quarta-feira, 6 de março de 2013

Metrópoles mais inteligentes e humanas

As metrópoles podem ser criadas do zero ou devem ser construídas através dos séculos? No caso de São Paulo, Londres, Berlim, Nova York e Tóquio, as atuais conexões entre cidadãos, desenvolvimento e oportunidades são fruto de um processo de centenas de anos.
Enquanto no Brasil ainda estamos em busca de soluções para problemas de trânsito, enchentes e apagões, segurança, saúde e educação ineficientes, o conceito de cidade inteligente ou smart city – que usa a tecnologia para melhorar a qualidade de vida dos habitantes já vem sendo aplicado na Europa, Estados Unidos e Ásia, movimentando um mercado bilionário.
São comunidades que lançam mão do que há de mais moderno em recursos tecnológicos e arquitetônicos como resposta aos desafios impostos pela alta concentração populacional, utilizando rede de sensores, análise de dados, plataformas de comunicação e serviços via web para proporcionar uma vida sustentável aos seus habitantes.
Sustentabilidade está no topo das discussões contemporâneas sobre os centros urbanos. Como organismos vivos, as cidades precisam ser repensadas com o auxílio da tecnologia, preservando a essência da multiplicidade e diversidade humana.
Publicação na revista nº 41, do Conselho Regional de Engenharia - Crea-BA, que pode ser acessada aqui na íntegra: asp-br.secure-zone.net/v2/inde../5430/4706&lng=pt_br
Reinvenção
De acordo com dados do Instituto Futura, 73% dos cidadãos de Salvador gastam em média quatro horas por dia no trânsito. Com 2,7 milhões de habitantes circulando por suas ruas estreitas, cortadas por ladeiras cheias de histórias, a primeira capital do Brasil e terceira maior cidade do País precisa de planejamento estratégico voltado para atender às necessidades das pessoas que a habitam. Esta é a opinião do arquiteto e urbanista Carlos Leite, autor do livro Cidades Sustentáveis,
Cidades Inteligentes.
“Se temos instrumentos tradicionais de planejamento estratégico e de smart city para fazer uma Salvador mais interessante para os cidadãos, isso é excelente, mas o principal é o planejamento voltado para as pessoas. Por isso, acho que as novas tecnologias de gestão inteligente das cidades são bem-vindas. Serviços públicos agendados por smartphones, transparência, menos corrupção, portanto, mais eficiência é excelente. Mas temos que priorizar uma cidade mais humana e não pensar em investir na tecnologia pela tecnologia”.
De acordo com o urbanista, é preciso atentar para as inteligências metropolitanas para conseguir vencer as desigualdades a partir de exemplos positivos de revitalização. “Precisamos atuar conjuntamente com as cidades que souberam fazer o dever de casa e estão se reinventando. Salvador precisa implementar e concretizar grandes ações focadas em planejamento estratégico”.
As questões ambientais e de mobilidade, na opinião de Leite, são do âmbito do território metropolitano, onde vivem 3,5 milhões de pessoas “e não apenas de Lauro de Freitas, Salvador ou Itaparica, como provam as experiências de São Paulo, Barcelona, Nova York e Bogotá”.
Leite aponta ainda a ampliação da diversidade social como chave para resolver graves questões da cidade. “O problema não é a favela, é essa absurda falta de sociodiversidade territorial, que encanta quando chegamos à Macedônia, Buenos Aires, Ipanema, Copacabana, Higienópolis. Pessoas de diferentes classes, diferentes gêneros e cores dividindo o mesmo lugar, isso é o que favorece uma cidade dinâmica, propensa à inovação e à qualidade de vida."
Infraestrutura e metrópole projetada
Entre os especialistas no assunto, uma questão é unânime: para planejar com inteligência, é preciso pensar uma cidade sustentável para as pessoas, e essa foi a principal ideia debatida na abertura da 3ª edição do Agenda Bahia, no auditório da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), que debateu a infraestrutura da metrópole baiana.
Estudiosos do Brasil e da Espanha, baseados em exemplos de outras capitais, falaram sobre espaço público, planejamento urbano e alternativas sustentáveis para o trânsito de Salvador.
Nesse contexto, as soluções para a mobilidade urbana são as principais preocupações de governos e organizações, sempre visando ao deslocamento das pessoas e bens em um período ideal de tempo e de maneira confortável. A urgência por soluções de longo prazo para problemas históricos aumenta conforme se aproximam os megaeventos esportivos que o Brasil irá sediar.
Um dos responsáveis pela reconstrução de Barcelona para as Olimpíadas de 1992, o engenheiro espanhol Manuel Herce Valejjo criticou a falta de passeio para pedestres em Salvador e alertou que a construção de viadutos e de estacionamentos não vai resolver os problemas da capital. Por possuir apartamento na cidade, Valejjo diz conhecer todas as suas peculiaridades e dificuldades.
“É preciso dar atenção ao pedestre e melhorar o transporte público”, observa. Para Ana Fernandes, professora da Ufba e doutora pela Universidade Paris XII, há várias possibilidades de projetos para a área urbana. “Precisamos diminuir o espaço dos carros. É um investimento fácil, basta uma decisão política, capacidade técnica e respeito pela população. Uma cidade que não acolhe seu povo não pode ser considerada inteligente”.
Metrópole projetada - Na Coreia do Sul, a cidade global do futuro – Songdo – está sendo construída a 65 quilômetros de Seul, em uma ilha artificial de 607 hectares. Com um investimento de R$ 80 bilhões, a metrópole, que deve ficar pronta em 2015, terá o que há de mais moderno em tecnologia e noções de urbanismo, tudo planejado para facilitar a vida do cidadão.
Com 80 mil apartamentos residenciais, 4,6 km de escritórios e 40% de sua área, ou seja, 41 hectares destinados a parques e praças, a ideia é criar um novo centro financeiro da Ásia, uma mistura de Paris, Nova York e Dubai.
Além dos altos investimentos - em metrô, bondes elétricos e até táxis aquáticos elétricos – as ruas desta metrópole projetada terão sensores no asfalto para ajudar a entender os deslocamentos em tempo real e até diminuir a iluminação das vias quando ninguém estiver passando por elas, de modo a economizar energia. Songdo será também uma cidade wireless, totalmente conectada.
Exemplos
Responsável por notáveis intervenções em Bogotá, capital da Colômbia, o ex--prefeito Enrique Peñalosa mudou a maneira como a cidade tratava seus cidadãos. Para isso restringiu o uso do automóvel e instituiu um sistema de transporte público rápido e seguro, que transporta hoje 1,2 milhão de pessoas por dia.
Entre outras melhorias, foram ampliadas e reconstruídas as calçadas, grandes espaços públicos foram criados e construídos mais de 340 quilômetros de ciclovias exclusivas, que se estendem desde as áreas de favela até o centro da cidade, o modelo tornou-se referência em transporte sustentável. Outro item implantado em Bogotá é a restrição do uso de veículos somada à ampliação e qualificação do sistema de ônibus Transmilênio.
O Rio de Janeiro é uma das poucas cidades brasileiras a colocar em prática alguns conceitos de smart city. Em março deste ano, o The New York Times publicou um artigo com o título Rio é a nova cidade inteligente, sobre o Centro de Operações Rio, projeto que integra 30 órgãos que monitoram o cotidiano da cidade por 24 horas. Com estrutura da IBM, o centro capta a imagem de 560 câmeras e auxilia na solução imediata de problemas e na tomada de decisões em momentos de crise.
A Cisco também anunciou investimentos no Rio, da ordem de R$ 1 bilhão até 2016, o que inclui a construção de um centro de inovação no Centro do Rio, programado para 2013. O foco das intervenções será em soluções de sistemas de telecomunicações, comunicação entre sensores, redes cabeadas e sem fio, data centers e aplicações inteligentes de análises de informações, principalmente em infraestrutura urbana, entretenimento e esportes.
Gestão eficiente do tempo
Alguns aplicativos mobile estão no centro de importantes mudanças na difusão de informações em tempo real, possibilitando ao usuário gerir melhor o seu tempo. Este é caso do Waze, uma ferramenta de mapeamento dinâmico, geolocalização e informações de trânsito totalmente baseada em crowdsourcing, um modelo que utiliza a inteligência através de conhecimentos coletivos espalhados pela internet.
Outra ferramenta que tem sido usada para trocar informações em tempo real sobre o trânsito nas grandes metrópoles é o Twitter. Essas informações fazem parte do consciente coletivo e os dados podem, e devem, ser usados na rede de sensores para prover serviços básicos para a população, seja através de terminais e telas espalhadas pela cidade, seja através dos smartphones, companheiros das pessoas durante o dia.
Economia criativa
Economia criativa e ferramentas numa idade feita por e para pessoas inteligentes. Este foi o tema da 2ª edição da conferência TEDXPelourinho, que ocorreu em setembro de 2012, em Salvador.
Um dos 14 palestrantes, o publicitário Gabriel Medeiros afirmou que as pessoas devem se apossar do espaço público e tornar a cidade um local mais agradável para viver. “Cidade inteligente é o lugar onde as pessoas podem ser protagonistas”.
TED é uma organização mundial sem fins lucrativos dedicada ao Ideas Worth Spreading – da tradução literal do inglês, ideias que merecem ser espalhadas. O evento começou em 1984, na Califórnia, originalmente influenciado pelo Vale do Silício, como uma conferência reunindo especialistas em tecnologia, entretenimento e design. (techdende.jux)

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