segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os ‘benefícios’ das plantações de árvores: acabando com os mitos de 1 à 5

Mito nº 1: As plantações florestais são “florestas plantadas” As plantações são florestas uniformizadas. Parecem soldadinhos em fileira e é isso o que são. Vestidos de verde, marcham para o mercado mundial. Mentem os hinos que em nome da natureza cantam suas glórias. As florestas industriais se parecem com as florestas naturais tanto quanto a música militar se parece com a música, e tanto quanto a justiça militar se parece com a justiça.Mito nº 2: As plantações de árvores geram emprego As plantações de árvores em larga escala não geram emprego porque a produção é sempre feita de forma mais mecanizada possível. A Veracel Celulose no Brasil, por exemplo, gera 1 emprego direto em cada 103 hectares de eucalipto. Enquanto isso, a plantação de café, muito comum no Brasil, é capaz de criar até 1 emprego por hectare. Em busca do lucro, as empresas exploram os poucos trabalhadores que atuam, colocando em risco a saúde dessas pessoas. Entre os operadores das máquinas de corte, que cumprem 5 funções ao mesmo tempo, é comum problemas na coluna, no braço e de insuficiência renal. As mulheres que trabalham nos viveiros de produção de mudas também sofrem de problemas relacionados aos esforços repetitivos, causando lesões no braço e na mão. A política de terceirização do trabalho reduz ainda mais os direitos e salários dos trabalhadores. Os empregos gerados são também extremamente caros, se comparados com o custo de geração de outros empregos no campo. Por exemplo, um emprego gerado pela Veracel Celulose custa US$ 2 milhões de dólares. Com este valor, daria para assentar mais de 150 famílias em assentamentos da reforma agrária, propiciando um futuro para essas famílias e produzindo alimentos para abastecer as cidades, em vez de exportar celulose para papéis descartáveis na Europa. Mito nº 3: As plantações são bem mais produtivas do que as florestas nativas Qualquer pessoa que adira a essa idéia deve ser uma pessoa que nunca tem visitado uma área de floresta circundada por comunidades, ou que simplesmente está vinculada ao negócio das plantações. Os povos locais nos países do Mekong no Sueste da Ásia que vivem e se baseiam em suas florestas nativas estarão totalmente em desacordo com essa declaração. Para eles, a conversão de suas florestas em plantações tem começado a ser o pior pesadelo que têm sofrido na vida real. Para os habitantes da floresta de áreas de florestas tropicais no Sul da China, Birmânia, Laos, Camboja, Tailândia e Vietnã, as plantações não são apenas improdutivas: não têm qualquer valor. As grandes plantações de eucaliptos, seringueiras e dendezeiros que se têm levado suas áreas de florestas nativas não podem fornecer alimentos diários, abrigo e medicinas – tudo o que satisfaz as necessidades básicas da vida. Ainda mais, os aldeões laosianos e tailandeses que freqüentam as florestas sagradas habitadas por bons espíritos nos disseram: “os espíritos dos antepassados não permanecerão em uma plantação” porque os espíritos simplesmente não podem viver em florestas falsas, e as pessoas não querem permanecer em uma comunidade que já não tem espíritos guardiões. As plantações disfarçadas de “florestas” somente podem fornecer um produto –madeira ou óleo de dendê ou borracha- que claramente não pode competir com os produtos alimentares, culturais e espirituais da biodiversidade, que as florestas fornecem para os povos locais. Portanto, se a mentira supra não for exposta como o que é realmente –uma invenção produzida desde uma perspectiva cega- mais e mais pessoas do mundo inteiro serão privadas da sustentação de suas vidas, baseada nas florestas nativas. Mito nº 4: As plantações de árvores são boas para o meio ambiente Por que esta afirmação simplesmente é falsa? As plantações de monoculturas de árvores nunca podem melhorar o meio ambiente natural que é eliminado ao serem estabelecidas as plantações. • As espécies vegetais originárias, que satisfazem as necessidades tanto das pessoas como da vida silvestre perdem-se, e isso significa que os ecossistemas naturais desaparecem. • A substituição da vegetação natural e até das terras agrícolas por plantações de árvores leva ao esgotamento do solo e da água superficial. • As plantações de monoculturas de árvores afetam a saúde do solo, aumentando a acidez, poluindo com produtos químicos tóxicos, e causando a compactação do solo. • A beleza intrínseca das paisagens é destruída pelas plantações de árvores que bloqueiam os atrativos cenários com ‘uma verde manta de morte’. • As plantações de árvores são geralmente de espécies intrusas que se espalham fora das plantações, invadindo zonas úmidas, pradarias, urzais e florestas. • As comunidades locais, que incluem os Povos Indígenas, são deslocadas de suas terras, e obrigadas a morar em favelas superlotadas e insalubres. Além dos impactos diretos das plantações de árvores acima listados, tais plantações acarretam muitos impactos ambientais indiretos ou ‘em cadeia’ quando são cortadas, transportadas e processadas para serem exportadas na forma de toras, lascas ou celulose. • Os rios, lagos e oceanos estão poluídos com efluentes e produtos químicos das fábricas. • A combustão de combustíveis e os processos químicos causam grave poluição do ar. • A indústria de papel e celulose é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa. Fica, portanto, claro que as plantações de árvores são RUINS para o meio ambiente. Mito nº 5: As plantações aliviam a pressão sobre as florestas nativas Uma propaganda típica divulgada pelos interesses comerciais e pelos governos em muitos países tropicais é dizer que as plantações aliviarão a pressão sobre as florestas nativas. Alegam que com suficientes plantações, as florestas nativas eventualmente seriam deixadas em paz, já que as plantações forneceriam suficiente madeira para evitar a necessidade de extrair madeira das florestas nativas. Esse argumento é uma mentira grosseira. Em primeiro lugar, porque as plantações e as florestas produzem diferentes qualidades de madeira, endereçadas para diferentes mercados. Isso significa que a demanda de madeira de alta qualidade continuará baseando-se em florestas nativas enquanto a madeira das plantações fornecerá a demanda de madeira de menor qualidade. O que é mais importante, na maioria dos casos, as plantações de monoculturas são estabelecidas pela substituição de uma floresta nativa, que é derrubada e cortada, para deixar o caminho livre para a plantação. Através dessa operação, a companhia de plantação –que às vezes também é a companhia que corta a floresta- ganhará ao mesmo tempo acesso a madeira econômica –do corte da floresta- e a terra fértil ocupada até esse momento pela floresta. Em muitos casos, as companhias de plantação nem sequer estabelecem a plantação depois da derruba e corte das florestas nativas –apesar de que a madeira é vendida, logicamente- e abandonam a área deixando uma floresta degradada. Na Indonésia, milhões de hectares de florestas degradadas têm sido o resultado desse processo. Em resumo, as plantações não apenas não “aliviam a pressão” sobre as florestas, mas são uma das principais causas do desmatamento e da degradação das florestas.

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