem ajudar os idosos a se adaptarem às novas
tecnologias e tendências.
• As diversidades de
perspectivas impulsionam equipes com membros de diferentes idades, trazendo
visões variadas sobre problemas e soluções, o que pode levar a inovações mais
robustas e adaptadas a um público diversificado.
• A presença de idosos nos
mercados de trabalho e de consumo ajuda as empresas a entenderem melhor as
necessidades da população mais velha, impulsionando a criação de produtos e
serviços específicos para esse grupo (como tecnologias assistivas, turismo
adaptado, cuidados de saúde personalizados, etc.).
• A experiência dos idosos,
combinada com a energia e a inovação dos mais jovens, pode aumentar a
produtividade geral das empresas e da economia, garantindo a sustentabilidade
do sistema de produção de bens e serviços.
• A diversidade etária
promove a inclusão dos idosos na sociedade, combatendo estereótipos negativos e
o preconceito relacionado à idade. Empresas que adotam políticas de diversidade
etária tendem a ser mais inclusivas e atraentes para talentos de todas as
idades, melhorando sua reputação e competitividade.
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