quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Reforma de canavial pode aumentar emissões de CO2

Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pela engenheira agroecóloga Adriana Silva-Olaya avaliou o efeito do preparo do solo para o cultivo de cana-de-açúcar sobre as emissões de CO2 quando este é realizado na presença ou ausência de palha na superfície do solo, considerando o crescente interesse da utilização da palhada com fins energéticos. “Uma pequena variação no carbono acumulado poderia resultar em mudanças consideráveis na concentração atmosférica de CO2 “, ressalta a pesquisadora.
“Atualmente, 50% da área total de cana-de-açúcar é colhida mecanicamente, prática que além de evitar emissões decorrentes da queima da biomassa vegetal, favorece o incremento no estoque de carbono do solo”, relata a autora do trabalho. O estudo aponta que o cultivo do solo por tecnologia de aração e outros processos de preparo incrementam a mineralização do carbono orgânico do solo (COS) e as emissões de CO2. O acúmulo de COS pode ser diminuído durante a reforma do canavial dependendo do sistema de preparo utilizado.
decomposição da matéria orgânica do solo é aumentada pela perturbação física causada pelo preparo, a qual provoca a quebra dos macroagregados e expõe o carbono protegido no interior deles à atividade microbiana. “Diante dessa situação, esse estudo se propôs quantificar as emissões de CO2 derivadas de três sistemas de preparo do solo utilizados durante a reforma dos canaviais no estado de São Paulo, assim como avaliar a influência da palha nesses processos de emissão”, explica a pesquisadora.
Foram avaliados o preparo convencional, o qual envolveu a realização de gradagens aradoras em combinação com subsolagem; preparo mínimo, que caracterizou-se pela eliminação química da soqueira (raízes que ficam na terra após o corte da cana) seguida de uma subsolagem; e preparo semi-reduzido, no qual a soqueira foi eliminada mecanicamente (destruidor mecânico de soqueira) e realizadas operações de subsolagem no sentido da linha de plantio.
Emissão
A emissão de CO2 foi monitorada utilizando-se uma câmera que coleta e analisa o fluxo de CO2 em tempo real. Essas avaliações foram realizadas um dia antes do preparo do solo e imediatamente após a passagem dos implementos. A pesquisadora destacou que no sistema de preparo convencional a emissão acumulada no tempo de estudo esteve 34% e 39% acima do valor acima do valor encontrado no preparo semi-reduzido e preparo mínimo, respectivamente, resultados esses que indicam o efeito conjunto da palha e do preparo do solo sobre a emissão de CO2.
Segundo Adriana, essas e outras avaliações feitas nos três sistemas de preparo do solo – convencional, mínimo e semi-reduzido – demonstram que é de grande importância a seleção de práticas de manejo sustentáveis que permitam aumentar o sequestro de carbono. Essas ações melhoram a qualidade do solo agrícola e ajudam a minimizar suas emissões de CO2, aumentando consequentemente o benefício ambiental da substituição do combustível fóssil com uso do biocombustível.
No Brasil, 60% da área plantada com cana encontra-se sobre latossolo, mesmo tipo de solo da pesquisa. Cerca de 15 a 20% desses canaviais são renovados anualmente (0,7 a 0,9 milhões de hectares) o que permite que as perdas do carbono no solo sejam promovidas em função do sistema de preparo adotado durante tal reforma. Se aplicado o sistema convencional, será causada uma perda anual aproximada de 660 a 850 mil toneladas de carbono na forma de CO2. Porém, se o preparo do solo for realizado sob as técnicas associadas ao preparo semi-reduzido e preparo mínimo, o valor da perda anual de carbono à atmosfera na forma de CO2 será entre 90-120 mil toneladas no preparo semi-reduzido e 10 mil toneladas no preparo mínimo.
A dissertação de Mestrado Emissões de dióxido de carbono após diferentes sistemas de preparo do solo na cultura da cana-de-açúcar foi realizada pelo programa de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, sob orientação do professor Carlos Clemente Cerri, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP. Adriana graduou-se na na Universidad de la Amazônia (Colômbia). (EcoDebate)

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