quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Emissão de CO2 do cerrado equivale à da Amazônia

A média de área desmatada do bioma em seis anos foi o dobro da prevista para a floresta amazônica em 2009. Situação é reflexo das altas taxas de desmatamento e deve alterar estratégia do País na questão do clima. O desmatamento no cerrado é responsável atualmente pelo mesmo volume de CO2 emitido na Amazônia. Dados divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente mostram que, com a devastação do cerrado, a emissão média anual foi de 350 milhões de toneladas do gás, um dos principais causadores do efeito estufa. Entre 2002 e 2008, a taxa média de desmatamento anual no bioma foi de 21.260 km2 - uma área duas vezes maior do que os 10 mil Km² estimados de devastação na Amazônia para 2009. O dado da floresta amazônica não foi fechado e pode ser maior. Até o ano passado, o cerrado perdeu 48,2% de sua cobertura original - quase metade dos 2 milhões de Km² do bioma.Em 2002, o total devastado era de 41,9% da área original - um aumento de 6,3% no período. Para fazer o cálculo das emissões, leva-se em conta o desmatamento e a biomassa existente. Por isso, a Amazônia aparece com uma área desmatada menor, mas apresentando o mesmo nível de emissão do cerrado. "A Amazônia tem maior volume de madeira e outros componentes de vegetação do que o cerrado", explica Bráulio Dias, diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do ministério. "Houve todo um esforço para reduzir o desmatamento na Amazônia e o mesmo não ocorreu no cerrado. É o momento de reconhecer que o cerrado hoje é tão importante quanto a Amazônia para o combate às mudanças climáticas no País", afirma Dias. O novo dado deve alterar as estratégias do País nas questões de clima - sempre se fala que a destruição da floresta tropical é a principal fonte de emissões do Brasil, quadro que muda com os dados apresentados ontem. "Na revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas serão incluídas metas de redução de desmate também para o cerrado", completa o diretor. Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, os números são "acachapantes". Ontem, ele lançou um conjunto de medidas para tentar interromper a devastação no cerrado, que é o segundo maior bioma da América do Sul, depois da Amazônia, e a savana de maior biodiversidade do mundo. Batizado de Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas, o projeto traça estratégias para serem executadas entre 2009 e 2011. Entre elas ampliar áreas sob proteção. "Atualmente no papel 7,5% do território do cerrado está protegido", disse o ministro. A ideia é ampliar para cerca de 10%. Para alcançar esse índice, seria preciso criar, em dois anos, 600 mil hectares de áreas novas de proteção. O plano inicial é que três unidades sejam criadas, cada uma com 200 mil hectares. O estudo sobre o ritmo de desmatamento no cerrado é fruto de uma análise dos satélites CBERS e Landsat. O novo plano prevê um acompanhamento anual das atividades de desmatamento, a exemplo do que é feito na Amazônia. O novo sistema deverá ser desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). De acordo com Dias, o novo método deverá demorar um pouco para entrar em funcionamento. "É preciso fazer adaptações."Um dos desafios, contou Dias, está relacionado com o longo período de seca, em que vegetação perde boa parte das folhas. "Isso torna um pouco mais difícil diferenciar o que é seca, o que é devastação." Uma das maiores preocupações dos integrantes do ministério está relacionada com a devastação em áreas de bacia. "A proteção exercida pela vegetação é fundamental para o ciclo hídrico", afirma a secretária de Biodiversidade e Florestas, Maria Cecília Wey de Brito. Sem tal proteção, fica ameaçada metade do potencial elétrico a ser explorado no País. "Sem essas bacias, vai faltar água para irrigação e hidrelétrica. O desenvolvimento do Brasil ficará ameaçado", disse Minc. O estudo mostra que 60 cidades são responsáveis por um terço de todo desmatamento do cerrado. Os Estados onde há maior desmatamento, em números absolutos, são Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Bahia. A maior parte da devastação ocorreu a partir da década de 70. Hoje, os maiores vetores de desmatamento no bioma são cana-de-açúcar, carvão vegetal, soja, pecuária e queimadas.

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