População crescente e
má gestão ameaçam aquíferos latino-americanos
A América Latina está
mais avançada do que outras regiões do mundo nos cuidados com suas águas
subterrâneas, segundo a UNESCO, mas a organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura adverte para os riscos do aumento da população,
da falta de políticas de gestão dos aquíferos, da contaminação ou da quantidade
de poços sem controle.
“Nesta região estão
muito mais avançados do que em outras regiões. Mas isso não quer dizer que não
se tem ainda que melhorar a situação”, disse à AFP Alice Aureli, encarregada do
Programa Hidrológico Internacional da UNESCO.
“Na região há
especialistas de altíssimo nível, mas também há situações onde ainda falta
conhecimento e leis e capacidade de por em andamento o que é o desenvolvimento
sustentável econômico e social de um país”, acrescentou Aureli, lembrando que
cerca de 70% da água usada nas cidades é subterrânea.
“É o recurso hídrico
que todos utilizamos e do qual todos dependemos”, enfatizou, defendendo a
importância de conscientizar em todos os níveis sobre a necessidade de
preservar os aquíferos, com uma perspectiva de longo prazo.
Aureli participa de
quarta até a sexta-feira, em Montevidéu, da primeira consulta regional no
âmbito do Projeto Governança de Águas subterrâneas, programa desenvolvido pela UNESCO
junto com o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), a
Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a Associação
Internacional de Hidrogeólogos (AIH) e o Banco Mundial (BIRD).
A especialista
avaliou que em questão de risco, o aumento da população é mais importante do
que a mudança climática, mas é preciso somar também a contaminação, a falta de
políticas de gestão das águas subterrâneas e a quantidade de poços, muitos sem
nenhum tipo de controle.
“É um problema muito
complexo porque o acesso à água não pode ser caro”, afirmou Aureli. “Se a
pessoa que precisa de recursos hídricos antes de pensar em si próprio pensa em
como o que está fazendo pode prejudicar seu entorno, as coisas mudariam. As
leis não servem para mudar o mundo. Um usuário que queira esconder um poço o
fará, sempre. (…) Quando se compreenda que se compartilha, os benefícios afinal
são maiores, as coisas irão melhor, mas não estamos lá ainda, falta muito”.
A contaminação é mais
difícil de detectar no caso das águas subterrâneas e também é maior o tempo
para se recuperar o aquífero, se for possível fazê-lo.
“O perigo é muito
maior”, assegurou, destacando que “é muito difícil descontaminar um aquífero”.
Aureli destacou um
exemplo bem sucedido no Chile, no qual diante do esgotamento de alguns
aquíferos começou-se a trabalhar com os usuários até o nível governamental.
Mas “também é um
exemplo que nos diz outra vez até que o homem não enfrente um problema, não
procura um remédio. Não precisamos chegar a situações de aquíferos já
comprometidos para começar a aprovar legislações ou tentar remediar o problema.
Há países onde os aquíferos ainda não têm problemas mas se não os estudamos,
não os gerirmos, os problemas virão dentro de 10 ou 20 anos”, alertou.
Segundo a alta funcionária
da UNESCO, apesar da importância das águas subterrâneas, o tema não terá
destaque na conferência sobre sustentabilidade Rio+20, que será celebrada em
meados do ano.
“Fala-se de ‘green
economy’ (nr: economia verde), mas (…) sem uma sociedade que se comprometeu e
age na defesa de valores ambientais, nunca se alcançará a economia sustentável
para o futuro e para todo mundo”, acrescentou.
O encontro em
Montevidéu é o primeiro de cinco que serão celebrados em Quênia, Jordânia,
China e Holanda entre 2012 e 2013. (EcoDebate)
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