segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Atividade humana reduz estoques naturais de carbono na terra em 24%

Uma equipe liderada pelo geógrafo da LMU, Raphael Ganzenmüller, calculou que a influência humana reduziu os estoques naturais de carbono da terra em um total de 24% — o que corresponde a 344 bilhões de toneladas métricas de carbono.

Atividade humana reduz estoques naturais de carbono na terra em 24%, diz estudo.

Estudo revela perda de 344 bilhões de toneladas de carbono no solo por atividades humanas

Pesquisa quantifica que impacto do desmatamento e agricultura no ciclo global de carbono equivalente a 50 anos de emissões fósseis

Déficit representa 24% dos estoques naturais de carbono terrestre e aponta potencial da restauração ecológica para metas climáticas globais

Atividades humanas, como o desmatamento e a expansão de áreas agrícolas, têm um impacto enorme no estado natural dos ecossistemas. Como resultado, grandes quantidades de carbono são liberadas na atmosfera, contribuindo substancialmente para as mudanças climáticas antropogênicas.

Uma equipe liderada pelo geógrafo da LMU, Raphael Ganzenmüller, calculou que a influência humana reduziu os estoques naturais de carbono da terra em um total de 24% — o que corresponde a 344 bilhões de toneladas métricas de carbono.

Combinando dados de observação da Terra de alta resolução com dados históricos e atuais de uso do solo e aprendizado de máquina, a equipe criou uma estimativa global detalhada. Os pesquisadores também conseguiram demonstrar que a maior parte da perda é causada pela expansão de pastagens e terras agrícolas, bem como pelo manejo florestal.

“Nosso estudo revela o amplo impacto humano no ciclo global do carbono”, explica Raphael Ganzenmüller. “O déficit de 344 bilhões de toneladas métricas de carbono é comparável em tamanho às emissões globais de CO2 provenientes do carvão, petróleo e gás natural nos últimos 50 anos. Nossa abordagem fornece uma imagem clara de onde e como a vegetação e os solos foram degradados e pode ser usada como um indicador geral do estado dos ecossistemas”.

Julia Pongratz, Professora de Geografia Física e Sistemas de Uso do Solo na LMU, acrescenta: “Nosso estudo fornece insights importantes para a política climática. Por exemplo, os resultados podem ser usados para avaliar medidas de remoção de carbono. Além disso, eles ressaltam o grande potencial da restauração dos estoques de carbono na terra para atingir as metas climáticas globais”.

As descobertas são relevantes tanto para formuladores de políticas quanto para cientistas: elas fornecem uma base importante para priorizar a conservação e a restauração de sumidouros de carbono e oferecem oportunidades para melhorar os modelos climáticos existentes e suas projeções.

O déficit de carbono terrestre e os seus fatores determinantes

O déficit de carbono terrestre refere-se à diferença entre a quantidade de carbono que a natureza absorve e a quantidade que é liberada para a atmosfera devido a atividades humanas. O desmatamento e a expansão agrícola são os principais fatores que contribuem para esse déficit, liberando grandes quantidades de carbono para a atmosfera e reduzindo a capacidade da natureza de absorver esse gás.

Causas do déficit de carbono terrestre:

Desmatamento:

A remoção de árvores e vegetação libera o carbono armazenado na biomassa para a atmosfera, além de reduzir a capacidade de absorção de carbono da floresta.

Agricultura:

A conversão de áreas naturais em terras agrícolas, juntamente com práticas agrícolas inadequadas, pode liberar grandes quantidades de carbono para a atmosfera, além de reduzir a capacidade de sequestro de carbono do solo.

Queima de combustíveis fósseis:

Embora não seja diretamente relacionado ao carbono terrestre, a queima de combustíveis fósseis libera grandes quantidades de CO2 na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa e as mudanças climáticas, que por sua vez podem afetar os ecossistemas terrestres e aumentar o déficit de carbono.

Consequências do déficit de carbono terrestre:

Mudanças climáticas:

O aumento da concentração de CO2 na atmosfera devido ao déficit de carbono terrestre intensifica o efeito estufa, levando ao aquecimento global e a mudanças climáticas extremas.

Impactos na biodiversidade:

As mudanças climáticas podem afetar a distribuição de espécies, habitats e ecossistemas, levando à perda de biodiversidade.

Impactos na agricultura:

O aumento da temperatura e mudanças nos padrões de chuva podem afetar a produção agrícola, com potenciais consequências para a segurança alimentar.

Possíveis soluções:

Restauração florestal:

Recomenda-se reflorestar áreas degradadas e proteger as florestas existentes para aumentar a capacidade de absorção de carbono.

Práticas agrícolas sustentáveis:

Adotar práticas agrícolas que reduzam as emissões de carbono, como o uso de sistemas agroflorestais e a redução do uso de fertilizantes.

Redução da queima de combustíveis fósseis:

A transição para fontes de energia renovável e a melhoria da eficiência energética são cruciais para reduzir as emissões de carbono.

Carbono na agricultura: produtividade e meio ambiente

Agricultura brasileira se destaca como modelo de sustentabilidade

É importante ressaltar que o déficit de carbono terrestre é um problema complexo que requer ações coordenadas em diferentes níveis, desde a restauração de ecossistemas até a mudança de hábitos de consumo e a adoção de políticas públicas eficazes, de acordo com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU. (ecodebate)

População e armadilha da pobreza na República Democrática do Congo

A população da República Democrática do Congo enfrenta a armadilha da pobreza devido a uma combinação de fatores históricos e atuais, como o legado da exploração colonial, décadas de conflitos e violência de grupos armados, a corrupção e o subfinanciamento da ajuda humanitária. Esses fatores resultam em um cenário de extrema pobreza, com milhões de pessoas deslocadas, fome, subnutrição, doenças e violações de direitos humanos, especialmente contra mulheres e crianças. A riqueza mineral do país não se reflete em bem-estar para a população, criando um ciclo vicioso que mantém o país na pobreza, agravado pela falta de estabilidade e pelo crescimento populacional.

Fatores que contribuem para a armadilha da pobreza:

Conflitos e violência:

Décadas de guerras e a presença de centenas de grupos armados causam deslocamento de pessoas, destruição de lares e uma violência generalizada, que afeta principalmente as mulheres e crianças.

Falta de recursos e subfinanciamento:

Apesar da riqueza mineral, a ajuda humanitária é insuficiente, com o plano de resposta humanitária a estar gravemente subfinanciado, o que agrava a crise e limita a assistência vital.

Legado histórico:

O país carrega o legado de exploração colonial e a ineficácia de governos pós-independência, que não conseguiram promover o desenvolvimento e a estabilidade.

Corrupção:

A corrupção sistêmica impede que a riqueza do país seja utilizada para benefício da população, contribuindo para o ciclo de pobreza.

Crise climática:

O agravamento da crise climática e ambiental também impacta a sustentabilidade e a segurança alimentar da população.

Impacto na população:

Extrema pobreza:

Cerca de 73,5% dos congoleses vivem com menos de US$ 2,15 por dia.

Deslocamento forçado:

Milhões de pessoas são forçadas a fugir de suas casas devido aos conflitos, vivendo em campos de refugiados e em condições precárias.

Fome e subnutrição:

A fome e a subnutrição atingem níveis alarmantes, especialmente entre as crianças, causando atrasos no crescimento e prejudicando o desenvolvimento cognitivo.

Doenças:

A falta de saneamento básico, a água potável limitada e as condições precárias de vida aumentam o risco de doenças infecciosas como a cólera.

Violações de direitos humanos:

Grupos armados cometem violações graves dos direitos humanos, incluindo assassinatos, violência sexual e recrutamento forçado de crianças.

Perspectivas futuras:

A previsão é que a população da RDC quadruplique até o final do século, o que, sem intervenção, pode agravar a pobreza, a fome e a crise ambiental. A comunidade internacional precisa apoiar o país para garantir o acesso a recursos, estabilidade e para implementar políticas de regulação da fecundidade que possam ajudar a superar o atraso econômico e social e evitar um futuro de mais sofrimento.

A República Democrática do Congo só conseguirá vencer a pobreza, a fome e o baixo IDH se avançar com a transição demográfica.

A República Democrática do Congo (antiga República do Zaire) é o segundo maior país da África em extensão territorial, com uma área de 2,3 milhões de km2, uma população de 112 milhões de habitantes em 2025 e uma densidade demográfica de 50 habitantes por km2. É o quarto país mais populoso da África, ficando atrás somente da Nigéria, Etiópia e Egito.

Faz fronteira a norte com a República Centro-Africana e com o Sudão do Sul, a leste com Uganda, Ruanda, Burundi e a Tanzânia, a leste e a sul com a Zâmbia, a sul com Angola e a oeste com o oceano Atlântico, com o enclave de Cabinda e com o Congo.

O gráfico abaixo mostra a população e a renda per capita da República Democrática do Congo de 1950 a 2022. A população era de 12,3 milhões de habitantes em 1950, chegou a 22,4 milhões em 1974 e deu um salto para 102,4 milhões de habitantes em 2022. Segundo a Divisão de População da ONU, a RD do Congo deve chegar a 430 milhões de habitantes em 2100, devendo superar a população dos Estados Unidos da América (EUA).

Enquanto a população cresceu 8,3 vezes em 72 anos, a renda per capita seguiu caminho oposto, fazendo com que a RD do Congo ficasse presa na armadilha da pobreza. A renda per capita, em poder de paridade de compra, era de US$ 909 em 1950, subiu para o pico de US$ 1,3 mil em 1974 e caiu para US$ 844 em 2022. Ou seja, a renda per capita diminuiu entre 1950 e 2022. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi de 0,522, ficando em 171º lugar no ranking global.

O exemplo da RD do Congo se contrapõe à tese do economista neoliberal Julian Simon, conhecido por defender que mais pessoas significam mais cérebros, mais criatividade e, portanto, mais desenvolvimento. Sua frase famosa — “people are the ultimate resource” — resume sua tese: a população humana não é um fardo, mas a principal fonte de progresso. Para ele, quanto mais pessoas é melhor.

Porém, a realidade de países como a República Democrática do Congo (RDC) evidencia limites e erros dessa visão populacionista quando aplicada de forma generalizada. Vamos listar os principais erros conceituais e práticos da visão de Simon:

• Superestimação do potencial humano sem considerar o contexto

Simon via cada ser humano como um solucionador de problemas em potencial, mas ignorava que o desenvolvimento das capacidades humanas exige condições mínimas: educação, saúde, segurança alimentar, infraestrutura e estabilidade. Na RDC, milhões de crianças não têm acesso à escola ou são deslocadas por conflitos. O “recurso humano” existe, mas está subutilizado ou abandonado.

• Desconsideração dos limites institucionais e políticos

Simon focava no indivíduo, mas subestimava o papel das instituições (Estado, leis, governança). Sem instituições sólidas, o crescimento populacional pode resultar em mais desemprego, informalidade e conflitos sociais. Na RDC, décadas de corrupção, guerras civis e ausência de políticas públicas eficazes impediram que a população se transformasse em ativo econômico.

• Negligência sobre o tempo de maturação do capital humano

Simon tratava o crescimento populacional como uma riqueza imediata. Porém, formar capital humano leva tempo — décadas, em alguns casos. Em contextos como o da RDC, onde os investimentos em saúde e educação foram insuficientes ou interrompidos, a “riqueza demográfica” tornou-se um fardo social.

• Ignorar os custos sociais e ambientais do crescimento populacional rápido

Mais gente significa maior demanda por água, alimentos, energia, habitação, transporte e empregos. Sem planejamento urbano, infraestrutura e regulação ambiental, o crescimento populacional pode levar à degradação ambiental e crise social. A RDC, rica em recursos naturais, sofre com mineração predatória, desmatamento, deslocamentos forçados, conflitos religiosos e insegurança alimentar, tudo agravado pelo crescimento desordenado.

• Aplicação acrítica de experiências do Norte Global ao Sul Global
Crise no Congo se aprofunda cada vez mais e ajuda humanitária é urgente

Simon baseava suas ideias em exemplos dos EUA e de países desenvolvidos, onde o crescimento populacional ocorreu junto com inovação, urbanização e investimento em capital humano. Transferir essa lógica para países com fracas capacidades estatais, como a RDC, é um erro metodológico, mesmo porque todos os países ricos passaram pela transição demográfica e aproveitaram o 1º bônus demográfico.

O erro principal de Julian Simon foi confundir potencial com realidade. O crescimento populacional pode ser um fator positivo para o desenvolvimento — desde que acompanhado de investimento social, instituições sólidas e políticas públicas eficazes. Além disto, é preciso considerar o papel da transição demográfica, pois não existe país rico e com alto IDH que não tenha reduzido as taxas de mortalidade e natalidade. A RDC mostra que, sem essas bases, o crescimento populacional pode resultar em empobrecimento e instabilidade, exatamente o oposto do que Simon previa.

Ao contrário de Julian Simon, o livro Rumo à Utopia: Uma História Econômica do Século XX” (o título original em inglês “Slouching Towards Utopia: An Economic History of the Twentieth Century”) de J. Bradford DeLong (2022) oferece uma narrativa abrangente e ambiciosa da história econômica do que ele chama de “o longo século XX” – que se estende aproximadamente de 1870 a 2010.

Para o autor, antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento avanço das invenções compensado por uma população crescente. Então, ocorreu uma grande mudança: a invenção avançou a toda velocidade, dobrando nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia repetidamente, com grande aumento da produção de bens e serviços. Ao mesmo tempo a transição demográfica reduziu o crescimento populacional e provocou uma mudança na estrutura etária que abriu uma janela de oportunidade para erradicar a pobreza e a fome e garantir o bem-estar da maioria da população.

Portanto, a República Democrática do Congo só conseguirá vencer a pobreza, a fome e o baixo IDH se avançar com a transição demográfica viabilizando o investimento em saúde, educação e em um mercado de trabalho cada vez mais produtivo.

Também o livro “A Jornada da Humanidade: Uma História Econômica do Mundo”, de Oded Galor, oferece uma teoria unificada e abrangente da história econômica global. O cerne de sua argumentação é que a humanidade esteve presa por milênios em um regime malthusiano, onde qualquer avanço tecnológico resultava apenas em mais pessoas vivendo no limiar da subsistência, sem um aumento sustentável da prosperidade per capita, onde a transição demográfica desempenha um papel absolutamente central.

Galor começa descrevendo a vasta extensão da história humana sob o regime malthusiano. Nesse período, inovações tecnológicas (como novas ferramentas ou técnicas agrícolas) levavam ao aumento temporário da renda. No entanto, essa renda extra era rapidamente “consumida” por um aumento da população, já que mais recursos permitiam que mais pessoas sobrevivessem e tivessem filhos. O resultado era que a renda per capita retornava ao seu nível de subsistência. A população crescia, mas a maioria continuava pobre.

República Democrática do Congo vive uma das piores crises de fome do mundo

O cerne da explicação de Galor para a “fuga” do regime malthusiano e o início do crescimento econômico sustentado é a transição demográfica. Ele argumenta que essa transição não foi apenas uma consequência do desenvolvimento, mas um motor essencial que realimentou o processo de crescimento. De acordo com Galor, o processo se desenrolou da seguinte forma:

1. Aceleração do Progresso Tecnológico: Lentamente, ao longo dos séculos, e de forma mais acentuada com a Revolução Industrial, a taxa de progresso tecnológico começou a acelerar. As inovações tornaram-se mais frequentes e impactantes.

2. Aumento da Importância do Capital Humano: Com o avanço tecnológico, o valor da educação e das habilidades no mercado de trabalho aumentou. As ocupações baseadas no conhecimento e na tecnologia passaram a gerar maiores retornos, enquanto o trabalho manual não qualificado se tornava menos valioso.

3. Investimento na Qualidade dos Filhos: Diante dessa nova realidade, as famílias perceberam que investir na educação de seus filhos — aumentando seu “capital humano” — traria maiores benefícios econômicos no futuro. Educar bem muitos filhos era caro.

4. A Queda da Natalidade: Este é o ponto crucial da transição demográfica para Galor. As famílias começaram a optar por ter menos filhos, mas investir muito mais em cada um deles, garantindo-lhes educação, saúde e melhores perspectivas. Isso marcou o abandono da estratégia de “muitos filhos” (quantidade) para uma de “melhores filhos” (qualidade).

5. Ciclo Virtuoso de Crescimento: A redução da taxa de natalidade, combinada com a continuação da queda da mortalidade (especialmente infantil), levou a um menor crescimento populacional (ou até a estabilização/declínio em fases posteriores). Isso significava que os frutos do progresso tecnológico não eram mais totalmente “comidos” pelo aumento populacional. A riqueza gerada podia, então, ser acumulada e investida, levando a um aumento sustentado da renda per capita. Além disso, uma população mais educada e saudável era ainda mais inovadora, realimentando o ciclo de progresso tecnológico e crescimento.

Portanto, a experiência mundial mostra que a transição demográfica é um pré-requisito para vencer a armadilha malthusiana ou armadilha da extrema pobreza. A população da RDC está prevista para quadruplicar no restante do século. Isto significaria o aumento da pobreza, agravada pela crise climática e ambiental. A comunidade internacional deveria ajudar a RDC a garantir os direitos de regulação da fecundidade para colher os benefícios do bônus demográfico e deixar para trás o atraso econômico e social.

Um dia a guerra na República Democrática do Congo chegará ao fim. (ecodebate)

domingo, 31 de agosto de 2025

Desvendando as mudanças climáticas

As mudanças climáticas, impulsionadas pelas atividades humanas, estão causando alterações significativas no clima da Terra, com impactos em diversas regiões e setores. O aumento da temperatura global, o derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar são apenas alguns dos efeitos visíveis, com consequências que afetam desde a disponibilidade de água até a segurança alimentar.

Causas e Efeitos:

Emissões de gases de efeito estufa:

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e atividades industriais liberam gases como dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, aprisionando o calor e causando o aquecimento global.

Aquecimento global:

A temperatura média da Terra está aumentando, com a última década (2011-2020) sendo a mais quente já registrada.

Eventos climáticos extremos:

A mudança climática intensifica eventos como secas, inundações, ondas de calor e tempestades, causando perdas humanas, econômicas e ambientais.

Aumento do nível do mar:

O derretimento das geleiras e a expansão térmica da água do mar estão elevando o nível do oceano, ameaçando cidades costeiras e ecossistemas.

Impactos na saúde:

A mudança climática pode aumentar a incidência de doenças respiratórias, doenças transmitidas por vetores e problemas de saúde mental.

Ações para Mitigação e Adaptação:

Redução das emissões:

É crucial reduzir as emissões de gases de efeito estufa por meio da transição para energias renováveis, eficiência energética e práticas agrícolas sustentáveis.

Adaptação às mudanças:

É necessário desenvolver estratégias para se adaptar aos impactos inevitáveis da mudança climática, como o aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos.

Conscientização e educação:

A conscientização pública sobre as mudanças climáticas e suas consequências é fundamental para promover a ação individual e coletiva.

Engajamento político:

É importante que governos e empresas implementem políticas e ações para enfrentar a mudança climática, incluindo investimentos em tecnologias limpas e infraestrutura resiliente.

Conclusão:

As mudanças climáticas são um desafio global que exige ação imediata e coordenada. A conscientização, a educação e o engajamento de todos são cruciais para construir um futuro mais sustentável e resiliente.

O futuro em nossas mãos: Desvendando as mudanças climáticas

Bem-vindos a uma jornada de conhecimento que pode mudar a sua perspectiva sobre o mundo. O clima do nosso planeta está em constante transformação, e as mudanças climáticas são, sem dúvida, um dos maiores desafios da nossa era.

Este texto foi criado para ajudar você a entender o que está acontecendo, porque está acontecendo, quais são as consequências e, o mais importante, o que podemos fazer a respeito.

Prepare-se para desvendar a “nova realidade climática” e descobrir como a ciência, a sociedade e a ação individual são cruciais para moldar o nosso futuro.

1. O que está acontecendo com o clima?

O aquecimento global e as mudanças climáticas são termos que ouvimos com frequência, mas você sabe realmente o que eles significam? Basicamente, o nosso planeta está aquecendo a uma taxa sem precedentes, e isso está causando uma série de alterações em todo o sistema climático.

1.1 Gases de Efeito Estufa: Os Vilões Invisíveis A principal causa desse aquecimento é o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Esses gases, como o dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso, atuam como um cobertor, retendo o calor do sol e aquecendo a Terra. Em 2024, as concentrações desses gases atingiram níveis recordes históricos.

• O CO2 médio global chegou a 422,8 partes por milhão (ppm), um aumento de 52% em relação aos níveis pré-industriais (~278 ppm).

• O crescimento anual do CO2 acelerou significativamente, passando de 0,6 ppm por ano na década de 1960 para uma média de 2,4 ppm por ano entre 2011 e 2020, e um crescimento de 3,4 ppm de 2023 para 2024. As atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, são as grandes responsáveis por essa liberação, com cerca de 53 bilhões de toneladas de CO2 equivalente liberadas por ano na última década.

1.2 Temperaturas em Ascensão: Um Recorde Atrás do Outro O resultado direto é um aumento implacável das temperaturas. Em 2024, a temperatura anual da superfície global estabeleceu um novo recorde, pelo segundo ano consecutivo, superando os registros desde meados de 1800.

• A temperatura global foi de 1,13 a 1,3°C acima da média de 1991-2020.

• Um forte evento de El Niño, que começou em 2023 e terminou em 2024, contribuiu para esse calor recorde.

• Os últimos 10 anos (2015-2024) foram os mais quentes já registrados. O relatório “Indicators of Global Climate Change” revela que o ritmo do aquecimento global praticamente dobrou desde a década de 1980. Em 2024, o aquecimento observado já atingiu 1,52°C acima dos níveis pré-industriais, sendo 1,36°C diretamente atribuído à atividade humana. É importante lembrar que atingir 1,5°C em um único ano não é o mesmo que um aquecimento de longo prazo, mas é um sinal alarmante. O aquecimento só cessará quando as emissões de CO2 chegarem a zero líquido.

1.3 Oceanos em Perigo: Mais Quentes, Mais Altos e Mais Ácidos Os oceanos são reguladores cruciais do clima, mas também estão sofrendo impactos severos.

• Os oceanos absorveram mais de 90% do excesso de energia retido pelos gases de efeito estufa.

• Em 2024, o conteúdo global de calor do oceano (até 2000m de profundidade) atingiu novos recordes.

• As temperaturas médias diárias da superfície do mar também registraram níveis recordes desde o início de 2024 até junho, com a média anual de 2024 superando o recorde anterior de 2023.

• Aproximadamente 91% da superfície do oceano experienciou pelo menos uma onda de calor marinha em 2023.

• O nível médio global do mar bateu recorde pelo 13º ano consecutivo, chegando a 105,8 mm acima da média de 1993. O aquecimento dos oceanos e o derretimento de geleiras são os principais contribuintes.

• Além do aquecimento, o oceano também está passando por acidificação, uma ameaça que, por ser mais lenta e com menor possibilidade de reversão, merece grande atenção, especialmente pela concentração populacional e de atividades na zona costeira.

1.4 O Gelo Desaparecendo: Um Sinal Preocupante As calotas polares e as geleiras são indicadores visíveis do aquecimento.

• Em 2024, o Ártico teve o segundo ano mais quente em 125 anos, com o outono registrando calor recorde.

• A extensão máxima de gelo marinho no Ártico em 2024 foi a segunda menor já registrada, e a extensão mínima a sexta menor.

• A Antártida também apresentou níveis baixos de gelo marinho, com extensões mínimas e máximas diárias sendo as segundas mais baixas da história, após 2023.

• Todas as 58 geleiras de referência globais perderam massa em 2024, marcando a maior perda média de gelo em 55 anos. Países como Venezuela e Colômbia já registraram a perda total de algumas de suas geleiras. O encolhimento das camadas de gelo é uma mudança em grande escala que o planeta está passando.

1.5 O Ciclo da Água: Mais Intenso e Imprevisível O aquecimento global também intensifica o ciclo da água, tornando-o mais volátil.

• A evaporação da água da terra no Hemisfério Norte atingiu um dos maiores valores anuais já registrados.

• A atmosfera global continha a maior quantidade de vapor d’água já registrada em 2024.

• Isso resultou em precipitação globalmente alta, tornando 2024 o terceiro ano mais chuvoso desde 1983. Chuvas extremas, como os 250 mm registrados em Dubai em 24 horas (quase 3 vezes a média anual), foram as mais intensas já documentadas. A água é o principal meio pelo qual sentimos os impactos climáticos.

2. Extremos múltiplos e seus efeitos cascata

As mudanças climáticas não se manifestam apenas como um aumento gradual da temperatura. Elas impulsionam eventos climáticos extremos, que estão se tornando mais frequentes, intensos e prolongados.

2.1 Ondas de Calor: Mais Longas e Aceleradas As ondas de calor são um dos perigos mais diretos e silenciosos do aquecimento global.

• Novas pesquisas indicam que as ondas de calor não só se tornarão mais quentes e longas, mas o alongamento delas acelerará a cada fração adicional de grau de aquecimento.

• As ondas de calor mais longas e raras em cada região, que podem durar semanas, são as que apresentam os maiores aumentos de frequência.

• Regiões tropicais e equatoriais, como o Sudeste Asiático e partes da América do Sul e África, provavelmente sofrerão os maiores impactos, com ondas de calor com duração superior a 35 dias ocorrendo 60 vezes mais frequentemente no futuro próximo na África equatorial. A duração de uma onda de calor agrava os riscos para pessoas, animais, agricultura e ecossistemas. Eventos como a cúpula de calor nos EUA, que causou doenças e danos, e o calor sufocante na Europa em 2024, que levou ao fechamento da Torre Eiffel, demonstram a urgência.

2.2 Eventos Compostos: Uma Ameaça Amplificada O aquecimento global também aumenta a probabilidade de eventos extremos compostos.

• São situações em que múltiplos perigos ocorrem simultaneamente ou em rápida sucessão, como ondas de calor, inundações e poluição do ar.

• Esses eventos cobrem áreas maiores, duram mais e causam danos mais severos do que eventos isolados, amplificando os riscos à saúde de maneiras frequentemente ignoradas.

• Exemplos incluem extremos de calor contínuos (diurnos e noturnos), eventos de temperatura e umidade combinadas, e eventos de alta temperatura e ozônio.

2.3 Tempestades e Ciclones Tropicais A atividade de ciclones tropicais em 2024 ficou abaixo da média geral, mas as tempestades ainda estabeleceram recordes e causaram grandes danos. Furacões como Helene e Milton nos EUA, e o Super Tufão Yagi na China e Vietnã, causaram destruição generalizada e centenas de mortes.

2.4 A Realidade Brasileira: Ameaças Regionais O Brasil, devido à sua extensão continental e localização tropical, é um dos países que mais devem sofrer com as mudanças climáticas. O Primeiro Relatório Bienal de Transparência do Brasil à Convenção do Clima identificou 14 ameaças climáticas para as cinco macrorregiões brasileiras, mesmo que as metas do Acordo de Paris sejam atingidas.

• Aumento de temperatura e ondas de calor são apontados com alta confiança em todas as macrorregiões.

• Aumento da chuva anual no Sul e de chuva extrema no Norte, Sudeste e Sul.

• Aumento de secas no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

• Aumento de vento severo nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul.

• Impactos severos nos oceanos da costa brasileira, como aumento do nível do mar, temperatura do mar, ondas de calor marinha e acidificação. Essas projeções mostram que a adaptação é essencial, pois os sinais de mudança continuarão mesmo no cenário mais otimista do Acordo de Paris.

3. Pontos de não retorno: O perigo da irreversibilidade

Imagine um interruptor que, uma vez acionado, não pode ser desligado. No sistema climático, esses são os pontos de não retorno (tipping points).

• São limiares críticos que, uma vez ultrapassados, desencadeiam efeitos em cascata irreversíveis, mesmo que as emissões de carbono sejam reduzidas depois.

• Pequenas mudanças podem iniciar ciclos de reforço que transformam um sistema de um estado estável para um estado profundamente diferente.

• Essa mudança pode levar décadas ou séculos para se estabilizar, e seus impactos totais podem não ser aparentes por centenas ou milhares de anos.

3.1 Sinais de Alerta: O Relatório Global de Pontos de Inflexão O Global Tipping Points Report de 2023 é um chamado urgente.

• O estudo revela que 5 pontos de não retorno já podem ter sido ativados devido ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais.

• Com um aumento de 1,5°C a 2°C, outros sistemas cruciais podem entrar em colapso.

• Os principais riscos identificados incluem:

- Derretimento acelerado das calotas polares (Groenlândia e Antártida Ocidental), elevando o nível do mar.

- Colapso de corais marinhos, essenciais para a biodiversidade oceânica, que já ultrapassaram seu ponto de inflexão e estão sofrendo perda sem precedentes.

- Morte em massa da Floresta Amazônica, transformando-a em savana e liberando quantidades gigantescas de CO2, um risco agravado pelo desmatamento.

- Interrupção de correntes oceânicas, como a AMOC (Circulação Meridional do Atlântico), que regula o clima global e pode mergulhar o noroeste da Europa em invernos rigorosos e comprometer a segurança alimentar global.

- Regiões do permafrost.

- O Mar de Labrador e a circulação de giros subpolares.

3.2 O Efeito Dominó: Uma Cascata de Desastres O cruzamento de um ponto de não retorno pode levar ao desencadeamento de outros, criando uma reação em cadeia de efeitos dominó.

- Por exemplo, o aquecimento do Ártico acelera o derretimento do gelo da Groenlândia, o que pode desacelerar a AMOC, impactando o sistema de monções na América do Sul. As mudanças nas monções podem contribuir para secas na Amazônia, diminuindo sua capacidade de armazenamento de carbono e intensificando o aquecimento.

- Essas “cascatas inflexivas” podem ser mais severas e generalizadas.

3.3 Previsão e Detecção Cientistas usam modelos climáticos avançados, como os 57 modelos da Fase 6 do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP6), para identificar essas mudanças abruptas. Eles aplicam métodos como a detecção de bordas Canny (originalmente usada para imagens de computador) aos dados climáticos para identificar pontos no tempo e no espaço onde ocorreram mudanças abruptas em variáveis como salinidade da superfície do mar e teor de umidade do solo.

- 84% dos modelos climáticos preveem mudanças abruptas em pelo menos um subsistema.

- Com aquecimento de 1,5°C acima da média pré-industrial, 6 em cada 10 subsistemas climáticos estudados apresentaram mudanças abruptas em larga escala em vários modelos.
4. Os impactos diretos na sociedade

As mudanças climáticas não são apenas fenômenos naturais; elas têm consequências profundas e alarmantes para a vida humana e a sociedade.

4.1 Ameaça à Saúde Humana O calor extremo é uma ameaça silenciosa, mas letal.

- Até 2050, cerca de 5 bilhões de pessoas estarão expostas a pelo menos um mês de calor prejudicial à saúde humana. Uma temperatura de 32°C é o limite considerado nocivo, podendo aumentar a mortalidade.

- Cidades brasileiras, como Manaus (258 dias/ano acima de 32°C), Belém, Porto Velho, Rio Branco e Boa Vista, estarão entre as mais quentes do mundo. A combinação de altas temperaturas com alta umidade, especialmente na Amazônia, dificulta a capacidade do corpo de se resfriar, tornando a situação mais perigosa.

- Um estudo de 2021 apontou cerca de meio milhão de mortes anuais devido ao calor excessivo, e o número de doenças crônicas desencadeadas por esse contexto está em crescimento.

- Eventos climáticos compostos (calor, inundações, poluição) amplificam os riscos à saúde, especialmente para populações vulneráveis como idosos ou pessoas com condições preexistentes.

4.2 Crise Alimentar: O Desafio da Produção de Alimentos A agricultura, base da nossa alimentação, está sob grave ameaça.

- Pesquisas indicam que a produtividade de safras globais de trigo, milho e cevada está entre 4% e 13% menor do que seria sem as tendências climáticas observadas.

- Um estudo da Nature projeta uma redução de 24% na produção global de calorias provenientes de culturas básicas até 2100 em um cenário de altas emissões, mesmo com a adaptação dos agricultores.

- Cada grau Celsius adicional de aquecimento global pode reduzir a capacidade mundial de produzir alimentos em 120 calorias por pessoa por dia, o equivalente a 4,4% do consumo diário atual.

- O milho é a cultura mais afetada negativamente, com previsão de queda de quase um quarto no rendimento até o final do século, especialmente na América do Norte e Central, África Ocidental, Ásia Central e Oriental.

- A escassez de água é uma ameaça crescente, com a previsão de que a seca aumentará em mais de 80% das terras agrícolas do mundo até 2050.

- Além disso, as mudanças climáticas intensificam as emissões de gases de efeito estufa da agricultura, degradam o solo, favorecem pragas e doenças, e causam perda de biodiversidade agrícola.

- Os ganhos de trigo no Norte Global não compensarão as perdas de milho no Sul Global, exacerbando as desigualdades alimentares.

4.3 Impacto Econômico: Um Custo Insuportável As consequências econômicas são igualmente devastadoras.

- Um relatório de especialistas em gestão de risco (IFoA) alerta que a crise climática pode reduzir o PIB global em cerca de 50% até 2090, ignorando efeitos severos como pontos de inflexão e migração.

- Outro estudo estima que os danos macroeconômicos de apenas 1°C de aquecimento global já reduzem o PIB mundial em 12%.

- Um cenário de aquecimento “business-as-usual” implica uma perda de bem-estar atual de 25%.

- Os investimentos em adaptação climática, apesar de urgentes, são altamente rentáveis, podendo gerar US$ 10 em benefícios para cada dólar investido ao longo de dez anos, com um retorno potencial de mais de US$ 1,4 trilhão.

4.4 Desigualdade Social e Injustiça Geracional A crise climática aprofunda as injustiças sociais preexistentes, penalizando desproporcionalmente aqueles que menos contribuíram para o problema: as populações mais vulneráveis.

- Países mais pobres concentrarão 80% da população afetada pelo calor extremo até 2050, enquanto apenas 2% viverão nas localidades mais ricas. A falta de acesso a sistemas de saúde ou ar-condicionado agrava a situação.

- Trabalhadores ao ar livre, frequentemente em países de maior risco (como a Índia com 56% de sua força de trabalho ao ar livre), são os mais afetados.

- Em cenários de aquecimento extremo, a mortalidade humana pode chegar a 2 bilhões ou 4 bilhões de óbitos, com grave redução da expectativa de vida.

- As crianças nascidas hoje viverão mais eventos climáticos extremos do que qualquer geração anterior. Mesmo no cenário otimista de 1,5°C, 52% das crianças nascidas em 2020 enfrentarão um número inédito de ondas de calor ao longo da vida, comparado a 16% das nascidas em 1960.

- Em Madagascar, jovens em regiões vulneráveis já enfrentam ansiedade, depressão e desesperança devido a secas, tempestades de areia e escassez de água e alimentos. Isso demonstra que as mudanças climáticas geram uma crise silenciosa de saúde mental.

- No Brasil, tragédias como as de Petrópolis e Rio Grande do Sul expõem a “crueldade social” da falta de políticas públicas e a incompetência governamental em prevenir desastres, deixando milhões de brasileiros pobres e invisíveis vulneráveis. A ausência de dispositivos legais que penalizem a administração pública por omissão agrava o problema.
5. O caminho para a solução: Mitigação e adaptação

Diante desse cenário desafiador, a ação imediata é essencial. Não podemos mais tratar as mudanças climáticas como uma ameaça distante.

5.1 Redução Urgente de Emissões (Mitigação) A principal estratégia é a redução drástica de gases de efeito estufa.

- As emissões globais devem ser reduzidas pela metade até 2030 em comparação com os níveis de 2010.

- Isso exige uma aceleração sem precedentes na descarbonização para atingir emissões líquidas zero e, eventualmente, retornar a níveis abaixo de 1,5°C.

- As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e metas vinculativas atuais limitarão o aquecimento global a apenas cerca de 2,1°C, o que é insuficiente. Por isso, é preciso estabelecer metas mais ambiciosas.

- Políticas devem banir a venda futura de carros a gasolina/diesel, caminhões a diesel e caldeiras a gás, e aumentar o investimento em tecnologias limpas como hidrogênio e amônia verde, e aço verde.

- No setor de alimentos e agricultura, políticas comerciais devem catalisar a produção sustentável e transferir o dinheiro público do setor pecuário para proteínas de origem vegetal, o que também ajuda a proteger ecossistemas como a Amazônia.

5.2 Proteção e Restauração de Ecossistemas Naturais A natureza é uma aliada poderosa na luta contra as mudanças climáticas.

- É crucial proteger e restaurar ecossistemas naturais como florestas e oceanos.

- Isso inclui a valorização justa e transparente da natureza, apoio a iniciativas de conservação lideradas pela comunidade e proteção dos direitos indígenas. Essas ações ajudam a atingir metas de restaurar 30% dos ecossistemas degradados e conservar 30% das terras, águas e mares.

5.3 Investimento em Adaptação e Resiliência Mesmo com a redução de emissões, alguns impactos já são inevitáveis. A adaptação é crucial.

- Ampliar o financiamento para a adaptação e resiliência climática é uma das melhores decisões de desenvolvimento da atualidade, com retorno de US$ 10 para cada dólar investido.

- Benefícios incluem a proteção de vidas (especialmente na saúde, com retornos superiores a 78%), ganhos econômicos (empregos, aumento da produtividade agrícola), e benefícios sociais e ambientais mais amplos (sistemas de saúde aprimorados, biodiversidade).

- Projetos de adaptação geram valor diariamente, mesmo sem a ocorrência de desastres climáticos. Por exemplo, sistemas de irrigação apoiam colheitas diversificadas o ano todo.

- As soluções baseadas na natureza, como proteção de bacias hidrográficas e zonas costeiras, fornecem benefícios ecológicos e de lazer adicionais.

- Quase metade dos investimentos em adaptação também contribuem para a redução de gases de efeito estufa, revelando sinergias importantes entre adaptação e mitigação.

- Para o Brasil, é imperativo fortalecer o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil com recursos e estrutura capilarizada para atuar na prevenção e reação a desastres. Isso inclui investir em infraestrutura resiliente e desenvolver planos de emergência.

- Na agricultura, soluções incluem práticas de conservação de água (cobertura morta, plantio direto), melhoria da infraestrutura de irrigação e investimento em pesquisa e desenvolvimento para evitar declínios na produtividade.

5.4 A Importância da Ciência e Colaboração A ciência do clima é a nossa bússola.

- A observação da Terra por satélites é crucial para monitorar e compreender os pontos de não retorno, acompanhando mudanças em camadas de gelo, taxas de desmatamento, temperaturas oceânicas e salinidade.

- Apesar dos avanços, a pesquisa climática precisa de investimento contínuo, pois a despriorização e o corte de financiamento limitam nossa capacidade de fazer projeções regionais específicas e de planejar a adaptação.

- É fundamental promover a colaboração interdisciplinar, multirregional e intersetorial para enfrentar esses desafios.

- Líderes mundiais devem usar relatórios científicos, como o 35º Relatório Anual sobre o Estado do Clima e o Relatório Bienal de Transparência do Brasil, para guiar decisões políticas e garantir a segurança alimentar global.

O nosso papel no amanhã

A crise climática é uma crise de direitos humanos. Ela exige que países desenvolvidos e grandes corporações assumam sua dívida histórica, financiando adaptação e reparação nos territórios mais afetados.

É essencial que as políticas climáticas incluam mecanismos de proteção social, auxílio a deslocados ambientais, investimento em agricultura resiliente e garantia de moradia segura para comunidades em risco. Além disso, a justiça climática é uma necessidade imediata.

Como estudantes do nível médio, vocês têm um papel fundamental. O conhecimento é poder, e ao entender a dimensão da crise climática, vocês podem se tornar agentes de mudança. Discutam o tema, informem-se e cobrem ações de seus líderes.

Lembrem-se das palavras de Tim Lenton, principal autor de uma análise crucial: “Não podemos mais tratar as mudanças climáticas como uma ameaça distante. Os sinais estão aqui, e a janela para agir está se fechando rapidamente”.

O futuro do nosso planeta está, de fato, em nossas mãos. Agir com urgência e ambição não é apenas uma escolha, mas um imperativo para a sobrevivência da humanidade. (ecodebate)

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Impostos de carbono falham em reduzir emissões

Impostos de carbono falham em reduzir emissões: Estudo revela que 76% servem apenas para arrecadação.

Estudo internacional revela que 19 de 25 países implementaram impostos de carbono insuficientes para reduzir emissões, priorizando arrecadação sobre ação climática.
Pesquisa internacional analisa 19 países e mostra que maioria dos impostos ambientais permanece abaixo do mínimo necessário para impacto climático real.

Estudo publicado na revista One Earth questiona eficácia de políticas tributárias ambientais implementadas entre 1990 e 2023 em 25 países.

Os impostos sobre o carbono são amplamente considerados uma das opções políticas mais eficazes para a redução de emissões. No entanto, a principal justificativa por trás de impostos inicialmente baixos sobre o carbono muitas vezes não é reduzir as emissões, mas gerar receitas fiscais ou atender às expectativas internacionais, de acordo com um estudo publicado na revista One Earth, da Cell Press, em 13/08/25. Conforme observado pelos autores, as observações levantam dúvidas sobre se os impostos sobre o carbono devem ser sempre considerados políticas climáticas.

“A redução de emissões muitas vezes não é a principal justificativa para os impostos sobre o carbono no mundo real”, afirma o autor principal do estudo, Johan Lilliestam, da Universidade Friedrich Alexander de Erlangen-Nürnberg, Alemanha. “Um país com um imposto sobre o carbono não é, por si só, uma indicação de progresso na política climática, e o número crescente de esquemas de precificação de carbono não é, por si só, evidência de que a precificação de carbono seja um instrumento bem-sucedido de política climática”.

Em muitos países, os impostos sobre o carbono são definidos e mantidos em níveis muito baixos para reduzir significativamente as emissões, o que, segundo os autores, indica que a mitigação das mudanças climáticas pode não ser sua principal justificativa. Em 2023, havia 25 impostos nacionais sobre o carbono, dos quais 19 foram inicialmente implementados em um nível abaixo dos parâmetros mínimos para os impactos esperados na redução de emissões.

“Compreender os fatores explicativos desses impostos de baixo carbono é um tópico fundamental na pesquisa sobre políticas climáticas”, afirma Lilliestam. “No entanto, até o momento, nenhum estudo multicaso investigou as justificativas dos impostos de baixo carbono além de avaliações binárias sobre a existência ou não de tal imposto”.

Para ajudar a preencher essa lacuna de conhecimento, a equipe de Lilliestam analisou a concepção das políticas, a evolução tributária e a justificativa expressa para todos os 19 impostos nacionais sobre o carbono de países ao redor do mundo que foram inicialmente implementados abaixo do parâmetro de eficácia climática relevante entre 1990 e 2023. Eles constataram que, nos primeiros anos após a implementação, a maioria dos impostos nacionais sobre o carbono, inicialmente baixos, seguia principalmente justificativas não climáticas. Por exemplo, algumas políticas foram implementadas para gerar receita para financiar uma reforma tributária geral ou para gastos não relacionados ao clima.
Taxação de carbono pode reduzir emissões, mas famílias com menor renda seriam as mais afetadas

Nos primeiros 5 anos após a adoção das políticas, apenas Suíça, França e Canadá apresentaram fortes evidências de sequenciamento dentro das políticas, começando com um imposto baixo, mas politicamente viável, e aumentando-o posteriormente, à medida que as coalizões de apoio se fortaleciam e as reformas se tornavam mais viáveis. Embora vários países tenham aumentado posteriormente os impostos sobre o carbono — às vezes de forma expressiva —, demonstrando que o sequenciamento dentro das políticas de fato ocorre, tais processos têm sido lentos no passado, levando até três décadas.

Os resultados também revelaram que 12 dos 19 países com um imposto de carbono inicialmente baixo ainda tinham impostos de carbono abaixo dos níveis de referência em 2023, e muitos mantiveram isenções substanciais de elegibilidade fiscal. “Isso indica que muitos impostos de carbono — da forma como foram implementados — não foram projetados principalmente ou de forma alguma para reduzir as emissões”, afirma Lilliestam. “Dos 25 sistemas nacionais de impostos de carbono existentes, quase metade dos impostos permaneceu abaixo do limite para afetar significativamente as emissões, mesmo após o aumento de vários impostos de carbono inicialmente baixos”.

Uma limitação do estudo foi o fato de o estudo ter se concentrado nos 19 impostos nacionais de carbono inicialmente baixos, o que significa que os resultados não se relacionam explicitamente ao comércio de emissões, aos impostos subnacionais de carbono ou aos quatro países que implementaram impostos de carbono elevados acima do parâmetro de referência, incluindo Suécia e Alemanha. Estudos adicionais são necessários para investigar as justificativas por trás dos sistemas de comércio de emissões, incluindo a justificativa para a escolha contra um imposto de carbono, mas também para continuar o trabalho de comparação entre as justificativas de impostos de carbono baixos e altos.
“O número crescente de países implementando sistemas de precificação de carbono é, em princípio, uma boa notícia, indicando que a proteção climática está presente nas agendas políticas em todo o mundo”, afirma Lilliestam. “No entanto, a mera existência desses instrumentos revela pouco sobre seu potencial para facilitar uma transição rápida para emissões líquidas zero, visto que podem ser concebidos para outros fins. Se a justificativa principal de um imposto sobre o carbono não estiver diretamente relacionada à ação climática, esses impostos podem permanecer baixos por muitos anos, e os países podem se esconder atrás do lema ‘temos um imposto sobre o carbono’ e adiar ainda mais políticas climáticas transformadoras mais ambiciosas e urgentemente necessárias”. (ecodebate)

Ondas de calor batem recordes de temperatura

Europa registra 2.300 mortes em 10 dias: Ondas de calor batem recordes de temperatura.
Continente mais afetado pelo aquecimento global enfrenta crise sem precedentes com temperaturas 48,8°C.

Ondas de calor transformam Europa no epicentro de emergência climática global. Organização Meteorológica Mundial confirma: junho de 2025 foi o terceiro mais quente da história, com mortalidade 65% maior devido ao calor extremo.

Ondas de calor na Europa: O continente mais atingido pelas mudanças climáticas

As temperaturas escaldantes que têm assolado o sul da Europa nos últimos anos ilustram de forma dramática a intensificação das ondas de calor no continente, que os cientistas consideram um resultado direto das mudanças climáticas. O monitor climático da União Europeia, Copernicus, classifica a Europa como o “continente com aquecimento mais rápido da Terra”, uma realidade alarmante que tem custado dezenas de milhares de vidas anualmente.

O marco trágico de 2003

A intensa onda de calor que atingiu a Europa Ocidental durante a primeira quinzena de agosto de 2003 foi um choque enorme para a região e marcou o início de uma nova era de extremos climáticos. As temperaturas excepcionais registradas na França, Itália, Espanha e Portugal causaram mais de 70.000 mortes em 16 países, segundo estimativas científicas.

O episódio de 2003 não foi apenas um evento isolado. Tornou-se um catalisador para mudanças nas políticas públicas, com vários países implementando sistemas de alerta para ondas de calor, como o “plano para ondas de calor” introduzido na França. No entanto, os dados mostram que a situação apenas piorou nas décadas seguintes.

Todo o continente em risco

Embora a onda de calor de 2003 tenha afetado essencialmente o oeste e o sul da Europa, todo o continente europeu tem sido impactado por ondas de calor desde o início deste século. Os padrões mostram uma expansão geográfica preocupante:

• 2010: A Europa Oriental foi a mais afetada, especialmente a Rússia, com um episódio excepcionalmente longo de 45 dias que registrou temperatura recorde de 37,2°C em Moscou durante julho. Este evento resultou em 56.000 “mortes em excesso”, de acordo com a agência de estatísticas russa Rosstat.

• 2019: Em junho e julho, foi principalmente a metade norte da Europa que sofreu com o calor, com temperaturas recordes registradas na Holanda, Bélgica, Alemanha e Grã-Bretanha.

• 2021: O sul da Europa voltou a sofrer com o que o governo grego descreveu como a pior onda de calor desde 1987, estabelecendo recordes históricos de temperatura.

• 2022-2023: Um calor anormal atingiu inicialmente o norte da Europa em junho. No verão, o sul ficou abafado, com temperaturas chegando entre 38°C e 46°C, segundo dados do Copernicus.

Impacto mortal crescente

Os dados mais recentes revelam o custo humano devastador das ondas de calor europeias. As estimativas da equipe de pesquisa sugerem que o continente enfrentará uma média de mais de 68.000 mortes prematuras a cada verão até 2030 e mais de 94.000 até 2040, segundo estudo publicado no EcoDebate.

Os números são ainda mais preocupantes quando analisamos os dados recentes:

• 2022: sequências de ondas de calor contribuíram para cerca de 60.000 mortes na Europa

• 2023: O calor causou mais de 47 mil mortes na Europa

O perfil das vítimas também revela desigualdades preocupantes. A mortalidade por calor foi 55% maior em mulheres do que em homens, e 768% maior em pessoas com mais de 80 anos de idade do que em pessoas entre 65 e 79 anos.

Calor fora de época

As ondas de calor europeias não apenas se tornaram mais intensas, mas também estão se estendendo no calendário. Geograficamente mais extensas, elas agora começam mais cedo e terminam mais tarde:

• Início precoce: Em 2019 e novamente em 2022, a primeira onda de calor chegou em meados de junho, com recordes de temperatura quebrados na Alemanha e Áustria já em junho.

• Extensão tardia: Em 2023, a onda de calor europeia se estendeu até setembro, agravando as condições de seca no sul da Europa e complicando eventos como a organização da Copa do Mundo de Rúgbi na França.

Frequência crescente é a nova realidade climática

Estudos e organizações científicas são unânimes: o uso de um conjunto de dados observacionais de 100 anos e as técnicas mais recentes para modelar extremos climáticos revelou a evolução da dinâmica das ondas de calor em toda a Europa sob a influência das mudanças climáticas.

Um estudo acadêmico publicado em 2025 no periódico Weather and Climate Extremes, analisando ondas de calor de 1921 a 2021, concluiu que houve uma “tendência ascendente significativa na ocorrência de ondas de calor na maioria das regiões europeias, com um aumento notável nas últimas três décadas”.

Os dados franceses são particularmente reveladores: das 50 ondas de calor registradas em todo o país desde 1947, 33 ocorreram desde o ano 2000, demonstrando uma aceleração dramática do fenômeno.

Recordes absolutos de temperatura

As ondas de calor europeias deste século foram acompanhadas por temperaturas locais recordes, incluindo o pico absoluto da Europa alcançado em 11 de agosto de 2021, em Siracusa, Itália, com 48,8°C – um recorde certificado pela Organização Meteorológica Mundial.

Outros recordes absolutos registrados nos últimos anos incluem:

• França: 46°C (junho de 2019)

• Portugal: 47,3°C (agosto de 2003)

• Espanha: 47,4°C (agosto de 2021)

• Alemanha: 41,2°C (julho de 2019)

• Grã-Bretanha: 40,3°C (julho de 2022)

O contexto global das mudanças climáticas

As temperaturas na Europa aumentaram mais que o dobro da média global nos últimos 30 anos – as mais altas de qualquer continente do mundo, segundo dados publicados no EcoDebate. Esta realidade coloca a Europa no epicentro das mudanças climáticas globais.

Devido ao aquecimento global, as ondas de calor recordes aumentaram cinco vezes nas últimas décadas e se tornaram um dos desastres naturais mais mortais, com letalidade comparável à de pandemias, alertam especialistas.

Impactos econômicos devastadores

Além do custo humano, as ondas de calor têm impactos econômicos significativos. Globalmente, as ondas de calor provocadas pelo colapso climático causado pelo homem custaram à economia global cerca de US$ 16 trilhões desde a década de 1990, segundo estudo publicado na Science Advances.

Na Europa especificamente, as regiões mais ricas do mundo, como áreas da Europa e América do Norte, sofreram uma perda média de 1,5% do PIB per capita por ano devido ao calor extremo.

Perspectivas futuras

Tais ondas de calor são consistentes com cenários climáticos que preveem eventos de calor mais frequentes, prolongados e intensos, advertem os cientistas. No futuro próximo, tais condições meteorológicas extremas tornar-se-ão mais frequentes e a mortalidade excessiva relacionada com o calor aumentará.

Embora eventos extremos como esse possam ocorrer naturalmente, especialistas afirmam que as ondas de calor ocorrerão mais frequentemente por causa da crise climática, enfatizando a urgência de ações de mitigação e adaptação.

A necessidade urgente de adaptação

A realidade das ondas de calor na Europa evidencia a necessidade urgente de sistemas de alerta mais eficazes, infraestrutura adaptada e políticas públicas robustas para proteger as populações mais vulneráveis.

Os eventos de temperatura extrema provavelmente aumentarão e causarão graves danos à sociedade humana e ao ecossistema natural sob mudanças climáticas e urbanização.

A Europa, como o continente que mais rapidamente se aquece no planeta, serve como um laboratório natural para as adaptações necessárias em um mundo cada vez mais quente.

A resposta a esta crise não apenas determinará o futuro do continente, mas também servirá como modelo para outras regiões que enfrentarão desafios similares nas próximas décadas.

Onda de calor na Europa, em 9/8/2025. (ecodebate)

Atividade humana reduz estoques naturais de carbono na terra em 24%

Uma equipe liderada pelo geógrafo da LMU, Raphael Ganzenmüller, calculou que a influência humana reduziu os estoques naturais de carbono da ...