Raízes secas: clima levará a desequilíbrios dos recursos hídricos na
China
Segunda avaliação Nacional sobre Mudança do Clima
não é nada otimista.
"A mudança climática levará a graves
desequilíbrios dos recursos hídricos na China anualmente e ao longo dos
anos", disse a Segunda Avaliação Nacional sobre Mudança do Clima, em
novembro de 2011. "Na maioria das áreas, a precipitação vai se tornar cada
vez mais concentrada nas temporadas de chuva no verão e no outono, e enchentes
e secas se tornarão cada vez mais frequentes." A maior parte das chuvas
vem nas monções de julho e agosto. Secas recorrentes ao longo dos últimos três
séculos se intensificaram.
A mudança climática está punindo a China com o
aumento de secas e tempestades de areia conforme o Deserto de Gobi invade a
Planície Norte, onde muitos rios estão secos e interrompidos, perdendo sua
capacidade de repor a água subterrânea e carregar areia e sal. Como a densidade
populacional aumentou, a sobrevivência de cidades e fazendas agora depende do
bombeamento de águas subterrâneas que estão recuando.
O esgotamento dos aquíferos é uma ameaça. O número
de poços subiu de 150 mil em 1965 para 4,7 milhões em 2003, e para dezenas de
milhões hoje, por causa dos preços de água abaixo do custo e à disseminação de
tecnologia barata de bombeamento.
Em 2002, a extração excessiva de água subterrânea
baixou os lençóis freáticos em até 50 metros e em até 90 metros em aquíferos
profundos – perfurados a profundidades superiores a 1 mil metros hoje. O
esgotamento dos aquíferos apressa a secagem de lagos e pântanos e aumenta a
salinidade, conforme a água marinha invade as cavidades subterrâneas
esvaziadas. A compactação de aquíferos esgotados destrói sua capacidade de
armazenamento e, portanto, sua utilidade como reserva estratégica em anos
secos, o que agrava o impacto de secas e desertificação em algumas áreas.
Desigualdade
A Planície Norte, que abriga cerca de 500 milhões
de pessoas, abrange 65% das terras cultiváveis da China, mas apenas 24% de seus
recursos hídricos, que produzem 80% de seu milho e trigo. O planalto de loess é
seco. Os agricultores dependem de irrigação. Mas a irrigação desperdiça muito.
Apenas metade da água que vem dos canais principais efetivamente chega aos
campos.
Entre 1965 e 1975, apesar das convulsões da
Revolução Cultural, a área de irrigação quase dobrou, com investimentos em
infraestrutura de água aumentando 10% por ano. Mas falta aos canais
revestimento para proteger contra infiltração e esforços de conservação, o que
causa deterioração estrutural de sistemas de irrigação locais por toda a China,
com canais entupidos e dilapidados por lama e detritos.
A irrigação ampara 80% da produção chinesa,
principalmente de trigo, milho, arroz, algodão e hortaliças, cultivadas por
mais de 245 milhões de famílias em pequenos lotes. A pressão sobre os recursos
hídricos se intensifica com duplas colheitas, com trigo crescendo no inverno e
milho no verão.
Com 19 milhões de hectares, a China só perde para a
Índia em área equipada para irrigação por bombeamento de águas subterrâneas. De
acordo com pesquisa do governo, o lençol freático recuou até 1 metro por ano na
planície do norte entre 1974 e 2000, enquanto a extração de água subterrânea
aumentou em 2,5 bilhões de m³ por ano e a poluição dos aquíferos se
intensificou. No sul da China, a água subterrânea está contaminada por metais
pesados e outros poluentes industriais. A Pesquisa Geológica da China descobriu
que 90% das águas subterrâneas estão poluídas – 60% delas, seriamente.
O esgotamento das águas subterrâneas é tendência
mundial, conforme a atividade econômica se intensifica e os níveis de consumo
aumentam, com impactos variados em países como EUA, Índia, Paquistão, México,
Arábia Saudita e Iêmen, para citar alguns. A China é especialmente vulnerável
por causa do tamanho e da densidade da sua população e pela súbita onda de
crescimento urbano, econômico e de padrões de vida nas últimas décadas. As
pressões são mais urgentes nas cidades. (OESP)
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