Não é por acaso que
boa parte da teoria do caos, tão utilizada para explicar os novos modelos não
lineares capazes de melhor descrever fenômenos e processos naturais nasceu
dentro de laboratórios e centros de pesquisa de empresas e organizações.
Isto comprova que a
cultura produtivista de empresas e organizações consegue assimilar muito bem a
ideia de que padrões e modelos podem não ser lineares e terem grande padrão de
equilíbrio ou regularidade dentro de uma aparente irregularidade.
Motivos de alterações
de gráficos de vendas de produtos podem ser embalagens, distribuição,
comissões, sazonalidade, divulgação e uma quantidade muito grande de fatores,
independentes, dependentes entre si ou sinérgicos, o que de alguma forma guarda
analogia com o princípio das propriedades emergentes tão discutido e aceito na
biologia contemporânea. Às vezes a associação de sazonalidade com mecanismos de
divulgação implica em alterações de comportamento no ciclo de vida de um produto
que não são possíveis de serem reduzidas a simplórias correlações diretas ou
equações lineares simples.
Deste modo, até
conceitos muito sedimentados na moderna bibliografia empresarial, como
sustentabilidade merecem ser revistos. O conceito original de sustentabilidade
vem de uma visão holística, integrada e quase materna, quando a antiga primeira
ministra da Noruega Gros Harlem Brutland asseverou a ideia de que
sustentabilidade é utilizar os recursos naturais necessários, sem comprometer
sua disponibilidade para as gerações futuras (ONU, 1991).
O marco de referência
é o ano de 1987, quando a então presidente da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland, apresentou para a Assembléia
Geral da ONU, o documento “Nosso Futuro Comum”, que ficou conhecido como
Relatório Brundtland (VEIGA, 2005, p. 191).
Nesse Relatório o
desenvolvimento sustentável foi conceituado como sendo “aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 46). É em suma um conceito bonito, que permite que
deitemos a cabeça no travesseiro à noite e tenhamos um sono tranquilo, mas não
salva o planeta. Mas precisa ser revisto à luz do nível de degradação ambiental
observado em cada contexto geográfico. Contribuiu também para gerar equívocos
como a economia ligada ao comércio de créditos de carbono: a degradação da
minha aldeia é sustentável desde que eu compre títulos de diminuem a emissão de
gases ou derrubada de matas do outro lado do planeta. Mas e a minha aldeia
ficou mais sustentável por isso?
Mesmo tendo este
marco para sua conceituação, a noção de desenvolvimento sustentável exibe uma
evolução de conceitos a partir do “ecodesenvolvimento”, que vinha sendo
defendido desde 1972, ano de realização da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente, em Estocolmo (Ignacy Sachs, Desenvolvimento: includente,
sustentável, sustentado, 2004, p. 36).
Segundo VEIGA (2005,
obra citada, p. 17-18), três são os entendimentos acerca do desenvolvimento com
sustentabilidade.
A primeira corrente
seria a dos fundamentalistas. Nesse entendimento, o desenvolvimento teria o
mesmo significado de crescimento econômico. Essa noção ainda apresenta grande
força na atualidade, tendo como principal exemplo de sua aplicação a comum
medição do desenvolvimento com base no Produto Interno Bruto per capita de um
país. O desenvolvimento seria uma decorrência natural do crescimento econômico
em razão do que se chama de “efeito cascata” (SACHS, na obra citada, 2004, p.
26).
Esse entendimento foi
enfraquecido com o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD)
através do “Relatório do Desenvolvimento Humano” e do lançamento do “Índice de
Desenvolvimento Humano” (IDH). A criação desse programa e do índice teve como
causa a percepção de que o crescimento econômico apresentado por alguns países
na década de 1950 não trouxe consigo os mesmos resultados sociais ocorridos em
outros países considerados desenvolvidos (VEIGA, 2005, na obra citada, p. 18 –
19).
A segunda corrente de
pensamento nega a existência do desenvolvimento, tratando-o como um mito. São
denominados de pós-modernistas. Para o grupo, a noção de desenvolvimento
sustentável em nada altera a visão de desenvolvimento econômico, sendo ambas o
mesmo mito. (SACHS, 2004, na obra citada, p. 26).
Giovanni Arrighi é um
dos autores dessa vertente. Divide os países em pertencentes do “núcleo
orgânico”, “semiperiféricos” e “emergentes”, não acreditando ser possível,
somente em condições exepcionais, que um país altere a sua posição.
Ainda como
pós-modernistas encontram-se Oswaldo de Rivero, Majid Rahnema e Gilbert Rist.
Nessa interpretação o que os países em desenvolvimento precisariam buscar não
seria o desenvolvimento e sim a sobrevivência, com todas as consequências
ambientais que esta postura determina. Não se pode culpar alguém por executar
uma ação que agride o meio ambiente, quando a sobrevivência das pessoas depende
disto.
O terceiro e mais
complexo entendimento ganha força com o primeiro Relatório do Desenvolvimento
Humano em 1990, e obtendo maior consistência nas palavras Amartya Sen em 1996 e
1997 com a noção de desenvolvimento como liberdade de modo que só poderia
ocorrer se fossem garantidos a todas as pessoas os seus direitos individuais,
que efetivariam a sua liberdade.
Assim, liberdade em
nenhum momento poderia se restringir e ser entendida como renda per capita,
devendo abranger questões culturais, sociais, entre outras (VEIGA, 2005, obra
citada, p. 33–34). Essa é a noção que mais se aproxima das discussões atuais
sobre o desenvolvimento sustentável, tendo grande importância nesse processo de
transformação.
Isto explica a
necessidade cada vez maior de participação das comunidades nas discussões
ambientais, seja na avaliação de projetos em audiências públicas, seja na
elaboração e implantação de políticas públicas de meio ambiente. (EcoDebate)
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