Diferenciais de educação e rendimento segundo cor/raça no
Brasil em 2010
O censo demográfico
2010 mostra que o total das pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas na
semana de referência tinha um rendimento médio mensal de R$ 1.344,70,
representando 2,6 vezes o salário mínimo que estava definido em R$ 510,00,
conforme mostra a tabela 1.
Mas este valor varia
com o nível de instrução. O rendimento das pessoas com nível de instrução
classificados como “sem instrução e fundamental incompleto” foi de R$ 752,60,
para as pessoas com “Fundamental completo e médio incompleto” o rendimento foi
de R$ 932,60, para as pessoas com “médio completo e superior incompleto” o
rendimento foi de 1.272,50 e para as pessoas com “superior completo o
rendimento foi de R$ 3.665,20. Na média as pessoas com educação universitária
ganhavam quase 5 vezes aquelas com menos de 8 anos de estudo (sem instrução e
fundamental incompleto).
Quanto se considera a
variável cor/raça nota-se que o total das pessoas de 10 anos e mais ocupadas na
semana de referência que se autodeclaram amarelas tinham um rendimento médio
mensal de R$ 1.850,10, enquanto as pessoas autodeclaradas brancas tinham
rendimento de R$ 1.705,80, as pessoas pardas R$ 954,90, as pessoas
autodeclaradas pretas tinham um rendimento de R$ 923,30 e os autodeclarados
indígenas tinham rendimento de R$ 861,00.
As pessoas
classificadas como amarelas tinham os maiores rendimentos médios mensais. Os
brancos ganhavam 7,8% menos que os amarelos, os pardos ganhavam 48,4% menos, os
pretos 50,1 menos e os indígenas 53,5% que as pessoas autodeclaradas amarelas.
Os rendimentos sobem e os diferenciais por cor/raça diminuem um pouco com o
aumento do nível educacional. Isto mostra que a educação é uma das formas de
reduzir os diferenciais sociais de cor/raça no Brasil. Mas mesmo entre as
pessoas com ensino superior completo há diferenças de rendimento, sugerindo que
haja diferenças entre os cursos obtidos e entre outras variáveis que são
transversais aos dois aspectos que estamos analisando.
A tabela 2 mostra que
existem também diferenciais segundo o nível de instrução. A população amarela
tinha 28,7% de pessoas no nível “Sem instrução e fundamental incompleto”, 15,8%
no nível “Fundamental completo e médio incompleto”, 32,6% no nível “Médio
completo e superior incompleto” e 22,4% no “Superior completo”. Entre a
população parda, por exemplo, os mesmos percentuais foram de 43,2%, 19,1%,
30,1% e 7,3%, respectivamente. As desigualdades no acesso aos níveis mais altos
de educação contribuem para o aumento das desigualdades de renda.
Tabela 2
Mas como ficariam os
rendimentos na hipótese que os diversos grupos de cor/raça tivessem os mesmos
níveis educacionais?
Para responder a esta
questão, fizemos um exercício empírico supondo que todos os grupos tivessem a
mesma distribuição percentual dos níveis educacionais da população
autodeclarada amarela. Ou seja, se os demais grupos alcançassem até 22,4% de
pessoas com nível superior, 32,6% com “médio completo e superior incompleto”,
etc.
Neste caso as
diferenças de rendimento diminuiriam para 3,3% entre a população branca e
amarela, 30,7% entre pardos e amarelos, 33% entre pretos e amarelos e 33,4%
entre indígenas e amarelos. Ou seja, o diferencial entre brancos e amarelos
ficaria muito pequeno e entre os outros grupos e os amarelos cairia da casa de
50% para a casa de 30%.
Evidentemente existem
outras desigualdades sociais que afetam os diferenciais de educação e renda.
Por exemplo, o rendimento das famílias monoparentais (núcleo simples) é, em
geral, menor do que o rendimento das famílias com núcleo duplo (casais casados
ou unidos). A população parda e preta tem taxas de nupcialidade menores do que
as populações amarela e branca, o que afeta o nível educacional dos filhos e o
nível de rendimento da família. Diferenças na estrutura etária e na razão de
dependência demográfica também afetam os níveis de renda, assim como a
escolaridade dos pais, o tipo de família e a situação de domicílio.
Estes rápidos
exemplos mostram como é complexa a questão racial e suas relações com as
questões sociais no Brasil. No caso das desigualdades sociais e raciais o que
existe é um “ciclo de desvantagens acumulativas”, como afirma o sociólogo
Nelson do Valle.
Para o país avançar
de forma justa e equitativa, em termos sociais, são necessárias medidas em
várias frentes, possibilitando acelerar o processo de mobilidade social
ascendente, garantindo a igualdade de oportunidades para todos,
independentemente do sexo, da cor, da origem social, da religião, etc. O Brasil
precisa superar sua herança negativa e abrir oportunidades positivas para o
futuro. (ecodebate)
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