Novo estudo reforça a
urgência do corte de emissões, mostrando como o degelo na Antártida pode
desencadear um efeito dominó sem volta, elevando o nível do mar em vários
metros.
Um estudo da Australian
National University (ANU) adverte que a Antártida está perigosamente próxima de
pontos de ruptura irreversíveis.
De acordo com a pesquisa,
mudanças abruptas no manto de gelo do continente podem desencadear
consequências catastróficas que se estenderão por milênios, comprometendo o
futuro de gerações, se as emissões de gases de efeito estufa não forem
drasticamente reduzidas.
A pesquisa vai além de
projeções de curto prazo e traça um panorama de como as ações humanas nas
próximas décadas serão decisivas para o destino de cidades costeiras e
populações inteiras nos próximos séculos.
O conceito: “Committed
Sea-Level Rise” (Aumento Comprometido do Nível do Mar)
A chave para entender a
gravidade do estudo está no conceito de “comprometimento”. Isso significa que
mesmo após pararmos de emitir gases de efeito estufa, certos processos
climáticos continuarão em movimento por séculos, como um superpetroleiro que
não pode parar instantaneamente.
O estudo foca em dois dos
maiores e mais vulneráveis manto de gelo da Antártida:
1. Manto de Gelo da Antártida
Ocidental: Grande parte deste manto de gelo está assentado sobre um leito
rochoso abaixo do nível do mar, tornando-o extremamente vulnerável ao
aquecimento das águas oceânicas. Se esse gelo entrar em colapso, seu potencial
de elevação do mar é medido em metros.
2. Manto de Gelo da Antártida
Oriental (Bacia de Aurora): Por muito tempo considerado estável, os cientistas
agora sabem que esta vasta região também é vulnerável. Seu colapso
representaria outra elevação catastrófica do nível do mar global.
O grande perigo, segundo a
pesquisa, é que o aquecimento atual pode estar prestes a cruzar os limiares
críticos que desestabilizam essas massas de gelo. Uma vez iniciado, esse
processo de degelo se torna autossustentável e praticamente impossível de parar
por milhares de anos.
Os cenários:
A pesquisa da ANU modelou
dois caminhos possíveis:
• Cenário de Altas Emissões
(o pior caso): Se continuarmos a queimar combustíveis fósseis de forma
descontrolada, arriscamos desencadear um colapso rápido e generalizado das
camadas de gelo. O resultado seria um aumento do nível do mar de metros, não centímetros,
remodelando completamente o litoral global. Cidades como Rio de Janeiro, Recife, Santos e Nova
York enfrentariam inundações permanentes e teriam que ser abandonadas ou
protegidas por diques monumentais.
• Cenário de Cortes Profundos de Emissões (o caminho da esperança): Se agirmos com extrema urgência para reduzir as emissões a zero, podemos estabilizar a temperatura global e, consequentemente, a Antártida. Isso não impediria todo o aumento do nível do mar, mas daria à humanidade e aos ecossistemas um tempo crucial para se adaptarem a mudanças mais graduais e menos catastróficas.
Antártida entra em fase crítica de mudanças aceleradas devido ao clima
Uma janela de ação que se
fecha rapidamente
A mensagem central do estudo
é clara: a janela para evitar as consequências mais devastadoras ainda está
aberta, mas está se fechando rapidamente. As decisões tomadas por governos e
líderes industriais hoje, e a pressão da sociedade por ações concretas,
definirão qual dos dois cenários se tornará realidade.
Não se trata mais de salvar o
planeta para nós mesmos, mas de garantir um futuro habitável para as gerações
que ainda estão por vir. A estabilidade da Antártida é, portanto, não apenas
uma questão científica, mas uma das questões éticas e políticas mais
definidoras do nosso tempo.
A catástrofe não é
inevitável, mas evitá-la requer uma mudança de curso imediata e decisiva.
(ecodebate)
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