terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

USP cria projeto de reciclagem de equipamentos eletrônicos

Sujeira tecnológica – A popularização dos eletroeletrônicos e a rapidez com que novos modelos são lançados no mercado fazem com que o consumidor queira substituir os equipamentos constantemente. O problema, porém, não atinge apenas o bolso dos usuários. Há também um alto custo ambiental, gerado pelo acúmulo desses produtos, muitos deles feitos com materiais que demoram para se decompor, como o plástico e o vidro e com componentes que contêm metais pesados, prejudiciais à saúde. Os mais utilizados são o mercúrio, o chumbo, o cádmio, o manganês, o cobre, o ouro e o níquel. “Se esses metais passarem para o solo, pode existir uma grave contaminação, que, dependendo da extensão, pode exigir grandes volumes de recursos para ser remediada”, diz Fernando Coelho, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para tentar evitar o pior, cientistas e ambientalistas buscam desenvolver procedimentos que diminuam o impacto no meio ambiente provocado pelo descarte desses produtos. Uma das iniciativas nesse sentido é o projeto idealizado pelo Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (CCE/USP), que está inaugurando neste mês o Centro de Triagem e Descarte de Resíduos Eletrônicos (CTDRE). O objetivo é criar um ciclo de processamento de reuso desses materiais e da matéria-prima que os compõe. “Temos de dar um destino para esses produtos, já que não há uma política pública nesse sentido”, comenta Tereza Cristina Carvalho, diretora do CCE. Segundo ela, em vez de retirar a matéria-prima novamente da natureza, ela pode ser reaproveitada. “Ajuda o meio ambiente e sai bem mais barato”, defende. O ciclo idealizado no centro começa no recolhimento do equipamento. Ao receber os materiais, técnicos especializados fazem a triagem para detectar o que ainda funciona e o que precisa ser consertado. As peças que ainda podem ser usadas ficam disponíveis para instituições filantrópicas sem fins lucrativos, cadastradas na USP. Já o restante do material é separado de acordo com seus componentes. Depois de desmontados e compactados, são encaminhados às empresas especializadas em reciclagem. “Assim, o material volta a ser matéria-prima e é vendido à indústria”, completa a diretora. Em princípio, apenas as unidades da USP participam, mas a intenção é incluir no projeto as unidades administrativas do estado e a comunidade em geral. Em relação aos metais, podem ser reaproveitados os de maior valor agregado, como o ouro e a platina, por exemplo. Já os mais baratos podem passar por um processo de passivação, que impede ou dificulta a contaminação do solo. Porém, cada metal exige um tratamento químico diferente. Os especialistas dizem que essas medidas não são tomadas hoje por uma questão econômica. “A legislação pode reverter esse quadro, principalmente se exigir das empresas fabricantes um compromisso de recuperação”, afirma Coelho. AcúmuloSegundo estimativa do grupo ambientalista Greenpeace, o lixo eletrônico atingiu a marca de 50 milhões de toneladas no ano passado, em todo o mundo. O número inclui o material gerado a partir de aparelhos eletrodomésticos ou eletrônicos e seus componentes, inclusive pilhas, baterias e produtos magnetizados. No Brasil, não há um levantamento desse tipo, pois ainda não existe regulamentação que forneça parâmetros para a contabilização desses números. Além disso, faltam locais apropriados para o descarte de equipamentos, que acabam parando no lixo comum. O diretor de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Silvano Silvério da Costa, defende a logística reversa para lidar com o lixo eletroeletrônico. “Enquanto não se regulamenta(1) a Política Nacional de Resíduos Sólidos, são as empresas fabricantes que devem arcar com o destino desses resíduos. Aliás, isso deve virar uma norma”, diz. Algumas empresas recebem baterias, pilhas e celulares obsoletos, porém ainda não é praxe. Para Juliane Berb, assistente de planejamento do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), as pessoas devem estar atentas para a poluição causada pelos equipamentos eletrônicos. “Acredito na consciência individual para frear o consumismo tecnológico. O mundo não comporta tantos resíduos”, diz. “Todos os dias, materiais eletroeletrônicos vão para os aterros sanitários por falta de consciência de cada um”, completa. O problema, porém, é que muitas vezes falta informação. O desenvolvedor de sites Maurício Lima, 34 anos, pode ser considerado um consumidor consciente, mas diz não saber onde jogar seu lixo eletrônico, fato que o incomoda muito. “Não há muita informação e não são todas as empresas que aceitam (os componentes velhos)”, diz. Com isso, ele acaba acumulando lixo em casa. Maurício tem gavetas cheias de baterias, celulares, fios, controles remotos, além de um notebook e dois computadores antigos. “Alguns até tenho a esperança de reutilizar, como as placas-mães e as de vídeo. Porém, a tecnologia muda a cada dia, e tudo isso fica mesmo obsoleto”, observa. 1- Trâmite parado Desde 1991, tramita na Câmara dos Deputados uma proposta que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2007, o governo federal enviou à Casa projeto de lei também disciplinando a matéria, mas a análise dos textos encontra-se parada. De acordo com a Resolução 401/2008, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), baterias e aparelhos celulares devem ser devolvidos às lojas onde foram comprados, mesmo que sejam revendedoras.

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