Irrigação em todo o semiárido é ilusão. Só 5% do
solo é apto para irrigação. Só há água para 2%. Sempre haverá semiárido, é
preciso conviver com isso.
A severa diminuição
no regime das chuvas que assola o semiárido brasileiro estava prevista pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Grandes secas no Nordeste são
cíclicas: a última foi há 26 anos, em 1982, e daqui um período semelhante
teremos outra diminuição drástica e progressiva no volume da pluviosidade.
Esses momentos são
férteis para o cometimento de loucuras e demagogias hídricas. Por isso, são
necessárias algumas reflexões.
O regime das chuvas,
em média, começou a diminuir desde 2006, tendo seu pico em 2012, mas a seca
pode adentrar 2013. A região mais atingida é o semiárido baiano. Na verdade,
40% do semiárido brasileiro está na Bahia. Cerca de 250 municípios decretaram
situação de emergência. Mas a diminuição das chuvas já se estende ao chamado
polígono das secas, atingindo os nove estados do Nordeste.
Encontros para
debater o problema, incluindo os moradores da região, mostram que hoje é mais
fácil enfrentar a situação que há 30 anos.
Agora, há pelo menos
uma cisternas para depositar a água dos pipas, há o salário dos aposentados
para fazer uma feira, há mais facilidade nos transportes, a energia elétrica
ajuda e há o próprio Bolsa Família. Entretanto, essa infraestrutura ainda é
insuficiente para que o período seja atravessado sem maiores sofrimentos.
Não se pode comparar
o semiárido de hoje com o de dom Pedro 2º. No século passado, o Denocs
(Departamento Nacional de Obras contra a Seca) construiu cerca de 70 mil açudes
para armazenar a água da chuva, com uma capacidade de 36 bilhões de metros
cúbicos. Grande parte desses açudes, assim como rio São Francisco, está com
água. Onde reside o problema?
Hoje, a maioria dos técnicos
insiste que a questão chave está na capilaridade da distribuição dessa água. Não foi
realizada a distribuição horizontal, por adutoras.
Pior, alguns açudes,
como o de Mirorós, na Bahia, tiveram suas águas intensamente utilizadas para
irrigação, quando de forma planejada deveriam ter sido poupadas para o uso
humano e para a dessedentação dos animais, já que a seca estava prevista. Nesse
caso, o fato novo pode ser o colapso hídrico do meio urbano, não apenas das
famílias dispersas no meio rural.
Por isso, o
diagnóstico da Agência Nacional de Águas (ANA) é que 1.794 municípios nos nove
estados do Nordeste precisam de novos ou complementares serviços de água para
não entrarem em colapso hídrico até 2025.
Outra questão é
vender a ilusão da irrigação para todo o semiárido.
O projeto Áridas,
realizado ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, concluiu que apenas 5%
dos solos do semiárido são aptos para a irrigação -e, mesmo assim, temos água
para irrigar apenas 2% deles.
Portanto, 95% do
semiárido sempre serão semiárido.
É inevitável
desenvolver um olhar sistêmico sobre a região, algo que chamamos de convivência
com o semiárido. São necessárias propostas de atividades econômicas adequadas a
esse ambiente específico.
O semiárido tem
solução. O pouco que foi feito contribuiu decididamente com a diminuição da
mortalidade infantil na região, fato que surpreendeu inclusive os técnicos do
IBGE. Temos apenas 400 mil cisternas -projetadas para períodos de seis meses
sem chuva- e poucas adutoras, insuficientes para suportar períodos de longa
estiagem.
Quem sabe a geração
nordestina que vai viver a seca em 2042, agravada pelas mudanças climáticas,
possa estar melhor infraestruturada do que a geração atual. (EcoDebate)
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