Quase 900 milhões de pessoas vão dormir com fome. Relatório
aponta risco de uma catástrofe
Mapa da fome 2012
“Temos um problema
muito importante. Quase 900 milhões de pessoas vão dormir com fome, o que é um
desastre para a humanidade, para a ONU e para os Objetivos do Milênio. Se as
coisas não mudarem, teremos uma catástrofe alimentar. Temos que intervir,
agora, para resolver problemas que serão inevitáveis dentro de 50 anos”. O
economista Gonzalo Fanjul foi o encarregado, neste meio dia, de dar voz para “O
desafio da fome”, um relatório elaborado por Mãos Unidas, com a colaboração da
AECID e que foi apresentado na Universidade Pontifícia Comillas.
A reportagem é de
Jésus Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 24-04-2013. A tradução é
do Cepat.
Entre as propostas
deste relatório, Mãos Unidas advoga por uma “mudança de sistema econômico”, que
elimine o consumo desenfreado e que incorpore decisões políticas que freiem a
destruição ambiental. “Urge enfrentar o problema orientando os sistemas de
produção de alimentos, as regras econômicas e as decisões políticas para
garantir o direito à alimentação, acima de qualquer interesse”, destaca o
relatório, que sustenta que “ao menos uma em cada seis pessoas não tem
alimentos suficientes para ser saudável e levar uma vida ativa. A fome e a
desnutrição são consideradas, em nível mundial, o principal risco para a saúde,
mais do que a AIDS, a malária e a tuberculose juntas”.
“Jogamos 30% dos
alimentos produzidos, afetando tanto o meio ambiente como o seu preço”, uma
situação que é absolutamente inapresentável, sustenta o relatório, que
acrescenta que três quartas partes dos que sofrem a fome vivem em áreas rurais,
principalmente na Ásia e África, expostos a secas e inundações.
Por isso, Mãos Unidas
propõe aplicar reformas agrárias e outros mecanismos que garantam aos pobres o
acesso a terra, para que possam cultivar seus alimentos e gerar excedentes de
maneira sustentável.
Entre suas
recomendações, inclui a de vigiar as novas gerações de biocombustíveis, de
maneira que não afetem a disponibilidade de terra para os pequenos camponeses,
além de limitar a possibilidade de que investidores privados e governos
estrangeiros adquiram grandes extensões de terras cultiváveis nos países em
vias de desenvolvimento.
Segundo o relatório
anual da FAO, “O Estado de insegurança alimentar no mundo - 2012”, atualmente
há 870 milhões de pessoas com fome.
Péssimas perspectivas
No mundo, há uma
população de 7 bilhões de pessoas, sendo que na metade do século poderá
aumentar em outros 2 bilhões. No ano 2025, 1,8 bilhão de pessoas viverão em
países ou regiões com escassez absoluta de água, e dois terços da população
poderão estar vivendo em condições de carência, prenuncia.
Também lembra que,
segundo a Agência Internacional de Energia, os biocombustíveis poderão proporcionar,
em 2050, 27% do total de combustível para o transporte (em comparação aos 2%
atual) e reduzir notavelmente o uso de diesel, querosene e combustível de
avião.
O ato foi aberto pela
presidente de Mãos Unidas, Soledad Suárez, que defendeu que “somos nós os que
temos que mudar o mundo, desafiando a fome, como aquelas mulheres fizeram há 54
anos”.
A apresentação serviu
como motivação para que alguns especialistas dessem sua opinião a respeito do
atual estado das coisas. Estas foram algumas das reflexões mais relevantes:
Imaculada Cubillo,
membro da campanha Direito à Alimentação, Cáritas, opina que “o documento me
parece muito completo e expõe com toda clareza os conceitos básicos para
entender a magnitude da situação da fome, num contexto de mudança climática. É
imprescindível sua compreensão para adotar a atitude solidária e a visão
política de sua solução. Os exemplos ilustram bem esta necessidade”.
Jerônimo Aguado,
membro da Via Campesina – Plataforma Rural, considera que o relatório resulta
“muito bem elaborado e um bom diagnóstico da questão da alimentação e do
problema da fome em escala global”.
Lourdes Benavides, da
campanha CRECE, Intermón Oxfam, destaca que “entre todos e todas, devemos
conseguir mudanças urgentes em políticas públicas, em práticas de empresas, em
nosso modo de consumir, para que todos nós, pessoas que habitamos o planeta,
voltemos a estar no centro de um mundo mais justo, mais equitativo e
sustentável. E Mãos Unidas, com seu relatório, contribui para esse fim”.
Marco Gordillo, coordenador
do Departamento de Campanhas das Mãos Unidas, que é o responsável da elaboração
deste relatório e para quem o documento “insiste que para garantir o direito à
alimentação, é necessário reorientar nossos sistemas de produção agrícola,
recuperando sua função social, ambiental e econômica, priorizando o acesso aos
alimentos para todos, especialmente para os mais pobres e vulneráveis”.
Além disso, através
do Skype, houve a participação de Henry Morales, Movimento Tzuk Kim-Pop (Guatemala),
que lembrou como em seu país a maioria da produção alimentar (80%) está nas
mãos de apenas 2% da população, num país onde a desnutrição infantil é um
gravíssimo e secular problema. (EcoDebate)
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