Derretimento afeta quase todos os supermantos de gelo
Os mantos de gelo da
Antártida e da Groenlândia estão em derretimento acelerado e perderam 4
trilhões de toneladas nas últimas duas décadas. O valor representa 20% da água
que causou um aumento de 55 mm no nível dos mares nesse período. Os números vêm
de um mutirão científico que produziu um número de consenso, ao reunir dados
que antes pareciam discordantes.
Num estudo
descrevendo o trabalho na revista “Science”, os autores afirmam que o resultado
é compatível com o cenário de aquecimento global e que o problema deve se
agravar nas próximas décadas, apesar de ainda não ser possível dizer o quanto.
“Nossa estimativa é
duas vezes mais precisa do que a apresentada pelo IPCC [Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática] em seu ultimo relatório, graças a
inclusão de mais dados de satélite”, disse Andrew Shepherd, climatólogo da
Universidade de Leeds (Reino Unido) que liderou o estudo.
O trabalho todo
reuniu 47 cientistas de 26 laboratórios e cruzou informações coletadas por dez
satélites, usando quatro técnicas diferentes.
A situação mais preocupante,
segundo o estudo, é na Groenlândia, onde a redução do manto de gelo é dois
terços do total global. Na Antártida, a porção oriental do continente teve um
tênue aumento em seu manto, mas as perdas ocorridas no lado ocidental foram
muito maiores, fazendo o saldo ficar negativo.
A perda de massas
continentais de gelo ainda é um componente menor dentro dos fenômenos que
contribuem para o aumento no nível do mar. O fator que mais influencia a subida
da linha d’água é a expansão térmica: quando a água se aquece, ocupa maior
volume. Mas isso pode, e deve, mudar.
A Groenlândia perde
massa cinco vezes mais rápido hoje do que no início dos anos 1990, diz o
geocientista Erik Ivins, da NASA, co-líder do estudo.
“A Antártida parecia
estar mais ou menos constante, mas na última década aparentemente sofreu uma
aceleração de 50% na taxa de perda de gelo.”
Em entrevista
coletiva anteontem, porém, os autores do estudo se disseram incapazes de prever
quão rápido isso deve acontecer.
INCERTEZAS
Simulações de computador
que tentam prever o aumento total do nível do mar até 2100 em razão do
aquecimento global variam radicalmente. O último relatório do IPCC trabalha com
uma variação entre 20 cm e 60 cm, mas previsões recentes mais sofisticadas
indicam que o nível do mar pode subir de 75 cm a 1,85 metros neste século.
Os dados publicados
hoje na “Science” vão permitir a criação de modelos com menos incerteza.
Mesmo que a taxa de degelo na Antártida e na Groenlândia siga sem acelerar, há razão para preocupação.
Mesmo que a taxa de degelo na Antártida e na Groenlândia siga sem acelerar, há razão para preocupação.
“Com 11 mm de aumento
no nível de um oceano inteiro, a massa adicional de água que pode atingir um
litoral durante uma tempestade aumenta muito”, diz Ivens.
“E, quando há mais
massa numa onda no mar, a capacidade dessa onda de transportar energia muda. O processo
é bem mais complicado.” (EcoDebate)
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