As guerras do passado eram por terra,
As guerras do presente são por petróleo
As guerras do futuro serão por água.
A água é a base da vida. Nenhum ser vivo pode viver sem ela.
Embora na superfície do globo tenha mais água do que terra, a quantidade de
água potável e limpa é pequena e não se renova integralmente no ciclo hídrico.
Nas últimas décadas, além de sugar e reduzir a capacidade dos aquíferos, a
humanidade tem acelerado o processo de destruição das nascentes e aumentado a
poluição dos rios, lagos, geleiras e oceanos. O acesso à água é um direito
humano básico. Mas este direito só será eticamente justificável se a humanidade
garantir o acesso à água para as demais espécies do Planeta. A água é de todo
mundo e não pode haver exclusividades.
De toda a quantidade de água da Terra, apenas 2,5% são
potáveis. Desta pequena parcela, 69% estão congeladas nas regiões polares e 30%
misturadas no solo ou estocadas em aquíferos de difícil acesso. Só restam 140
mil Km3 de água para serem utilizadas por toda a biodiversidade do
Planeta.
Uma fonte excelente de conhecimentos sobre os problemas
hídricos do Brasil e do mundo está no livro do jornalista e ambientalista
Henrique Cortez: “Cidadania ambiental: Água” (Editora Baraúna, 2010). Outra
fonte é a Revista Cidadania & Meio Ambiente, que no n° 37, do primeiro
trimestre de 2012, traz excelente reportagem sobre “Como cuidar dos recursos hídricos”.
O primeiro parágrafo já mostra o quadro dramático da
situação: “Todos os dias, milhões de toneladas de esgoto inadequadamente
tratados e efluentes industriais e agrícolas são despejados nas águas do mundo.
Todos os anos, lagos, rios e deltas absorvem o equivalente ao peso de toda a
população humana – cerca de sete bilhões de pessoas – na forma de poluição.
Anualmente, morrem mais pessoas pelas consequências de água imprópria que por
todas as formas de violência, incluindo as guerras. Além disto, a cada ano, a
contaminação das águas dos ecossistemas naturais afeta diretamente os seres
humanos pela destruição de recursos pesqueiros ou outros impactos sobre a
biodiversidade que afetam a produção de alimentos. Ao final, a maior parte da
água doce poluída acaba nos oceanos, onde provoca graves prejuízos a áreas
costeiras e recursos pesqueiros, agravando a situação de nossos recursos
oceânicos e costeiros, e dificultando sua gestão” (p. 6).
Ninguém vive sem beber água e, sem água, não haveria comida
e nem biocombustíveis (e nem cachaça e nem cerveja). Sem água não há segurança alimentar.
Segundo a WWF, utilizando a metodologia da pegada hídrica, são necessários 15,5
mil litros de água para produzir um quilo de carne bovina, 2,7 mil litros para
fabricar uma camisa de algodão, 2,4 mil litros para um hambúrguer, 2,4 mil
litros para 100 gramas de chocolate, 1,5 mil litros para um quilo de açúcar
refinado, 140 litros para uma xícara de café e 120 litros para uma taça de
vinho. Um litro de etanol produzido a partir de cana-de-açúcar precisa de 18,4
litros de água e 1,52 metros quadrados de terra. Para alimentar os humanos, a
agricultura já capta 70% da água doce do globo e para 2050 é previsto um
aumento de mais 70% da produção agrícola e 19% de seu consumo mundial de água,
para atender a demanda demográfica e econômica.
Reportagem recente da agência EFE mostrou que: “120
milhões de europeus não têm acesso à água potável. No sul da Europa, certas
partes da Europa central e do leste europeu os cursos de água podem chegar a
perder até 80% de seu volume no verão. Na África, onde a taxa média anual de
aumento da população ronda 2,6%, 1,4 pontos a mais que a média mundial, a
demanda implícita de água acelera a degradação de seus recursos hídricos. Uma
parcela de 66% do continente africano é árido ou semiárido e mais de 300
milhões dos 800 que habitam a África Subsaariana vivem em um entorno pobre em
água, equivalente a menos de mil metros cúbicos por habitante por ano. A Ásia e
o Pacífico, por outro lado, abrigam 60% da população mundial mas não possuem
mais que 36% dos recursos hídricos”.
Reportagem do Le Monde mostra que “A guerra da água” é uma
possibilidade cada vez mais próxima e comenta, por exemplo, os conflitos
geopolíticos causados pela diminuição dos recursos hídricos em uma região já
muito instável como o triângulo Paquistão-Índia-China. Expostos a necessidades
crescentes em energia, os Estados situados em torno do Himalaia – sobretudo a
China e a Índia que apresentam altas taxas de crescimento econômico – embarcaram
em ambiciosos projetos de barragens hidrelétricas, causando tensões inevitáveis
com os países situados na direção da foz dos principais rios asiáticos. O
derretimento de algumas geleiras himalaias, que aumenta os riscos de inundação
em curto prazo, contribui para agravar os problemas.
Ainda segundo o Le Monde, a Índia se situa no centro de um
quebra-cabeça “hidropolítico”. Além de suas brigas ideológicas com seus
vizinhos, a divisão das águas do Himalaia aparece como uma grande fonte de
atritos. Com a China, a controvérsia só tem aumentado nos últimos anos. Ela se
concentra nos projetos chineses ao longo do Brahmaputra (também chamado por seu
nome tibetano Yarlung Zangbo pelos chineses), que começa no Tibete, bem como a
maior parte dos grandes rios da Ásia. Saindo do Tibete, o Brahmaputra atravessa
os Estados indianos de Arunashal Pradesh e do Assam (nordeste), antes de
percorrer Bangladesh. O governo de Nova Déli também vê com bastante
desconfiança a construção de tais barragens, que podem alterar o curso do rio
em suas terras do nordeste. Recentemente houve polêmicas a respeito de rumores
sobre um suposto projeto faraônico de Pequim visando desviar a água do
Brahmaputra para canalizá-la na direção das sedentas regiões do Norte da China.
O Nepal, apesar de ser um país situado na direção da nascente, devido ao seu
atraso tecnológico teve de cooperar com a Índia para a construção de suas
barragens em virtude de acordos acusados de serem “desiguais” por alguns
partidos nepaleses.
O exemplo da Ásia pode ser completado com vários exemplos de
conflitos “hidropolíticos” na África, pois a bacia do rio Nilo não comporta o
crescimento populacional e econômico dos países que dependem de suas águas.
Nestes aspectos, o continente americano é privilegiado, pois possui mais água e
menos conflitos. Mas a disputa pela água juntamente com a disputa territorial
possibilitou, por exemplo, que o Brasil e o Paraguai resolvessem seus conflitos
inundando a maravilha da natureza que era Sete Quedas, no rio Paraná, para dar
lugar ao atual lago de Itaipu. Este é um dos maiores crimes ambientais da
história brasileira.
Mas com ou sem guerras, o fato é que os recursos hídricos
estão ficando cada vez mais escassos para a humanidade e ainda mais escassos
para a biodiversidade. Principalmente faltam políticas adequadas de gestão dos
aquíferos e das bacias hidrográficas. Falta também questionar o crescimento
econômico pelo crescimento que aumenta a demanda mundial pela água e agrava os
problemas de poluição. O que o mundo precisa é mudar o modelo de
desenvolvimento marrom e dar início a uma Revolução Azul, para preservar as
águas e a vida na água, reduzindo a acidez e ampliando a biodiversidade
aquática. O mundo precisa oxigenar a vida política e oxigenar biologicamente a
Terra, o Planeta Azul. (EcoDebate)
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