sábado, 23 de março de 2013

Brasil conhece pouco sua principal reserva

Geólogos que estudam Aquífero Alter do Chão se queixam da falta de interesse do governo e até do Banco Mundial.
O Brasil pouco sabe sobre a principal reserva estratégica de água do seu território. Descoberto no fim dos anos 1950, o Aquífero Alter do Chão, na Região Norte, ganhou notoriedade na década passada com a descoberta de que faz parte de um sistema mais amplo, conhecido como Grande Amazônia.
Esse sistema teria quatro vezes o volume do Aquífero Guarani - localizado nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e considerado um dos maiores do mundo. Pioneiros nos estudos, pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) reclamam da falta de investimentos do governo, que recentemente iniciou trabalhos na região.
Ainda preliminares, os dados mais recentes, considerados conservadores pelos geólogos do Instituto de Geociências da UFPA, indicam que o chamado Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga) teria potencial para comportar uma reserva de mais de 160 mil quilômetros cúbicos - bastante superior aos 37 mil existentes no Aquífero Guarani.
Francisco Matos, que coordena as pesquisas, diz que os números exorbitantes não têm sido suficientes para atrair investimentos em estudos acadêmicos. Após buscar financiamento até no Banco Mundial, a UFPA tenta criar um mestrado em Recurso Hídricos para poder avançar.
"Apesar de ficar 500 metros abaixo do solo, o aquífero pode até sofrer contaminação por conta da falta de coleta de esgotos nas grandes cidades do Norte", diz Matos. "Além disso, envolve segurança nacional. A Saga, mesmo tendo a maior parte no Brasil, é transfronteiriça, e é preciso discutir sua exploração com os países vizinhos."
Cautela. A Agência Nacional de Água (ANA), que em 2011 iniciou estudos nas bacias sedimentares amazônicas, é cautelosa sobre a questão. "Ainda estamos estudando para dizer se é mesmo um sistema só, pois inicialmente se falava em unidades distintas dos aquíferos Alter do Chão, Solimões e Içá", afirma o gerente de águas subterrâneas da ANA, Fernando de Oliveira.
Segundo ele, a agência analisa uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados com ajuda de informações geológicas obtidas na Agência Nacional do Petróleo (ANP), que perfurou centenas de poços petrolíferos na região. "O Brasil tem demanda de todos os tipos e este estudo não era prioridade do governo", admite Oliveira. "O estudo de águas subterrâneas é o 'primo mais novo', ainda estamos começando."
Um sistema de grande porte como esse exige cuidados. "Os aquíferos podem abastecer uns aos outros e gerar água de muita qualidade, mas há algumas precauções", diz Ruddi de Souza, diretor da empresa de serviços hídricos Veolia Water Brasil. "A rocha que guarda a água é do tipo porosa, absorvendo substâncias nocivas com facilidade. E, por estar interligado, a contaminação pode se espalhar pelo sistema." (OESP)

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