Das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China. Além disso,
segundo o Ministério de Recursos Hídricos, dois terços das 669 maiores cidades
chinesas sofrem com a escassez de água, levando-as a aprofundar cada vez mais
os poços nos aquíferos que formam suas últimas fontes locais de abastecimento.
O bombeamento excessivo de águas subterrâneas fez com que a terra afundasse
pelo menos 2 metros em cerca de 50 cidades na planície norte da China, o Delta
do Rio Yangtze e os planaltos do vale do Rio Wei, perto de Xi’an, impactando
uma área total de cerca de 100 mil km 2. "Afundamento de terras devido à
exploração excessiva de águas subterrâneas é um tipo de risco geológico
regional que se desenvolve lentamente e progride para um desastre difícil de
controlar, o que implica grandes perdas", relata a Pesquisa Geológica da
China.
2/3 das 669 maiores cidades chinesas sofrem com a escassez de água
Nas cidades de Pequim (20 milhões de habitantes) e Tianjin (13 milhões),
o abastecimento de água per capita caiu para 100 metros cúbicos em 2011, um
décimo do valor internacional de referência para escassez de água, após 13 anos
de seca. Pequim obtém dois terços de seus recursos por meio de dezenas de
milhares de poços, extraindo águas subterrâneas que estão diminuindo.
O afundamento das terras trincou encanamentos de água subterrânea e gás,
debilitando os planos de triplicação do sistema de metrô de Pequim até 2020,
que o tornaria o maior do mundo. Em Xangai (25 milhões), o afundamento começou
nos anos 1920, mas foi contido na década de 1960 por meio de limites de
bombeamento e recargas artificiais dos aquíferos – apenas para ver
intensificar-se o afundamento de terras centrais nos anos 1990, quando o
bombeamento de água em locais de escavação e a construção de cerca de 5 mil
prédios sobrecarregaram a superfície da terra acima dos aquíferos esvaziados. O
afundamento de terra ameaçou o sistema ferroviário de alta velocidade, e esse
ano causou o colapso de 7 km de novas vias da rota Xangai-Pequim.
Pequim apresenta os problemas mais graves. Descrita em registros
históricos de cerca de 3 mil anos como uma cidade murada situada no extremo
norte de uma extensa planície triangular, um lugar onde regentes chineses
ofereciam seda e prata para aplacar os guerreiros mongóis, Pequim se tornou uma
cidade importante em 936 a.C. sob o governo dos Khitans, uma tribo do Norte que
controlava as rotas comerciais na Ásia central. Na época que Kublai Khan
(1215-1294) fez de Pequim sede da sua dinastia mongol, a água era trazida
através de canais de correntes intermitentes, que fluíam próximas às Colinas do
Leste.
Florestas inteiras queimadas
Mais tarde, dinastias arrancaram as florestas da planície para plantar e
para alimentar fornos para cozer tijolos e forjar o ferro, conforme secavam as
fontes e recuava o lençol freático. "Não foram deixadas árvores altas nas
montanhas", uma velha crônica relata, já que "florestas inteiras
foram queimadas". No início do século 20, Pequim era uma capital imperial
com baixa densidade populacional, palácios, templos e jardins e cerca de um
milhão de pessoas. Quando os comunistas chegaram ao poder em 1949, sua
população tinha crescido para quatro milhões e, desde então, multiplicou-se por
cinco.
O profundo envolvimento de Mao Tsé-tung com o futuro de Pequim começou
em 1918-19, como funcionário da biblioteca da Universidade de Pequim sob a
tutela do Professor Li Ta-chao, um fundador do Partido Comunista. Três décadas
depois, Mao voltou triunfante. "O presidente Mao quer uma cidade grande e
moderna", disse o secretário do Partido em Pequim, "ele espera que o
céu seja repleto de chaminés". Eram construídas 6 mil fábricas que
produziam aço, produtos químicos, eletricidade, cimento e armamentos, sem
fontes locais de água e energia. O novo regime derrubou as antigas muralhas da
cidade para criar uma avenida de dez pistas para desfiles militares, enquanto a
Praça Tinanmen foi remoldada ao estilo da Praça Vermelha de Moscou. Cerca de 50
quilômetros de túneis foram cavados para servirem de abrigo contra ataques
nucleares, assim como um sistema de metrô que alcançava os blocos de
apartamentos cinzentos dos novos subúrbios. Outra onda de construções veio nas
últimas duas décadas, impulsionada pela abertura da China à economia mundial,
com arquitetos estrangeiros contratados para projetar deslumbrantes hotéis e
torres de escritórios e que teve por clímax a farra imobiliária que antecedeu
as Olimpíadas de 2008. O historiador de Pequim Jasper Becker estimou que esta
grande reforma urbana custou mais de US$ 200 bilhões, além dos US$ 40 bilhões
gastos nas Olimpíadas.
Desde a época de Kublai Khan, Pequim era tradicionalmente abastecida por
águas subterrâneas de nascentes e poços rasos. O município expandido de Pequim
abrange cinco rios principais e mais de 200 córregos menores, a maioria agora
completamente seca. Com quase toda a chuva concentrada em alguns poucos meses de
verão, as tempestades de areia atacam a metrópole toda primavera conforme o
Deserto de Gobi invade a planície. No meio século após a fundação da República
Popular em 1949, o governo construiu 85 represas e reservatórios em Pequim e
perfurou 40 mil poços em seus subúrbios. Em 1950, Mao ordenou construção de
Guanting, o primeiro grande reservatório da China, que captou 2,2 bilhões de m3
de água para Pequim. Em 1997, a água estava poluída demais para o consumo
humano graças aos efluentes de viveiros de peixes e de fábricas locais. Naquele
ano, o reservatório recebia apenas um décimo de sua entrada original, em 1954,
quando terminou a construção. (OESP)
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