Degelo do Ártico tem consequências ‘enormes’ para o planeta
Imagem da
NASA/NSIDC mostra redução da extensão de gelo marinho no Ártico desde 1979
Degelo do Ártico traz
enormes e misteriosas consequências – O degelo do Ártico tem consequências
“enormes” para o planeta, como condições climáticas extremas, mas também
“misteriosas”, como a possível liberação de grandes quantidades de metano, gás
causador de efeito estufa mais nocivo para a atmosfera que o CO2,
advertem especialistas.
Em 19/09/12 a
Universidade de Columbia e a organização ambientalista Greenpeace organizaram
duas conferências em separado em Nova York para discutir as consequências do
nível historicamente baixo da superfície de gelo do Ártico, anunciado pelas
autoridades americanas.
As imagens de
satélite mostram que o gelo recuou até 3,4 milhões de quilômetros quadrados em
16 de setembro, o que parece ser o registro mais baixo do ano, segundo o Centro
Nacional de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês).
“Entre 1979 e 2012
tivemos uma redução de 13% por década na calota de gelo do Ártico, uma
aceleração com relação aos 6% registrados entre 1979 e 2000. Se a tendência
continuar, não haverá placa de gelo até o fim desta década”, disse Wieslaw
Maloswski, da escola de pós-graduação da Marinha americana, em alusão a estes
dados.
Malowski lembrou,
durante a conferência do Greenpeace, que em 1979 a superfície da calota polar
era de 8 milhões de quilômetros quadrados, com uma média de 6,8 milhões nos
anos seguintes, demonstrando uma queda de 50%.
Se estas cifras são
piores do que as estimativas, não foram surpresa para a comunidade científica,
informou outro especialista presente no encontro, James Hansen.
“Estamos diante de uma
emergência planetária”, afirmou Hansen, lembrando que o degelo do Ártico está
agravando as consequências do aquecimento global que a Terra vem registrando
por causa dos gases de efeito estufa produzidos pela ação do homem.
Entre estas
consequências estão condições climáticas extremas em diferentes partes do
mundo, como a seca e a onda de calor registrados este verão nos Estados Unidos
ou o lento, mas contínuo aumento do nível dos oceanos que ameaça as zonas
costeiras baixas.
Outro resultado deste
fenômeno é a possível liberação de grandes quantidades de metano – gás causador
de efeito estufa – preso na crosta terrestre debaixo do gelo eterno da
Groenlândia.
“As implicações são
enormes e também misteriosas”, concordou Bill McKibben, co-fundador da ONG 350.org,
em alusão a estes cenários.
Para Peter Schlosser,
especialista do Earth Institute da Universidade de Columbia, o impacto no
Ártico é difícil de estabelecer, pois no que diz respeito às mudanças
climáticas, esta região “possivelmente vai responder de forma mais rápida e
severa do que outras partes do planeta”.
“As mudanças do
aquecimento global induzido pelo ser humano são cada vez mais visíveis e se
esperam impactos maiores no futuro”, afirmou Schlosser.
– Recursos naturais,
rotas marítimas –
Por outro lado, o
degelo do Ártico é considerado por muitos uma grande oportunidade para explorar
recursos naturais e utilizar novas rotas marítimas abertas pela ausência de
placas de gelo durante o verão, que encurtarão as distâncias entre portos da
América do Norte, da Europa e da Ásia.
Segundo as
autoridades americanas, no Ártico há reservas petrolíferas da ordem de 90
bilhões de barris, além de gás e minerais, o que já motivou grandes grupos
energéticos como a britânico-holandesa Shell a fazer fortes investimentos na
região.
Para Kimi Naidoo,
diretor executivo da organização Greenpeace International, este interesse do
setor petroleiro e sua enorme influência sobre os governos é uma das razões da
falta de ações concretas para deter o degelo do Ártico.
“Por que nossos
governos não adotam ações? Porque foram capturados pelos mesmos interesses da
indústria energética”, afirmou.
“Tenho uma sensação
de ‘dejà vu’. O mesmo aconteceu com a Aids”, acrescentou, em alusão à lentidão
para reagir a esta epidemia e aos milhões de mortes que causou antes de ser
enfrentada corretamente pelos governos.
As rotas marítimas
são uma “tentação”, embora os riscos e os custos sejam muito importantes,
advertiu por sua vez Anne Siders, pesquisadora da Universidade de Columbia.
Entre estes problemas,
Siders enumerou as placas de gelo à deriva, a escassa infraestrutura em caso de
acidente, os custos de projeto dos barcos e os seguros especiais.
Siders também se
referiu às possibilidades que se abrem para a indústria pesqueira e a ameaça
que representa: “a pesca se moverá para o norte, o que significa que mais
peixes serão tirados do seu ecossistema”, disse.
Neste sentido,
Caroline Cannon, líder da comunidade Inupiat (nativos nômades) do Alasca
(noroeste dos EUA), que tem 9 filhos e 25 netos, lembrou que seu povo “depende”
da pesca e da caça no Oceano Ártico para sobreviver.
“Estamos vendo
mudanças terríveis. Dá medo pensar no nosso abastecimento de comida”, destacou,
em alusão ao futuro do ecossistema na região. (EcoDebate)
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