domingo, 25 de setembro de 2011

A transição para a Economia Verde e a Rio+20

A crise mundial das bolsas de valores e das dívidas é apenas mais um sinal da inviabilidade da forma como se organiza a atual economia internacional. Se o modelo de endividamento crescente tem se tornado inviável economicamente, também tem se tornado inviável ecologicamente. O atual modelo de desenvolvimento “marron” (poluidor), além de insustentável, pode levar a humanidade ao suicídio e ao ecocídio.
Os sinais da insustentabilidade estão por todos os lados. Cresce o número de mortes e deslocamentos humanos forçados em decorrência de enchentes ou secas extremas, provocadas pelas mudanças climáticas. A erosão dos solos, a desertificação de amplas áreas, o uso e o abuso dos aquíferos, a salinização das águas dos rios e a acidificação dos oceanos diminui a fertilidade das fontes de vida. Além dos danos ambientais, aumenta o preço dos alimentos. Em especial, no leste da África, a seca tem provocado uma epidemia de fome e cenas de crianças esqueléticas pedindo ajuda. As monoculturas uniformes substituíram a biodiversidade. Dois terços dos recifes de coral e mangues do mundo já foram destruídos. As atividades antropogênicas trouxeram a maior extinção em massa da vida vegetal e animal da nossa história (antropocentro), com cerca de 30 mil espécies sendo extintas a cada ano (3 por hora).
O ser humano mudou a química da terra e do céu, aumentando o dióxido de carbono na atmosfera e provocando o aumento do efeito estufa. Com isto, a elevação do nível das águas dos oceanos ameaça a existência de diversos países insulares e coloca em risco a moradia de milhões de pessoas que vivem nas faixas litorâneas. A falta de saneamento básico nas cidades agrava os problemas da poluição e é um dos principais indicadores da exclusão social e da segregação urbana. O desemprego e a falta de acesso aos direitos de educação e saúde colocam uma grande parcela da população mundial às margens dos benefícios do desenvolvimento.
Porém, se por um lado há fome e exclusão, de outro, há uma ampliação do consumo devido ao crescimento da população e ao aumento das parcelas da denominada classe média mundial, em especial, nos países em desenvolvimento. Mais gente com mais dinheiro significa maior consumo de alimentos, de bens industriais e de serviços, inclusive lazer e turismo. Só a produção mundial de veículos automotores passou de cerca de 50 milhões, em meados dos anos 1990, para a casa dos 80 milhões ao ano em 2011. Segundo a revista WardsAuto existiam 500 milhões de carros em circulação no mundo em 1986 e este número ultrapassou 1 bilhão, em 2010, podendo chegar a 2 bilhões de carros nos próximos 30 anos. Mais automóveis significa mais aço, mais borracha, mais vidro, mais gasolina, mais biocombustíveis, mais estacionamentos, mais ruas asfaltadas, etc. A produção de matérias-primas é crescente no mundo, gera renda e realimenta o ciclo do consumismo desregrado.
Sem dúvida, o modelo de desenvolvimento baseado no crescimento do consumo conspícuo e no acúmulo crescente de lixo não é sustentável ambientalmente. Na prática, o modelo do capitalismo excludente conseguiu adiar o desastre ambiental enquanto atendia apenas a uma parcela pequena da população mundial – situada nos chamados países desenvolvidos e nas elites ricas dos países pobres. Contudo, a insustentabilidade ficou evidente quando este modelo se generalizou e foi adotado e expandido pelos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros países emergentes.
De fato, o modelo de desenvolvimento marron só é ambientalmente sustentável se for socialmente excludente. Mas só é politicamente sustentável se conseguir ampliar o “sonho de consumo” para as classes médias emergentes. Portanto, quando se considera os fatores ambientais e políticos, o atual modelo hegemônico é, no confronto das duas maneiras, inviável.
Qual é a alternativa?
A solução passa pela construção de um modelo que seja ambientalmente e socialmente sustentáveis. Evidentemente, não é fácil caminhar neste sentido. Mas a proposta de uma economia verde e inclusiva é o que há de mais avançado na busca de uma economia de baixo carbono, com menos desperdícios e maior harmonia entre o ser humano e o meio ambiente.
Os documentos da ONU: “Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication” e “The Great Green Technological Transformation” mostram que o investimento de apenas 2% do PIB global em dez setores-chave pode ser o pontapé inicial de uma transição rumo a uma economia de baixo carbono (economia verde) e inclusiva. Os investimentos seriam nas áreas de energia, agricultura, edifícios, pesca, florestas, produção, turismo, transportes, água e resíduos.
Em certo sentido, a transição para a economia verde já começou de forma localizada no tempo e no espaço, graças às iniciativas isoladas. Mas para que seja uma alternativa global, a ECONOMIA VERDE E INCLUSIVA precisa fazer parte dos acordos e resoluções que vão sair da Rio+20, em 2012. Como disse recentemente a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira: “Nenhuma iniciativa global terá êxito se os países não têm a capacidade de transformá-los em políticas e planos nacionais. Nosso desafio é, respeitando o legado da Rio-92, criar as condições ideais para superar o déficit de implementação dos acordos multilaterais e construir uma visão compartilhada de sustentabilidade para as próximas décadas”.
Precisamos agir localmente e globalmente. Como disse o escritor Vitor Hugo: “Nenhum poder na Terra pode parar uma ideia cujo tempo chegou”. A proposta de transição do modelo hegemônico atual para a economia verde e inclusiva, pode não ser a solução mais perfeita de todos os tempos, mas é a ideia contemporânea mais viável e necessária para a sobrevivência do Planeta neste momento. O que não é viável e nem necessário é a continuidade dessa estrutura econômica e política que destrói a natureza e aquece a atmosfera. (EcoDebate)

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