segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Via Imigrantes: motoristas relatam terror

Medo da morte e desespero marcam os sobreviventes do desastre entre os tuneis 10 e 11 da pista norte.
O terror tomou conta das pessoas que atravessavam a rodovia dos Imigrantes quando a enxurrada ameaçou arrastar carros, caminhões e ônibus para fora da estrada na noite de sexta-feira, em um desfiladeiro na Serra do Mar.
Medo da morte, impotência e desespero marcaram os sobreviventes do desastre entre os túneis 10 e 11 da pista norte. Uma carreta, que virou em “L”, segurou a avalanche de veículos e evitou uma tragédia maior.
“Você vê um tronco passando e parece brincadeira. Mas daí, de repente, perde o controle de tudo. Estava chovendo mais do que o normal, mas nunca imaginaria que fosse acontecer aquilo”, afirmou o engenheiro João Hohendorff, de 36 anos.
“Fiquei entre um caminhão e um ônibus. Poderia ser pior? Poderia, mas Deus não permitiu.”
Segundo o taxista Leonardo Bressan Neto, de 58 anos, foi tudo muito rápido. “A lateral do túnel estava despejando muita água e cascalho. Aí, do nada, desceu o morro. Tronco, lama, pedra, tudo. Foi só o tempo de pular uma mureta para me proteger”, disse. “Ainda voltei depois para socorrer outras pessoas”, contou ele à reportagem.
A carreta de uma cervejaria serviu de barragem e evitou que mais carros fossem carregados.
“Foi acumulando, encobrindo e formou um dique de barro, pedra e lama na frente do caminhão. Depois, as pessoas começaram a correr, desesperadas”, disse o dono de transportadora Francisco Vitor Beltramini, de 51, que voltava de Santos para Araçatuba.
“Quando parou de descer a enxurrada, o pessoal tentou liberar a saída, tirando paus e pedras do caminho. Veio todo mundo descendo, por 4 km, debaixo de chuva pesada. De mãe carregando bebê de colo até pessoas mais velhas, todas a pé”, disse o supervisor de manutenção Marco Túlio Marcelino, de 42 anos, que retornava de Santos para São Paulo, onde mora.
Muita água
Segundo o carreteiro Irineu Anderson Leme Vieira, de 47 anos, o volume de água chegou à altura do para-brisa de seu caminhão.
“A carroceria pulava com as pedras que passavam debaixo dela. Ouvi um pessoal gritando ‘tem gente presa lá’. Acho que era a mulher que morreu.”
Com a mulher e a filha de 11 anos, o encarregado Benedito Emílio de Andrade, de 68, também viveu momentos de terror. “A enxurrada quebrou o vidro do meu carro. Minha mulher e minha filha ficaram desesperadas. Depois que elas conseguiram sair, me salvei passando por cima dos outros carros até chegar à boca do túnel. Daí, voltei para tentar ajudar quem precisava.”
Já o taxista Antonio de Melo, de 66 anos contou que a água só não entrou em seu carro porque ele ficou por cima dos outros.
“Sou caminhoneiro também, já rodei em tudo quanto é lugar e nunca vi uma coisa dessas. Só estou de pé por Deus. Era para já estar em outro mundo.”
Ainda não há prazo para reabrir rodovia
Até ontem não havia prazo para liberação da pista norte da Rodovia dos Imigrantes, sentido capital, fechada nesta sexta por um deslizamento de terra no km 52. O acidente matou Lilian Aparecida de Souza, uma moradora de São Paulo de 43 anos, arrastou 23 carros e uma carreta e levou pânico a motoristas. Segundo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a pista só será liberada após vistoria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “É preciso verificar se houve danos em estruturas, pontes e túneis”, disse, após visitar o local. “Será aberto o mais rápido possível, mas com segurança.”
O diretor-superintendente da Ecovias, José Carlos Cassaniga, informou que a concessionária trabalha para liberar a pista ainda no fim de semana e que todas as vítimas serão indenizadas. Disse que a Ecovias não tem plano de contingência para o tráfego em dias de chuva forte na Imigrantes, só de monitoramento. Mas a empresa estuda criar bloqueios. “Em casos extremos, pode ser viável fazer comboio ou coisa assim.”
De acordo com ele, a Ecovias já sabia que chovia muito na serra desde as 15h de sexta, duas horas antes do acidente, mas a pista não foi fechada. Em 12h, caíram 183,4 milímetros de chuva na Serra do Mar - a média diária no mês é de 30 mm. Outra solução estudada é fazer uma escada para escoamento da água sobre o Túnel TA 10/11, levando a enxurrada diretamente ao rio que corre sob a ponte na entrada do túnel. “Uma das conversas é essa”, disse o secretário de Transportes, Saulo Abreu, lembrando que a Ecovias pode ser multada, caso seja constatada irregularidade. (jcnet)

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