Destinação final
integrada de resíduos sólidos com lodos de ETAs de tratamento de água e ETEs de
tratamento de esgotos
Os trabalhos que
propõem a utilização integrada de resíduos sólidos urbanos como resíduos
orgânicos de poda juntamente com lodo proveniente de Estações de Tratamento de
Água (ETAs) e Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs) em compostagem,
principalmente aeróbica conjugada, envolvendo os lodos com resíduos sólidos
vegetais que são resultantes de poda (SILVA et al, 2008).
O lodo sanitário é um
dos principais produtos resultantes de soluções utilizadas para tratamento de
esgotos. Estações de tratamento de esgotos produzem grande quantidade de lodo e
o planejamento para sua destinação final pode ser otimizado e sinergizado
quando se propõem soluções integradas com os resíduos sólidos urbanos.
A compostagem
aeróbica juntamente com resíduos sólidos provenientes de atividades de poda e
manutenção de áreas verdes municipais é uma importante alternativa (SILVA et
al, 2008). Estes processos são importantes para a destruição de ovos de
helmintos, permitindo também estabilização dos resíduos e são controlados pela
temperatura, pH e relações físico-químicas e microbiológicas em reatores.
Estudo de Cassini
(2003) observa a importância da utilização do biogás gerado pelo consorciamento
de lodos de ETAs e ETEs com resíduos sólidos no aproveitamento e destinação
final destes materiais quando aproveitados conjuntamente.
A produção brasileira
de lodo está estimada entre 150 e 220 mil toneladas de matéria seca por ano
(TRABALLI, et al, 2009), e tende a crescer muito nos próximos anos, na medida
em que sejam supridas as necessidades de saneamento do país, com projetos de
tratamento que invitavelmente geram lodo.
Atualmente a maior
destinação de lodo é agrícola nos Estados Unidos e agrícola e de reciclagem na
Europa (TRABALLI, et al, 2009). O uso do lodo na agricultura e reflorestamento
é limitado pela ocorrência de eutrofização ou pela contaminação que pode ser
produzida por metais pesados e até mesmo a geração de patogenias para o homem.
Uma alternativa que
se torna cada vez mais atraente é a geração de biogás em consorciamento com
outros tipos de resíduos sólidos, particularmente resíduos de podas e resíduos
orgânicos.
Traballi et al, 2009
cita que 1 m3 de biogás equivale energeticamente a 1,5 m3 de gás de cozinha,
0,5 a 0,6 litros de gasolina, 0,9 litro de álcool, 1,43 kWh de eletricidade e
2,7 kg de lenha quando é queimada.
O efluente líquido
que sai do biodigestor possui propriedades fertilizantes com elevada
concentração de N, p e K, permitindo uso adequado em fertirrigação.
No aterro municipal
Bandeirantes em São Paulo, localizado na rodovia dos Bandeirantes, no km 26 em
Perus, São Paulo, os gases produzidos pela decomposição da matéria orgânica,
desde 2004 são utilizados para geração de energia calorífica que depois é
transformada em energia elétrica. São utilizados cerca de 12.000 m3 por hora de
gases, com composição de mais de 50% em metano para produzir 170 mil
megawatts/hora, energia suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil
habitantes.
Este tipo de projeto
é frequentemente citado como enquadrável para obtenção de créditos de carbono
(BASSETA et al, 2006), na medida em que ocorre uma redução na emissão de gases
de efeito estufa, tanto metano quanto dióxido de carbono, que são os
constituintes principais da decomposição da matéria orgânica.
A queima direta nunca
é citada, porque provavelmente os níveis de umidade presentes sejam muito
elevados nos lodos, mas também não é citado nenhum impedimento técnico para que
isto ocorra em padrões de umidade recomendáveis.
No aterro
Bandeirantes um projeto de certificação da redução de emissões de gases de
efeito estufa gera a venda de aproximadamente 1 milhão de toneladas de carbono,
gerando uma receita adicional de até 24 milhões de euros (TRABALLI, et al,
2009).
No aterro
Bandeirantes a captação de gases superou as expectativas iniciais, havendo
produção de 40 a 60 mil m3 de gases por hora em razão das características
específicas da massa de resíduos do local.
A conclusão possível
é que existe um amplo espaço para a implantação de projetos baseados em
mecanismos de desenvolvimento limpo, envolvendo resíduos sólidos e lodo de
estações de tratamento de esgotos, e com a expectativa de grande crescimento na
geração de lodo por conta da enorme quantidade de projetos de saneamento em
implantação, torna obrigatório o planejamento integrado entre resíduos sólidos
e lodos quanto à destinação final.
São Bernardo do Campo
é a primeira cidade do País a contar com a aprovação de um Termo de Referência
para licenciamento de uma unidade de recuperação de energia de resíduos urbanos
no município. O parecer da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(CETESB), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, acaba de
ser liberado.
Existem órgão
ambientais estaduais muito conservadores com a questão de incineração, mas esta
passando o momento de enfrentar os desafios técnicos deste problema, não é mais
possível postergar infinitamente posicionamentos.
O parecer da CETESB
para a prefeitura municipal de São Bernardo apresenta todo o modelo tecnológico
e a eficiência ambiental, bem como todos os parâmetros de controle e segurança
que a usina precisará oferecer. Ou seja, já existem parâmetros para orientar
diretrizes neste tipo de projeto.
A partir de agora, a
Prefeitura de São Bernardo do Campo irá promover novas audiências públicas
visando a implantação de uma política integrada de resíduos sólidos e de uma
política municipal de saneamento, dando continuidade a um processo iniciado no
ano passado.
A liberação desse
parecer da Cetesb em São Paulo abre ainda precedentes para que outros
municípios ou consórcios do País sejam arrojados, modernos e ousados e
enfrentem os desafios de implantar estas novas políticas integradas.
(EcoDebate)
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