O Japão é um dos
exemplos mais significativos de decrescimento demográfico. A população japonesa
era de 82,2 milhões de habitantes em 1950 (enquanto o Brasil tinha 52 milhões)
e chegou ao seu pico máximo em 126,6 milhões em 2009. Aumentou apenas 50% em 60
anos (período em que a população mundial quase triplicou) e iniciou uma fase de
declínio. Tudo indica que, no “Império do Sol”, as duas fases de crescimento e
decrescimento populacional vão se conformar, aproximadamente, no formato de uma
curva normal (curva de Gauss), que também é o formato do cone perfeito do Monte
Fuji.
A divisão de população
da ONU estima, para o ano de 2050, uma população de 121,5 milhões na hipótese
alta, de 108,5 milhões na hipótese média e de apenas 96,7 milhões na hipótese
baixa. Para o final do século as hipóteses são: 141,7 milhões de habitantes, na
hipótese alta, de 91,3 milhões, na média, e somente 55,2 milhões na hipótese
baixa. Ou seja, o Japão pode ter uma população em 2100 menor do que aquela de
1950.
O Japão que tinha a
quinta maior população do mundo, quando o globo tinha cerca de 2,5 bilhões de
habitantes (cerca de 3% dos habitantes do mundo em 1950), deve passar para
cerca de 0,5% dos habitantes do mundo no final do século XXI. A densidade
demográfica do Japão era de 218 habitantes por km2, passou para 335 hab/km2
em 2010 e deve cair para 242 hab/km2 na projeção média para 2100.
O declínio da
população japonesa decorre das baixas taxas de fecundidade total (TFT). Durante
a Segunda Guerra, o militarismo japonês incentivou o aumento da fecundidade,
mas depois da derrota, o tamanho das famílias caiu e as mulheres já apesentavam
uma média de somente 3 filhos no quinquênio 1950-55. Dez anos depois a
fecundidade já estava abaixo do nível de reposição e continuou caindo até o
limite inferior de 1,3 filhos por mulher no quinquênio 2000-05. A divisão de
população da ONU acredita que as taxas de fecundidade vão aumentar até atingir
o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) no final do atual século. Mas
mesmo com as taxas de fecundidade voltando a subir, a população vai continuar
caindo, porém, pode cair em ritmo maior ou menor dependendo da recuperação do
número de filhos das famílias.
O Japão foi um dos
países que apresentou uma das maiores taxas de crescimento econômico e social
entre 1950 e 1990, aproveitando de forma exemplar a fase propícia da estrutura etária
que, em geral, fornece um bônus demográfico, quando há investimentos corretos
em educação, saúde e mercado de trabalho. Foi o primeiro país oriental a entrar
no clube dos países desenvolvidos.
O Japão tinha uma
taxa de mortalidade infantil de 50 por mil no quinquênio 1950-55 e conseguiu
fazer um feito histórico com a redução para 2,6 mortes para cada mil
nascimentos, uma das mais baixas do mundo e quase chegando nos limites
biológicos de baixa. Para o quinquênio 2045-50 estima-se uma taxa de 2,3 por mil.
Esta espetacular queda da mortalidade infantil teve papel fundamental para
tornar a esperança de vida da população japonesa a maior do mundo. No
quinquênio 1950-55 os japoneses viviam em média 62,2 anos e atingiram uma
esperança de vida de 82,7 anos no quinquênio 2005-10, sendo que as mulheres
japonesas estavam na liderança mundial vivendo 87,4 anos em média.
O Japão – único país
do mundo a sofrer ataques atômicos (em Hiroshima e Nagasaki) – conseguiu uma
grande recuperação após a Segunda Guerra Mundial e se tornou a terceira
economia do mundo, garantindo um grande padrão de vida para a sua população.
Mas o país depende dos recursos naturais do restante do mundo.
Segundo o relatório
Planeta Vivo de 2012, da WWF, a população japonesa tinha uma pegada ecológica
de 4,17 hectares globais (gha) em 2008, para uma biocapacidade de somente 0,59
gha. Isto quer dizer que o país do sol nascente tem um déficit ambiental de
cerca de 600%, embora seja um dos países que apresente grande cobertura
florestal em seu montanhoso território.
Uma diminuição da
população japonesa nas próximas décadas pode ser muito positivo para a redução
do déficit ambiental do país. Mas apenas a diminuição do número de habitantes
não resolve o problema da pegada ecológica. Depois desastre ocorrido na usina
nuclear de Fukushima, o Japão vai precisar investir bastante em energias
renováveis (eólica, solar, das ondas, geotérmica, etc.) para reduzir a
dependência da energia nuclear e dos combustíveis fósseis, diminuindo substancialmente
a emissão de gazes de efeito estufa.
Talvez a terra dos
Samurais seja o primeiro país a apresentar decrescimento populacional e
econômico, nesta primeira metade do século XXI, mas sem prejudicar
significativamente a qualidade de vida de seus cidadãos. O Japão pode se tornar
um bom laboratório para a perspectiva da “prosperidade sem crescimento” ou até
mesmo da “prosperidade com decrescimento”. (EcoDebate)
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