terça-feira, 1 de novembro de 2011

Derretimento significativo nas geleiras da China

Cientistas chineses alertam sobre derretimento significativo das geleiras do país
Seus dados mostraram que entre 1970 e 2001, as geleiras da bacia de Pengqu perderam juntas uma área de superfície de 131 quilômetros quadrados e 12 quilômetros cúbicos de massa.
As geleiras estão diminuindo no mundo todo – algumas delas rapidamente. Agora pesquisadores chineses soaram o alarme também em seu país, onde disseram que o clima mais quente e o aumento da precipitação estão reduzindo o tamanho das geleiras. As consequências podem ser falta de água e enchentes.
Cientistas chineses não são conhecidos por colocar medo, particularmente no que diz respeito aos perigos que podem afetar grandes quantidades de pessoas. As autoridades costumam evitar dar as notícias que podem perturbar as massas – o que torna a publicação desta semana da Universidade Graduada da Academia Chinesa de Ciências em Pequim muito mais chocante.
De acordo com o artigo publicado nesta semana no jornal científico britânico “Environmental Research Letters”, a mudança climática teve efeitos devastadores sobre as geleiras das montanhas do sudoeste da China. A região inclui os Himalaias e outras cadeias que fazem parte das terras altas tibetanas.
A equipe de pesquisa liderada por Zongxing Li observou tendências de aquecimento anuais e sazonais “significativas”, junto com uma “redução drástica” e “grande perda de massa” das geleiras, o que levou a um aumento do tamanho dos lados glaciais na região, diz o artigo.
Seus dados mostraram que entre 1970 e 2001, as geleiras da bacia de Pengqu perderam juntas uma área de superfície de 131 quilômetros quadrados e 12 quilômetros cúbicos de massa. As Montanhas Gangrigabu também mostraram perdas significativas. Lá, cerca de 102 geleiras desapareceram entre 1915 e 1980, equivalendo a uma perda de mais de uma área de 41 quilômetros quadrados e de uma massa de seis quilômetros cúbicos. A geleira de Yalung sozinha diminuiu mais de 1.500 metros entre 1980 e 2001, resultando num aumento dos lagos glaciais próximos.
Enchentes, desmoronamentos e tempestades
“As implicações dessas mudanças são bem mais graves do que simplesmente a alteração da paisagem”, disseram os pesquisadores numa declaração. “Os glaciares são uma parte integral dos ecossistemas e desempenham um papel crucial na sustentação das populações humanas.”
Estudos futuros focarão em como as mudanças climáticas afetam o desenvolvimento regional, acrescenta o estudo. A água derretida associada com a redução dos glaciares podem levar a enchentes, desmoronamentos de lama e queda de rochas, enquanto as tempestades afetam o tráfego, o turismo e o desenvolvimento econômico, diz o artigo.
“Num período de tempo entre 10 e 20 anos o aumento do degelo das geleiras ameaça causar enchentes”, o glaciologista suíço Wilfried Haeberli disse à Spiegel Online. “Isso também pode levar subsequentemente a períodos de seca na Índia, por exemplo.” Esses riscos não apenas ameaçam a região do Himalaia, disse ele, mas outras regiões ao redor do mundo, inclusive os Alpes na Europa. “O estudo confirma a tendência global de aumento de temperaturas e redução de geleiras”, acrescentou.
Há cerca de 24.448 geleiras espalhadas ao longo das montanhas do sudoeste da China, que incluem os Himalaias e as montanhas Nyainqntanglha, Tanggula e Hengduan. Hoje elas representam uma área de quase 30 mil quilômetros.
Necessidade de observação a longo prazo
“A redução das geleiras é causada principalmente pelos aumentos de temperatura, especialmente nas regiões de alta altitude”, disse o líder da pesquisa, Zongxing Li, no artigo. Cerca de 77% das 111 estações climáticas incluídas no estudo mostraram um aumento de temperatura entre 1961 e 2008. As 14 estações acima dos 4 mil metros mostraram uma temperatura média anual de 1,73 graus Celsius naquela época.
Os dados não são nenhuma surpresa para outros cientistas. As temperaturas nos Alpes também aumentaram mais de 1,5 graus Celsius por ano, e as geleiras estão derretendo no mundo todo. Ainda assim, Andreas Bauder, um glaciologista do Instituto Federal de Tecnologia Zurique, na Suíça, aponta para um conjunto de dados um tanto inconsistentes usados no estudo chinês. “Os intervalos de tempo estudados em cada área de geleira são em parte muito diferentes e isso dificulta as comparações”, disse ele à Spiegel Online.
Em seu artigo, Zongxing Li e seus colegas também disseram que a “observação limitada” nessas regiões descarta a “discussão de uma relação qualitativa entre a mudança climática e o comportamento das geleiras no sudoeste da China”. De fato, “a complexidade da mudança climática e da resposta dinâmica das geleiras a ela requer uma observação a longo prazo”, acrescentaram.
Chegou-se a essa conclusão por causa de duas incoerências. Embora o aumento da temperatura e da precipitação nas Montanhas Hengduan tenha levado à redução das geleiras, eles descobriram que condições semelhantes resultaram no crescimento das geleiras nas Montanhas Gangrigabu.
“Geleiras diferentes se comportam de maneiras diferentes em escalas de tempo diferentes, então é importante monitorar a mudança das geleiras a longo prazo”, escreveram os pesquisadores. (EcoDebate)

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