Limitar aquecimento a
2ºC está fora de alcance, diz Yvo de Boer, ex-chefe climático da ONU
O ex-chefe climático
da ONU disse em 27/03/12 que o compromisso de restringir o aquecimento do
planeta a 2ºC, que ele ajudou a costurar na Cúpula de Copenhague pouco mais de
dois anos atrás, hoje é inatingível.
“Penso que [a meta
de] dois graus está fora de alcance”, disse Yvo de Boer,
ex-secretário-executivo da Convenção-quadro sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC,
na sigla em inglês), durante uma conferência realizada em Londres sobre a saúde
do planeta, a poucos meses da cúpula Rio+20, que será celebrada em junho no Rio
de Janeiro.
As 195 partes da
Convenção-quadro se comprometeram a limitar a elevação das temperaturas globais
em dois graus Celsius.
A meta foi
estabelecida por um grupo central de países nas horas finais da turbulenta
Conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, e foi formalizada na cúpula de
Cancun, um ano depois.
Mas um número cada
vez maior de cientistas alerta que o objetivo está se esvaindo sem a realização
de cortes radicais nas emissões de gases causadores do efeito estufa,
responsáveis pelas mudanças climáticas. Alguns consideram que a meta é uma
ilusão política perigosa, uma vez que a Terra se encaminha para uma elevação da
temperatura de 3ºC ou mais.
“A meta de dois graus
está perdida, mas não significa para mim que devamos esquecê-la”, disse de Boer
em entrevista à AFP.
“É uma meta muito
significativa, não se trata de um simples alvo que foi tirado do nada, tem a
ver com tentar limitar a quantidade de impactos”, acrescentou.
“Não se deve esquecer
disso, no sentido de que está se ignorando o fato de que se passou pela
dificuldade de formular uma meta que não é alcançada por falta de ação
política”, continuou.
“Consequentemente, o
processo deveria se tratar de como conseguir aproximar o máximo possível dos
2ºC e não dizer ‘comecem tudo de novo e formulem uma nova meta’, esquecendo que
passamos por isto muito recentemente”, alertou.
Copenhague
representou um limite nas discussões globais sobre o clima. Suas frustrações,
juntamente com as crises financeira e fiscal que atingiram em cheio os países
ocidentais, fizeram muitos governos marcar passo e até restringir seus planos
de ação contra as emissões de carbono.
Enquanto isso, o alto
preço do petróleo e do gás levaram os grandes emergentes a queimar cada vez
mais carvão, a mais suja das fontes de energia fósseis, aumentando as
concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2).
No ano passado,
durante a reunião anual da UNFCCC em Durban, na África do Sul, os países
concordaram em estabelecer um novo acordo climático em 2015 com entrada em
vigor em 2020, colocando tanto os países ricos quanto os pobres pela primeira
vez sob restrições legais comuns.
De Boer disse esperar
que o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
sirva de incentivo para uma retomada do ‘deadline’ de 2015.
“Felizmente, teremos
outro grande relatório do IPCC em 2014 e então, quando os governos se reunirem
em 2015 para negociar algo significativo, a ciência disponibilizará as
informações para este processo político”, afirmou. (EcoDebate)
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