sábado, 5 de novembro de 2011

Um mundo de 7 bilhões: perspectivas da população

As tendências populacionais no presente lançam sombras extensas sobre o futuro. Como essa era de 7 bilhões de habitantes irá afetar o resto do século? (Foto: Reuters)
Ao entrarmos em uma nova era da história demográfica, Ralph Hakkert, consultor técnico do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), discute o crescimento da população, o típico cidadão do mundo e por que a distância entre ricos e pobres será ampliada.
Imagine o mundo como uma vila de 1.000 habitantes. De que maneira essa vila irá alterar este século?
O crescimento total dessa vila ao longo do século será de 65%. Começamos com 1.000 pessoas em 2000, e teremos 1.650 em 2100.
Mesmo assim, o número de nascimentos por ano baixa de 22 para 20 e o número de mortes irá aumentar gradualmente, de 9 para pouco menos de 20, de forma que mortes e nascimentos estarão em equilíbrio.
As razões que explicam por que a população mundial está se estabilizando são o envelhecimento e a expansão da população. Há mais mortes, ao passo que as taxas de natalidade estão declinando.
Então o crescimento populacional está caindo?
O crescimento está caindo consideravelmente. Chegamos a 6 bilhões em dezembro de 1998; alcançaremos 7 bilhões em outubro de 2011, 8 bilhões em junho de 2025 e 9 bilhões em março de 2043.
Mas a taxa de crescimento por si só é enganosa. Convém lembrar que o crescimento está diminuindo apesar da base populacional maior. E o crescimento após 2040 ocorrerá não porque as pessoas estarão tendo mais filhos, mas porque haverá maior número de pessoas em idade de procriar. O crescimento populacional irá estancar em 2040, no sentido de que as pessoas só terão o número necessário de filhos para substituí-las.
Quando a população mundial atingirá um pico?
A projeção média, de acordo com a Divisão de População das Nações Unidas (ONU), é de que, em torno de 2115, haverá uma população de 10,2 bilhões. Eu não acredito que isso vá acontecer. Se eu tivesse de apostar, seria na menor projeção da ONU, que é de um máximo de 8,1 bilhões em 2045.
Das 20 maiores economias que respondem por 62% da população mundial, todas apresentam crescimento populacional negativo intrínseco, exceto Índia e México. As taxas de fecundidade não são altas o suficiente para repor as populações no longo prazo.
Por outro lado, nos 10 países de alta fecundidade que respondem por 38% da população mundial – como Índia, Nigéria, Congo, Uganda, Paquistão, Tanzânia – ainda existe potencial para uma explosão demográfica. Se esses países continuarem com as taxas de crescimento atuais em vez de apresentar as taxas que a ONU prevê, teremos um acréscimo de 7 bilhões de pessoas.
Que fatores-chave afetem a taxa de crescimento da população?
O impulsionador predominante para o crescimento da população é a fecundidade – o número de filhos que as pessoas têm.
Existem duas escolas de pensamento, não necessariamente contraditórias, sobre o que impulsiona a fecundidade.
Uma escola de pensamento afirma que a medida do controle que as mulheres podem ter sobre a sua própria fertilidade é o que direciona o crescimento populacional, e esse é o raciocínio que está por trás do planejamento familiar e da saúde reprodutiva.
O crescimento populacional irá estancar em 2040 no sentido de que as pessoas só terão o número necessário de filhos para substituí-las.
A outra escola reconhece que existem fortes barreiras culturais, especialmente na África subsaariana, contra a redução da fecundidade, e não se pode lidar com isso unicamente disponibilizando anticoncepcionais. Essas barreiras exigem transformações sociais no papel exercido pelas mulheres.
Por exemplo, a educação é um grande indicador dos níveis de fecundidade. Quando as mulheres têm oportunidade de trabalhar fora de casa, isso tem um forte impacto no número de filhos.
Quais são os efeitos da riqueza e da urbanização crescentes?
Uma típica família rural na África tem um incentivo econômico racional para ter muitos filhos porque o custo é mínimo, ao passo que os benefícios econômicos em potencial são grandes, já que as crianças podem começar a trabalhar desde cedo.
O antropólogo australiano John Caldwell nota que, em sociedades tradicionais, o fluxo predominante da riqueza é dos filhos para os pais, portanto, ter mais filhos é algo racional.
À medida que nos urbanizamos, os custos maiores implicados em educar e manter os filhos significa que o fluxo dos recursos vai dos pais para os filhos, e isso incentiva a ter menos filhos.
E quanto ao perfil socioeconômico da vila que imaginamos? Haverá mais gente pobre?
Não está claro para que lado as coisas caminharão. Alguns dos países com renda média, como China, Indonésia, Brasil e México, têm possibilidade de ganhar em prosperidade, enquanto os países europeus e os Estados Unidos irão baixar um pouco. Mas ainda não há certeza quanto ao que pode acontecer com os países mais pobres.
Mas, devido ao crescimento demográfico dos mais pobres ser muito mais rápido do que o dos mais ricos, pois eles têm mais filhos, a tendência é que a desigualdade de renda nessa vila global piore. Haverá menos gente rica e maiores disparidades na riqueza entre eles e o resto.
Como é a aparência do cidadão médio no mundo hoje e no futuro?
O mundo está envelhecendo. O cidadão mundial médio tem cerca de 29 anos de idade e expectativa de vida de 67 anos, se for homem, e 72 anos, se for mulher. Se for mulher, ela tem 2,5 filhos, o que é inferior aos 4,5 filhos dos anos 1970.
Na metade deste século, a idade média será de 38 anos; os homens viverão 73 anos e as mulheres 78 anos, e a fertilidade terá caído para 2,2 filhos.
No entanto, vivemos em uma época de extraordinária diversidade, então as médias não são tão expressivas. No Afeganistão, a expectativa de vida é de menos de 50 anos, seja para homens ou mulheres, enquanto no Japão os homens vivem cerca de 80 anos, e as mulheres, 87. Com a fecundidade ocorre algo similar: no Níger as mulheres têm quase 7 filhos, ao passo que na Ucrânia elas têm 1,5 filho.
Onde a típica pessoas do futuro irá morar?
A porcentagem da população mundial habitando em países em desenvolvimento está aumentando. Todo crescimento populacional a partir de agora até o final do século ocorre nos países em desenvolvimento – e tudo isso acontece em áreas urbanas. O próximo bilhão de habitantes será totalmente urbano.
Quais serão as tendências de migração na nossa aldeia global, especialmente nas sociedades em vias de envelhecer?
Há pressões muito nítidas encorajando a migração internacional como uma solução para o problema da diminuição do crescimento populacional nas economias avançadas.
A Divisão de População da ONU estudou quantos migrantes seriam necessários em um país como a Alemanha para equilibrar a estrutura etária, de modo que os benefícios da seguridade social pudessem ser mantidos nos níveis atuais.
O número é enorme: 10 a 30% da população. Pode-se lançar esse argumento econômico nesse sentido, porém a resistência contra a migração em muitos países europeus significa que isso não é uma possibilidade num futuro visível.
Contudo, se o público em geral é francamente contra a abertura das fronteiras, alguns empregadores estão fazendo pressão para aliviar as restrições: eles são os primeiros a perceber os benefícios de ter acesso a mais trabalhadores. Por isso, eu não ficaria surpreso se 20 ou 30 anos mais adiante houver grandes mudanças. (sustentabilidade.allianz)

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