quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Reflorestar é uma tarefa árdua

Reflorestar é uma tarefa árdua, que depende de um grande volume de recursos financeiros, logísticos e tecnológicos. O programa “1 Bilhão de Árvores para a Amazônia” foi lançado, no dia 30 de maio de 2008, em Belém, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela governadora Ana Júlia Carepa. Foi considerado o maior e mais ambicioso programa de reflorestamento e recomposição florestal do planeta, com a meta de atingir uma área de aproximadamente 20 milhões de hectares já alterados com o plantio de 100 mil hectares de espécies nativas por ano até 2013. A propaganda foi boa e deve ter sido cara. A Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA) oficializou seu compromisso de participar do programa de restauração florestal “1 Bilhão de Árvores para a Amazônia”, assinando o protocolo de intenções com o governo do Pará para a criação de uma Rede Estadual de Colheita de Sementes e Laboratórios Integrados. Além da Embrapa, a parceria para a criação da Rede Estadual de Colheita de Sementes e Laboratórios Integrados envolveria a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social (Idesp), Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará (Aimex). De uma forma geral, a participação da Embrapa na parceria interinstitucional deveria estimular o desenvolvimento e a transferência de tecnologias em sementes e mudas florestais para incentivar o reflorestamento de áreas degradadas da Amazônia. Mas o governo do Pará – Terra de Direitos, de Governo Popular cuja grande obre é cuidar das pessoas – resolveu mudar as diretrizes de seu programa e passou a contabilizar espécies como eucalipto para alcançar a meta de um bilhão de árvores plantadas. “O Pará lidera os índices de desmatamento na região e 65% do reflorestamento deverão ser feitos com eucalipto”. Em maio do ano passado, o governo paraense havia previsto somente o plantio de espécies nativas. A escolha do eucalipto, segundo a secretaria de meio ambiente, decorreria de seu menor tempo de maturação (seis anos) e da produtividade da espécie. O governo do Pará diz já ter autorizado o plantio de 222 milhões de árvores, quase um quarto da meta. Na conta, é claro, como não poderia deixar de ser, entram os projetos de empresas como a Vale do Rio Doce, que pretende “diminuir ainda mais o seu footprint” e arrendar propriedades para plantar eucalipto, quando os beneficiários diretos do programa deveriam ser os próprios produtores rurais, as cooperativas e associações que comprovadamente utilizassem as tecnologias recomendadas pelas instituições de pesquisa e universidades parceiras no protocolo. É lógico que qualquer árvore plantada em área desmatada cumpre a função de proteger o solo e, de acordo com os próprios especialistas da Embrapa, o uso de espécies nativas seria prejudicado pela falta de sementes que não estão disponíveis no mercado, e eles próprios perguntam onde e como se conseguiria 1 bilhão de sementes viáveis para plantar as espécies nativas, e eu respondo sugerindo que perguntem para quem anunciou o programa, ou a Ana Júlia e o Lula, que devem ter a resposta para a completa falta de estrutura das instituições de ensino e pesquisa no atendimento dessa demanda, e com certeza a resposta seria a de que a culpa é dos outros governos, como sempre. Além de não reconstruir a biodiversidade amazônica, espécies como eucalipto, tendem a gerar concentração de terras, aumentando a disputa e a violência fundiária e para alguns prejudicam o solo. Se o foco é mesmo o reflorestamento, o eucalipto está longe de ser o ideal, principalmente por não reproduzir a biodiversidade amazônica, quando possuímos muitas espécies de grande valor e de rápido crescimento como o Paricá, Marupá, Virola e Ucuúba entre tantas outras, e até mesmo as exóticas, como a Acacia mangium, por exemplo, que seria melhor que o eucalipto, no atendimento das urgentes necessidades energéticas de grandes conglomerados econômicos.Mais uma vez, os verdadeiros valores amazônicos são relegados ao desprestígio, ao abandono, ao esquecimento e ao ralo; e a escolha do eucalipto, enfim, representa admitir o fiasco, o fracasso e a completa falência institucional de tudo o que já foi discutido e planejado em tantas reuniões sobre o tema às expensas do erário, e depois de terem anunciado na mídia televisiva até mesmo a absurda utilização de técnicas de alpinismo para a coleta de sementes (isso é risível…). Pior mesmo será se, em futuro não muito distante, isto tudo vier a ser transformado em mais um mega-escândalo, nos mesmos moldes daquele recente e famoso dos kits escolares.

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