Geólogos
que estudam Aquífero Alter do Chão se queixam da falta de interesse do governo e
até do Banco Mundial.
O
Brasil pouco sabe sobre a principal reserva estratégica de água do seu
território. Descoberto no fim dos anos 1950, o Aquífero Alter do Chão, na
Região Norte, ganhou notoriedade na década passada com a descoberta de que faz
parte de um sistema mais amplo, conhecido como Grande Amazônia.
Esse
sistema teria quatro vezes o volume do Aquífero Guarani - localizado nas
Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e considerado um dos maiores do mundo.
Pioneiros nos estudos, pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA)
reclamam da falta de investimentos do governo, que recentemente iniciou
trabalhos na região.
Ainda
preliminares, os dados mais recentes, considerados conservadores pelos geólogos
do Instituto de Geociências da UFPA, indicam que o chamado Sistema Aquífero
Grande Amazônia (Saga) teria potencial para comportar uma reserva de mais de
160 mil quilômetros cúbicos - bastante superior aos 37 mil existentes no
Aquífero Guarani.
Francisco
Matos, que coordena as pesquisas, diz que os números exorbitantes não têm sido
suficientes para atrair investimentos em estudos acadêmicos. Após buscar
financiamento até no Banco Mundial, a UFPA tenta criar um mestrado em Recurso
Hídricos para poder avançar.
"Apesar
de ficar 500 metros abaixo do solo, o aquífero pode até sofrer contaminação por
conta da falta de coleta de esgotos nas grandes cidades do Norte", diz
Matos. "Além disso, envolve segurança nacional. A Saga, mesmo tendo a
maior parte no Brasil, é transfronteiriça, e é preciso discutir sua exploração
com os países vizinhos."
Cautela.
A Agência Nacional de Água (ANA), que em 2011 iniciou estudos nas bacias
sedimentares amazônicas, é cautelosa sobre a questão. "Ainda estamos
estudando para dizer se é mesmo um sistema só, pois inicialmente se falava em
unidades distintas dos aquíferos Alter do Chão, Solimões e Içá", afirma o
gerente de águas subterrâneas da ANA, Fernando de Oliveira.
Segundo
ele, a agência analisa uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados com
ajuda de informações geológicas obtidas na Agência Nacional do Petróleo (ANP),
que perfurou centenas de poços petrolíferos na região. "O Brasil tem
demanda de todos os tipos e este estudo não era prioridade do governo",
admite Oliveira. "O estudo de águas subterrâneas é o 'primo mais novo',
ainda estamos começando."
Um
sistema de grande porte como esse exige cuidados. "Os aquíferos podem
abastecer uns aos outros e gerar água de muita qualidade, mas há algumas
precauções", diz Ruddi de Souza, diretor da empresa de serviços hídricos
Veolia Water Brasil. "A rocha que guarda a água é do tipo porosa,
absorvendo substâncias nocivas com facilidade. E, por estar interligado, a
contaminação pode se espalhar pelo sistema." (OESP)
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