Na contramão das atitudes sustentáveis: a observância
programada
Obsolescência
programada é um conceito que preconiza diminuir a vida útil de um produto para
“forçar” o consumo de versões mais recentes ou modernas, estimulando assim o
consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse termo é originário do
processo de “descartalização” criado a partir da década de 1930 por algumas
economias capitalistas europeias no intuito de movimentar a “máquina econômica”
com mais produção, uma vez que o estoque de produtos que se encontrava
totalmente parado nas fábricas e, principalmente, nos portos, devido à Grande
Depressão Econômica de 1929, fez travar o giro da economia.
O produto mais
ilustrativo dessa prática (e dessa época) foi a lâmpada. Nos anos 1920, uma
simples lâmpada durava mais de 2500 horas. Percebendo, nesse caso, que as
vendas seriam bem menores dadas a elevada durabilidade do produto, os
fabricantes rapidamente trataram de dar uma vida útil bem baixa a esse produto.
Pouco tempo depois, o ciclo de vida desse produto caia para menos de 1000
horas.
De acordo com o
documentário The Lightbulb Conspiracy (A Conspiração da Lâmpada) dirigido por
Cosima Dannoritzer, fabricantes de lâmpadas se reuniram para definir padrões de
produção que aumentariam o consumo. Empresas de variados segmentos produtivos
descartaram projetos cujo foco era a durabilidade; designers criaram (e ainda
criam; vide os celulares e os notebooks, por exemplo) produtos que ficariam
defasados em curto espaço de tempo e chips foram colocados em impressoras para
contar o número de impressões, diminuindo-as para pouco tempo. Aos poucos, além
das lâmpadas e impressoras outros produtos foram ganhando essa mesma tendência;
em especial, os eletroeletrônicos e suas múltiplas versões e a indústria de
confecção que “força” uma nova moda e tendência (incluindo estilos e,
principalmente, cores de roupas) a cada estação do ano.
Na verdade, a prática
da obsolescência programada (proposital curta vida útil) se configura numa
maquiavélica estratégia de mercado, tendo em vista que em alguns casos o
conserto, propositadamente, é mais caro, o que inevitavelmente faz com que os
consumidores não tenham alternativas, a não ser partir para uma nova compra.
Isso nada mais é do que uma manipulação das indústrias em prol do ato de
consumir. Em outras palavras, é andar na contramão das atitudes sustentáveis,
enaltecendo assim um profundo desrespeito das indústrias para com os
consumidores, com o planeta e com a natureza.
Na prática, alguns
segmentos produtivos que ainda adotam esse procedimento incorrem na
“necessidade” de forçar mais produção e, portanto, mais poluição, tanto no ato
da produção quanto no descarte. É a economia que não quer parar de crescer,
trazendo em seu rastro dilapidação ambiental. Essa prática nada recomendável
embute um desajuste sobre a atividade econômica que resvala sobremaneira na
capacidade do planeta em suportar produções em escalas cada vez mais
alucinantes. Nesse pormenor, é importante lembrar que a humanidade já está
consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso que haja
uma redução em até 40% nas emissões de gases de efeito estufa para que a
temperatura não suba mais do que 2º C.
O forte apelo ao
consumo se concentra basicamente nas mãos de 20% da humanidade que “engole” 80%
de tudo o que é produzido no planeta, demandando recursos naturais que a
natureza não é capaz de prover. Lamentavelmente, a obsolescência programada tem
contribuído muito para isso. (EcoDebate)
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