sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Estudo sobre aquecimento global não é para amedrontar

Vinte e seis climatologistas de renome publicaram em 24 de novembro/09, um documento de cerca de sessenta páginas sintetizando os trabalhos publicados sobre o aquecimento global desde o último relatório do GIEC/IPCC (Groupe intergouvernemental sur l’évolution du climat ou Intergovernmental Panel on Climate Change, em inglês) em 2007. Entre eles, Nathalie de Noblet, diretora de pesquisa do Comissariado de Energia Atômica, explica os motivos dessa publicação, a poucos dias da conferência de Copenhague sobre o aquecimento global. Le Monde: Por que vocês publicaram o “Diagnóstico de Copenhague“? Nathalie de Noblet A ideia era fazer um inventário das pesquisas direcionado aos tomadores de decisão e a todas as pessoas envolvidas em Copenhague. Foram publicados centenas de estudos nos últimos três anos e nós queríamos fornecer todos os elementos para que os líderes pudessem tomar as melhores decisões possíveis, com todo o conhecimento de causa. Le Monde: O que disseram esses últimos estudos? Noblet Eles mostram que aquilo que havia sido previsto nos últimos relatórios do GIEC em relação ao aumento dos gases de efeito estufa, o derretimento das geleiras, a redução do gelo dos mares, o aumento dos níveis dos oceanos, está acontecendo de acordo com as piores previsões que fizemos até agora. Le Monde: É uma resposta aos céticos em relação ao clima? Noblet Não. Os céticos em relação ao clima fazem muito barulho por nada. Eles não apresentam nenhum argumento cientificamente válido. Gastamos muita energia para responder a eles. Como cientistas, nós continuamos a observar a natureza, a criar modelos com ferramentas mais sofisticadas que levam em conta cada vez mais fatores. Quanto mais os tornamos complexos, mais percebemos que as coisas estão acontecendo. Nosso objetivo é que os líderes possam reagir corretamente face ao que acontece. Se quiséssemos combater os céticos em relação à mudança climática, não faríamos nada além disso e não trabalharíamos mais. A última ação deles, de vasculhar os e-mails dos climatologistas, foi um bom exemplo de que eles não têm muito a argumentar. Le Monde: Você não tem medo de ser muito alarmista? Noblet Alarmista é a interpretação. Nós, enquanto cientistas, permanecemos factuais. Nós medimos, simulamos, e damos os resultados com a maior precisão e a menor margem de erros possível. Depois, a interpretação é que pode ser alarmista: é preciso levar em conta que acontecem coisas cujas consequências nós não somos capazes de medir porque não temos todos os meios para avaliar as consequências de nossos atos. Acho que é preciso tomar decisões, uma vez que sabemos que a ação do homem está na base do problema. É necessário que os cérebros dos cientistas passem a lutar contra a produção de gases de efeito estufa, que a sociedade tome consciência que emite gases de efeito estufa e que diminua sua produção. Nosso objetivo não é deixar as pessoas com medo. Nosso objetivo é o de sermos objetivos, de trabalhar e fazer avançar a ciência. Não procuramos criar problemas. Foi a observação da Terra que nos fez ver que algo estava acontecendo. Depois, cada um tem sua interpretação enquanto cidadão. Acho que efetivamente estão acontecendo coisas importantes que não foram observadas no passado e que é importante ver como podemos lutar para combater esses efeitos. Le Monde: Enquanto cidadã, qual é a sua visão sobre a conferência de Copenhague?Noblet Não sei. Acho que os cientistas fizeram seu trabalho. O mesmo vale para os meios de comunicação que divulgaram o conjunto de informações publicadas desde o relatório do GIEC de 2007. Os tomadores de decisão têm, portanto, todos os elementos necessários para refletir. Quanto à parte da decisão, é algo que não me diz respeito. Enquanto cidadã, espero que saia alguma coisa dessa conferência. Acho que é importante as pessoas tomarem consciência sobre seu modo de vida. Será igualmente importante apoiar os governos caso eles tomem decisões, uma vez que estas serão certamente dolorosas no começo para os cidadãos. É preciso que os cidadãos estejam prontos para aceitar isso.

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