sábado, 11 de agosto de 2012

Cidades da campina

Das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China. Além disso, segundo o Ministério de Recursos Hídricos, dois terços das 669 maiores cidades chinesas sofrem com a escassez de água, levando-as a aprofundar cada vez mais os poços nos aquíferos que formam suas últimas fontes locais de abastecimento. O bombeamento excessivo de águas subterrâneas fez com que a terra afundasse pelo menos 2 metros em cerca de 50 cidades na planície norte da China, o Delta do Rio Yangtze e os planaltos do vale do Rio Wei, perto de Xi’an, impactando uma área total de cerca de 100 mil km 2. "Afundamento de terras devido à exploração excessiva de águas subterrâneas é um tipo de risco geológico regional que se desenvolve lentamente e progride para um desastre difícil de controlar, o que implica grandes perdas", relata a Pesquisa Geológica da China.
2/3 das 669 maiores cidades chinesas sofrem com a escassez de água
Nas cidades de Pequim (20 milhões de habitantes) e Tianjin (13 milhões), o abastecimento de água per capita caiu para 100 metros cúbicos em 2011, um décimo do valor internacional de referência para escassez de água, após 13 anos de seca. Pequim obtém dois terços de seus recursos por meio de dezenas de milhares de poços, extraindo águas subterrâneas que estão diminuindo.
O afundamento das terras trincou encanamentos de água subterrânea e gás, debilitando os planos de triplicação do sistema de metrô de Pequim até 2020, que o tornaria o maior do mundo. Em Xangai (25 milhões), o afundamento começou nos anos 1920, mas foi contido na década de 1960 por meio de limites de bombeamento e recargas artificiais dos aquíferos – apenas para ver intensificar-se o afundamento de terras centrais nos anos 1990, quando o bombeamento de água em locais de escavação e a construção de cerca de 5 mil prédios sobrecarregaram a superfície da terra acima dos aquíferos esvaziados. O afundamento de terra ameaçou o sistema ferroviário de alta velocidade, e esse ano causou o colapso de 7 km de novas vias da rota Xangai-Pequim.
Pequim apresenta os problemas mais graves. Descrita em registros históricos de cerca de 3 mil anos como uma cidade murada situada no extremo norte de uma extensa planície triangular, um lugar onde regentes chineses ofereciam seda e prata para aplacar os guerreiros mongóis, Pequim se tornou uma cidade importante em 936 a.C. sob o governo dos Khitans, uma tribo do Norte que controlava as rotas comerciais na Ásia central. Na época que Kublai Khan (1215-1294) fez de Pequim sede da sua dinastia mongol, a água era trazida através de canais de correntes intermitentes, que fluíam próximas às Colinas do Leste.
Florestas inteiras queimadas
Mais tarde, dinastias arrancaram as florestas da planície para plantar e para alimentar fornos para cozer tijolos e forjar o ferro, conforme secavam as fontes e recuava o lençol freático. "Não foram deixadas árvores altas nas montanhas", uma velha crônica relata, já que "florestas inteiras foram queimadas". No início do século 20, Pequim era uma capital imperial com baixa densidade populacional, palácios, templos e jardins e cerca de um milhão de pessoas. Quando os comunistas chegaram ao poder em 1949, sua população tinha crescido para quatro milhões e, desde então, multiplicou-se por cinco.
O profundo envolvimento de Mao Tsé-tung com o futuro de Pequim começou em 1918-19, como funcionário da biblioteca da Universidade de Pequim sob a tutela do Professor Li Ta-chao, um fundador do Partido Comunista. Três décadas depois, Mao voltou triunfante. "O presidente Mao quer uma cidade grande e moderna", disse o secretário do Partido em Pequim, "ele espera que o céu seja repleto de chaminés". Eram construídas 6 mil fábricas que produziam aço, produtos químicos, eletricidade, cimento e armamentos, sem fontes locais de água e energia. O novo regime derrubou as antigas muralhas da cidade para criar uma avenida de dez pistas para desfiles militares, enquanto a Praça Tinanmen foi remoldada ao estilo da Praça Vermelha de Moscou. Cerca de 50 quilômetros de túneis foram cavados para servirem de abrigo contra ataques nucleares, assim como um sistema de metrô que alcançava os blocos de apartamentos cinzentos dos novos subúrbios. Outra onda de construções veio nas últimas duas décadas, impulsionada pela abertura da China à economia mundial, com arquitetos estrangeiros contratados para projetar deslumbrantes hotéis e torres de escritórios e que teve por clímax a farra imobiliária que antecedeu as Olimpíadas de 2008. O historiador de Pequim Jasper Becker estimou que esta grande reforma urbana custou mais de US$ 200 bilhões, além dos US$ 40 bilhões gastos nas Olimpíadas.
Desde a época de Kublai Khan, Pequim era tradicionalmente abastecida por águas subterrâneas de nascentes e poços rasos. O município expandido de Pequim abrange cinco rios principais e mais de 200 córregos menores, a maioria agora completamente seca. Com quase toda a chuva concentrada em alguns poucos meses de verão, as tempestades de areia atacam a metrópole toda primavera conforme o Deserto de Gobi invade a planície. No meio século após a fundação da República Popular em 1949, o governo construiu 85 represas e reservatórios em Pequim e perfurou 40 mil poços em seus subúrbios. Em 1950, Mao ordenou construção de Guanting, o primeiro grande reservatório da China, que captou 2,2 bilhões de m3 de água para Pequim. Em 1997, a água estava poluída demais para o consumo humano graças aos efluentes de viveiros de peixes e de fábricas locais. Naquele ano, o reservatório recebia apenas um décimo de sua entrada original, em 1954, quando terminou a construção. (OESP)

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