quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Impacto de seca na Amazônia sobre o clima mundial

Estudo na revista Science aponta impacto de seca na Amazônia sobre o clima mundial
A seca em 2010 na Amazônia foi pior que a “estiagem do século” de 2005, e pode ter tido para o aquecimento global um impacto maior do que os Estados Unidos provocam em um ano, disseram cientistas brasileiros e britânicos em 03/02/11.
A maior frequência de secas como as de 2005 e 2010 ameaça transformar a maior floresta tropical do mundo em uma fonte de gases do efeito estufa, ao invés de uma esponja que os absorve, acelerando o aquecimento global. Isso ocorre porque as árvores, que normalmente absorvem o dióxido de carbono ao crescerem, ajudando a refrescar o planeta, liberam esses gases quando morrem e apodrecem.
“Se eventos como esse ocorrerem com mais frequência, a floresta Amazônica atingiria um ponto em que passaria de um valioso depósito de carbono, reduzindo a velocidade da mudança climática, para uma grande fonte de gases do efeito estufa, que poderia acelerar o aquecimento”, disse o autor Simon Lewis, um ecologista da Universidade de Leeds (Grã-Bretanha).
O estudo [The 2010 Amazon Drought], publicado na revista Science, mostra que a seca do ano passado provocou redução de chuvas numa área de 3 milhões de quilômetros quadrados da floresta – bem mais do que o 1,9 milhão Km2 afetados em 2005.
Além de mais ampla, a seca de 2010 foi também mais intensa, causando uma maior mortalidade de árvores, e com três grandes epicentros. A seca de 2005 estava focada principalmente no sudoeste da Amazônia.
Por causa disso, segundo o estudo, a Amazônia irá deixar de absorver em 2010 e 2011 o seu volume habitual de 1,5 bilhão de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. Além disso, as árvores mortas ou agonizantes irão liberar 5 bilhões de toneladas de gás nos próximos anos, o que faz com que o impacto acumulado chegue a 8 bilhões de toneladas.
Em 2009, para efeito de comparação, os EUA emitiram 5,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono pelo uso de combustíveis fósseis.
As emissões causadas pelas duas secas provavelmente foram suficientes para anularem todo o carbono absorvido pela floresta nos últimos dez anos, diz o estudo.
CÍRCULO VICIOSO
A seca do ano passado esvaziou rios importantes da Amazônia e isolou milhares de pessoas em comunidades ribeirinhas. Ela causou perplexidade em cientistas que haviam estimado que uma seca como a de 2005 só ocorreria a cada cem anos.
As duas estiagens tão intensas num intervalo tão curto, no entanto, se encaixam nas previsões de alguns modelos climáticos a respeito da floresta neste século. As secas tornam a mata mais propensa a queimadas, o que por sua vez afeta sua capacidade de se regenerar.
Sob os cenários mais extremos desses modelos, grandes partes da Amazônia podem se transformar em cerrado até meados do século, com uma forte redução da sua biodiversidade animal e botânica.
Embora o desmatamento causado pela atividade humana tenha caído fortemente no Brasil nos últimos anos, os cientistas dizem que a floresta continua muito vulnerável.
Um elemento crucial é se as secas estão sendo causadas pela maior concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, ou se são uma anomalia, segundo Lewis. Se forem resultado do aquecimento global, um círculo vicioso de temperaturas mais elevadas e secas poderia fazer a floresta como um todo “murchar” ao longo das próximas décadas.
“A gente pode passar rapidamente para uma Amazônia bem mais seca, com menos floresta lá,” disse Lewis à Reuters.
A pesquisa foi feita em parceria entre as universidades britânicas de Leeds e Sheffield e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). (EcoDebate)

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