segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os ‘benefícios’ das plantações de árvores: acabando com os mitos de 6 à 10

Mito nº 6: As plantações são necessárias para satisfazer a crescente necessidade de papel A necessidade de papel não está crescendo. Nós não deveríamos confundir níveis de consumo com necessidade. Nos países ricos, já usamos muito mais papel do que necessitamos, e a maior parte dele é esbanjada. A verdadeira necessidade consiste em reduzir a demanda de papel, a fim de usar esse valioso recurso de forma mais eficiente e de incentivar sistemas de reciclagem para garantir que as fibras de papel sejam reutilizadas uma e outra vez. Obviamente, existem países e comunidades onde o consumo de papel está atualmente bem abaixo do que é necessário para a educação e o compromisso democrático, e eles têm o direito a usar mais. As escolas necessitam livros, os votantes necessitam cédulas de votação. Ninguém está sugerindo que o papel não seja benéfico. Ninguém está sugerindo que seu uso seja totalmente negativo e que deva ser eliminado. No entanto, as revistas não lidas, o lixo postal, a embalagem excessiva, as fotocópias inúteis, isso tudo é desperdício e deveria ser limitado. Sem produzir mais papel do que atualmente, mas compartilhando-o mais equilibradamente, as necessidades de papel de cada pessoa na terra poderiam ser facilmente satisfeitas. Ao substituir as fibras virgens por alternativas como o papel reciclado ou resíduos agrícolas, seriam necessárias menos árvores e não mais. Com toda certeza nós não precisamos de mais plantações de árvores para fornecer fibras para papel. Mito nº 7: As plantações oferecem oportunidades às mulheres A experiência do Equador nas áreas onde as plantações de pinheiros foram espalhadas em grande escala aponta que, longe de oferecer oportunidades às mulheres, estas foram prejudicadas de diversas formas. A chegada das plantações florestais aos páramos equatorianos significou a destruição dos sistemas econômicos locais, fortemente baseados em uma economia de subsistência. A pequena agricultura de auto-abastecimento era realizada pelas mulheres, o que oferecia a elas certa soberania alimentar, além de uma margem para negociar os excedentes. As plantações desmantelaram esse sistema e obrigaram às comunidades a integrar-se a um novo sistema econômico em que o dinheiro é o elemento central, dando pouca cabida às mulheres, em um mundo dominado pelos homens. Por outro lado, a expansão de monoculturas florestais provocou também que as fontes de água secassem. Isso recai sobre as mulheres em dois sentidos: como são elas- junto com as crianças- as encarregadas do pastoreio, agora devem percorrer longos trajetos em busca de água para seus animais. Por sua vez, a escassez de água faz com que os afazeres domésticos e agrícolas sejam mais trabalhosos. As mudanças sócio-econômicas decorrentes da entrada das plantações, unidas aos impactos ambientais têm provocado também uma migração generalizada. Na Serra a tendência é que os homens saiam para trabalhar nas cidades e as mulheres fiquem em casa com as crianças. Isso implica uma carga adicional sobre a mulher, pois os habituais afazeres domésticos são acrescentados agora com trabalhos na roça que anteriormente faziam os homens- com exceção da semeadura e da colheita, para as quais os homens voltam. Em suma, as plantações não fizeram senão piorar a situação das mulheres, sem dar-lhes qualquer benefício em troca. Mito nº 8: A certificação garante que as plantações são socialmente benéficas e ambientalmente sustentáveis Na área das plantações de árvores, o FSC surge como o principal organismo encarregado de conceder um certificado às plantações que considerar como “ambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economicamente viáveis”. O problema insuperável desse “selo verde” outorgado pelo FSC é que aceita o que intrinsecamente não pode ser nunca nem socialmente benéfico nem ambientalmente sustentável: o modelo de monoculturas de árvores em grande escala. No Uruguai, uma após a outra, as empresas que solicitam a certificação a conseguem, mas os impactos continuam e tornam-se mais graves à medida que as plantações- certificadas ou não- cobrem extensões cada vez maiores em diferentes regiões do país. São inúmeros os testemunhos a respeito do que acarretam as plantações florestais para as comunidades locais: ocupação de territórios, concentração e estrangeirização da terra, deslocamento de comunidades e de outros modos de produção, falta de água, erosão do solo, perda da soberania alimentar, por citar alguns impactos. E, no entanto, o FSC continua outorgando certificações. É por isso que a certificação não faz mais do que legitimar a expansão das plantações, maquiando-as de verde, e com isso enfraquece a luta daqueles que resistem em nível local, nacional, regional e internacional. A única medida socialmente benéfica e ambientalmente sustentável a respeito das monoculturas de árvores é suspender sua expansão. Mito nº 9: As plantações de dendezeiros ajudam a mitigar a mudança climática através da produção de agrodiesel A expansão das plantações de dendezeiros geralmente ocorre à custa da transformação de ecossistemas naturais, especialmente florestas úmidas tropicais. Isso tem efeitos nefastos, por um lado porque essas florestas abrigam comunidades tradicionais que têm aprendido ao longo de milênios a compreender a floresta e a usá-la respeitando sua dinâmica natural. Por outro lado, a destruição da floresta implica a liberação de dióxido de carbono (CO2) – um dos gases de efeito estufa, cuja acumulação na atmosfera é responsável pelo aquecimento global e a decorrente mudança climática. Mas não é só isso senão que se fizermos um balanço de CO2 comparativo entre os dois sistemas (a floresta e as plantações), veremos que as florestas tropicais, devido a sua complexidade, armazenam e fixam muito mais carbono. As plantações de dendezeiros, como qualquer monocultura em grande escala, exigem grande quantidade de insumos a base de combustíveis fósseis, que liberam carbono. Também precisam de praguicidas, devido à grande quantidade de pragas e doenças que infestam as plantações, bem como de herbicidas para combater outras espécies diferentes que possam concorrer pela água e os nutrientes. Isso tudo produz mais um desequilíbrio de carbono, somado ao fato de o agrodiesel produzido a partir do óleo de dendê geralmente ter como destino a exportação cujo necessário processo de transporte gera mais emissões de CO2. É bem possível que o consumidor europeu que use o óleo ou o agrodiesel de dendezeiro produzido em um país tropical tenha a sensação de estar usando um combustível “ecológico” ou “verde”. Mas ignora que esse combustível foi transportado desde o outro lado do mundo, queimando combustíveis fósseis durante sua viagem, e o que é mais grave ainda, destruindo a forma de vida de centenas de comunidades locais e de ecossistemas naturais. É por isso tudo que as plantações de dendezeiros para agrodiesel não apenas agravam a mudança climática senão que também impactam sobre os ecossistemas e as comunidades dos locais onde são instaladas. Mito nº 10: As plantações de madeira ajudam a lidar com a mudança climática através da produção de etanol Para aqueles leitores do boletim do WRM que ainda não o sabem, o Sul dos EUA é a maior região produtora de papel no mundo. Durante os últimos 50 anos, temos sido o campo de provas para todas as práticas de florestamento destruidor imagináveis, que depois de serem aperfeiçoadas aqui, são exportadas para o mundo inteiro. Por exemplo, a partir da década de 50 e continuando até hoje, temos convertido quase 17 milhões de hectares de florestas e terras agricultáveis para plantações de monoculturas para madeira, fazendo com que sejamos número um no mundo nesse sentido. O último experimento é o plano para combater a mudança climática cultivando mais plantações de árvores para a produção de etanol. Isso significará maior pressão para as florestas naturais, uma correria para converter mais terras de florestas em plantações, maior dependência dos químicos tóxicos no manejo das florestas, ciclos de cultivo mais breves que aumentarão a pressão sobre os recursos do solo e da água e uma grande pressão para desenvolver e implementar o uso de árvores geneticamente modificadas. Em uma recente carta para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos pressionando para a desregulamentação dos eucaliptos geneticamente modificados nos EUA, a International Paper alega que um crescimento no mercado da bioenergia baseada nas árvores duplicaria a pressão sobre as florestas do Sul dos EUA. As plantações para a obtenção de madeira e pasta aumentam, em vez de lidar com a mudança climática. Tem sido demonstrado que as florestas naturais seqüestram maiores volumes de carbono e tem sido evidenciado que os agrocombustíveis não são grandes substitutos em termos de emissões de combustível fóssil. O desmatamento e o florestamento como estão sendo levados a cabo atualmente, são os segundos maiores contribuintes para os Gases de Efeito Estufa depois da queima de combustíveis fósseis; portanto, não é mais sensato proteger e restabelecer nossas florestas em vez de promover a conversão de nossas florestas para plantações e cortá-las continuamente em breves rotações em uma correria para utilizar menos combustível fóssil?

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