quinta-feira, 25 de março de 2010

Terras para cultivo têm mais árvores do que se acreditava

Quase metade da terra cultivável do mundo tem pelo menos 10% de cobertura com árvores, segundo estudo divulgado ontem indicando que os agricultores são menos destrutivos às florestas do que se imaginava até agora. "A área revelada neste estudo é duas vezes o tamanho da Amazônia e mostra que os agricultores estão protegendo e plantando as árvores espontaneamente", afirmou Dennis Garrity, diretor-geral do Centro Agroflorestal Mundial, em Nairobi, em comunicado. O relatório do centro, baseado em imagens de satélites é o primeiro a estimar a cobertura das árvores em fazendas por todo o mundo e mostra que a superfície coberta por suas copas supera os 10% em uma área cultivável de 10 milhões de quilômetros quadrados - uma área do tamanho do Canadá ou China e equivalente a 46% de toda a terra cultivável do mundo. Por um dos parâmetros usados pela agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), uma "floresta" é uma área em que as copas das árvores cobrem pelo menos 10% da superfície. A definição, no entanto, exclui áreas urbanas e terras cultiváveis. O estudo informou que os agricultores mantêm ou plantam árvores para usos variados, como colher frutas, nozes, medicamentos, combustível, material de construção, borracha ou resinas. As árvores também dão sombra para os rebanhos, funcionam como quebra-vento, marcador de limites ou para ajudar a evitar a erosão. E as árvores são mais resistentes do que plantações ou rebanhos e, portanto, podem servir como uma reserva para os agricultores em tempos difíceis. As estimativas anteriores da área de terra cultivável em que havia agroflorestamento chegavam a no máximo cerca de 3 milhões de quilômetros quadrados. As fazendas são frequentemente retratadas como inimigas das florestas, que além de servirem de habitat para uma grande diversidade de animais e plantas também funcionam como gigantescos armazéns para capturar o dióxido de carbono, principal gás causador do efeito estufa. "Ficamos agradavelmente surpresos, o estudo quantifica um recurso subestimado", afirmou Tony Simons, diretor-geral adjunto do Centro Agroflorestal Mundial. O relatório revela que as árvores são parte integral das paisagens agrícolas em todas as partes do mundo, com a exceção das regiões áridas na África Setentrional e Ásia Ocidental. O estudo aponta para uma nova fronte de combate às mudanças climáticas, segundo Simons. Os agricultores fariam mais para preservar as árvores se recebessem créditos sob o novo pacto climático da Organização das Nações Unidas (ONU) a ser definido na reunião em Copenhagen, em dezembro. Os negociadores buscam formas de desacelerar o desflorestamento nos países em desenvolvimento - o desflorestamento responde por 20% de todas as emissões de gases causadores de efeito estufa de fontes humanas. "Este estudo oferece evidências convincentes de que as fazendas e florestas não são, de forma alguma, mutuamente excludentes", observou Wangari Maathai, ambientalista queniana, vencedora do prêmio Nobel da Paz por sua campanha pela plantação de árvores por toda a África. No fim da Era Glacial passada, há cerca de 10 mil anos, as florestas naturais cobriam em torno de 70% da superfície do mundo. Agora, cobrem apenas 26%. O índice líquido de desflorestamento caiu para 7,3 milhões de hectares por ano (uma área do tamanho de Serra Leoa ou Panamá) no período de 2000 a 2005, segundo a FAO, em comparação aos 8,9 milhões por ano verificados entre 1990 e 2000.

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