Projeções para a população mundial 2000-2300: o futuro está aberto
Pesquisadores do
International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA), na Áustria,
realizaram projeções de longo prazo (2000 a 2300) da população mundial para os
cenários do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). As projeções por
idade e sexo levaram em consideração um amplo conjunto de hipóteses de
fecundidade e três cenários de mortalidade com base em expectativa de vida
máxima de 90, 100 e 110 anos.
Em artigo publicado
na Demographic Research, em 30 de maio de 2013, os demógrafos Stuart Basten,
Wolfgang Lutz e Sergei Scherbov apresentam uma síntese do relatório. Vamos
apresentar aqui o cenário de expectativa de vida de 90 anos (Eo = 90), segundo
as variações na Taxa de Fecundidade Total (TFT).
A população mundial
em 2000 era de 6,05 bilhões de habitantes e a TFT era de 2,53 filhos por
mulher. Caso a taxa de fecundidade se mantenha por volta de 2,5 filhos, a população
mundial chegaria a 15,1 bilhões em 2100, 33,5 bilhões em 2200 e 71,0 bilhões de
habitantes em 2300.
Caso a TFT caia para
2 filhos por mulher, a população mundial chegaria a 10,3 bilhões em 2100, 9,9
bilhões em 2200 e 9,0 bilhões de habitantes em 2300. Uma queda da taxa de
fecundidade para 1,5 filhos por mulher faria a população mundial chegar a 6,8
bilhões em 2100, 2,3 bilhões em 2200 e 720 milhões de habitantes em 2300.
Ou seja, uma taxa de
fecundidade em torno de 2 filhos por mulher faria com que a população mundial
se estabilizasse, no longo prazo, em torno de 9 bilhões de habitantes. Meio
filho (1/2) para cima, isto é, 2,5 filhos por mulher (equivalente à TFT do ano
2000) faria a população mundial saltar para 71 bilhões de habitantes em 2300 e
meio filho para baixo, isto é, TFT de 1,5 filhos por mulher, faria a população
mundial decrescer para apenas 720 milhões de habitantes em 2300.
Portanto, uma taxa de
fecundidade com meio filho acima do nível de reposição levaria a um grande
crescimento da população mundial (algumas pessoas diriam “explosão
populacional”) e meio filho abaixo da TFT de reposição levaria a um grande
decrescimento da população (algumas pessoas diriam “implosão populacional”).
Evidentemente, estes resultados teriam um grande impacto positivo ou negativo
sobre o meio ambiente e o aquecimento global.
Mas o artigo da
Demographic Research mostra outros resultados ainda mais impactantes das
projeções de longo prazo. Segundo a Divisão de População da ONU a população da
África Subsariana era de 630 milhões de habitantes em 2000, com uma TFT de 5,4
filhos por mulher. Numa hipótese alta, o artigo de Basten, Lutz Scherbov (2013)
projeta o resultado de uma fecundidade em torno de 5 filhos por mulher e um
esperança de vida de 100 anos, o que resultaria em uma população na África
Subsariana de 12,3 bilhões em 2100 e de 355 bilhões em 2200.
No outro extremo, uma
queda da fecundidade mundial para 1,25 filhos por mulher resultaria em um
montante da população mundial de 160 milhões de habitantes em 2300 (menos do
que a população brasileira atual). Na hipótese de TFT de 1,0 filho por mulher,
a população mundial chegaria a apenas 30 milhões de habitantes (menos do que o
Estado de São Paulo). E na hipótese de TFT de 0,75 filhos por mulher a
população mundial chegaria próximo de zero, podendo praticamente desaparecer em
300 anos.
Em síntese, a
população mundial em 2300 pode variar de 71 bilhões (na hipótese de TFT de 2,5
filhos por mulher) para 720 milhões de habitantes (na hipótese de TFT de 1,5
filhos por mulher) ou praticamente chegar a zero e desaparecer (na hipótese de
TFT de 0,75 filhos por mulher). Pequenas variações nas taxas de fecundidade
provocam grandes alterações no volume da população no longo prazo, quer se denomine
o fenômeno da explosão ou implosão demográfica ou qualquer outro nome.
O fato é que o futuro
demográfico está aberto e vai depender das decisões tomadas e efetivadas nas
próximas décadas e das inter-relações entre população, desenvolvimento e meio ambiente.
(EcoDebate)
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