Moro na bela cidade
de Juazeiro da Bahia. Estou a uns quinhentos metros do rio São Francisco, pouco
mais de mil metros da ponte que liga Bahia ao Pernambuco. Sempre achei essa
paisagem um dos mais belos cartões postais do Brasil.
Juazeiro é uma das
cidades históricas do vale do São Francisco. Aqui estava o porto que ligava o
Nordeste ao Sul e Sudeste do país, nos tempos que o velho rio era o caminho que
integrava a nação. Daí o nome de rio da integração nacional.
A cidade, porém,
tinha seus esgotos correndo a céu aberto no centro até pouco mais de vinte anos
atrás. Um serviço de saneamento melhorou o centro da cidade. Porém, com o
desenvolvimento da agricultura irrigada, com a consequente chegada de milhares
de trabalhadores nas periferias da cidade, imensas favelas sem coleta de esgoto
surgiram nos bairros. O bairro chamado João Paulo II abriga mais de 30 mil
pessoas, portanto uma cidade, mergulhado na lama, no lixo e povoado de
mosquitos.
Na luta contra a
Transposição do São Francisco os movimentos sociais sempre reivindicaram
primeiramente a revitalização do São Francisco. A resposta do governo, dentro
do PAC, foi investir em saneamento. Assim, muitos desses bairros arrastam anos
implementando tubulações nas periferias, cada vez mais reviradas, porém, com
obras incompletas o que só piora o quadro de insalubridade. Grande parte da
cidade está com os esgotos correndo no meio fio, crianças pisando na lama,
escolas ilhadas por línguas contaminadas, mosquitos invadindo as casas,
disseminando um ambiente de insalubridade e indignação por parte da população.
O governo está investindo em mais de 190 cidades ao longo do vale, mas não
sabemos se essas obras chegarão ao fim e com qual qualidade.
Para piorar, a atual
administração, em que pese preocupar-se em trazer grandes empresas para a
cidade, sequer faz a varredura das ruas nos bairros periféricos, coleta o lixo
apenas a cada três dias nesses lugares, muitas vezes simplesmente o caminhão da
empresa terceirizada sequer passa, ficando o lixo exposto aos animais que o
espalha pelas ruas. A rua onde moro, com o nome poético de Patativa do Assaré,
não é varrida há sete meses, desde que passou a eleição.
O beabá da
administração pública de uma cidade é o saneamento, nos cinco pontos que hoje
nossa lei do saneamento ambiental compreende: abastecimento de água, coleta e
tratamento de esgoto, manejo dos resíduos sólidos (lixo), drenagem das águas
pluviais e controle de vetores. Pela nova legislação cada cidade deveria ter
seu plano de manejo dos resíduos sólidos. Parece que será letra morta. O Plano
Nacional de Saneamento prevê um país saneado até 2030 a um custo de R$ 415
bilhões.
Diante do que está
exposto na lei, estamos longe de morar numa cidade dignamente administrada. As
consequências recaem sobre nosso bem estar e a saúde da população,
particularmente as crianças e os idosos.
As gerações terão que
lutar muito nesse país para que nossas cidades sejam ambientes dignos para
vivermos com qualidade de vida. (EcoDebate)
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